domingo, 31 de maio de 2009

Walt Whitman - «Um dos símbolos da América»


Canto de mim Mesmo

«Quem vem lá, ansioso, rude, místico, nu?
Como retiro forças da carne que me alimenta?

Em todo o caso, o que é um homem? Quem sou eu? Quem és tu?

Tudo o que designo como meu chamarás teu,
Ou então perdereis tempo a escutar-me.
Não lamento o que o mundo lamenta,
Que os meses são vazios e a terra apenas lodaçal e imundície.

O queixume e a humilhação juntam-se aos remédios para os inválidos, o conformismo vai até à quarta geração,

Eu uso o chapéu como me apetece, dentro ou fora de casa.

Porque é que devia rezar? E venerar e ser cerimonioso?

Tendo examinado os estratos, analisando-os ao pormenor, consultando os mestres, calculando com rigor,
Não encontro gordura mais agradável do que a que tenho agarrada aos meus próprios ossos.

Em toda a gente vejo-me a mim mesmo, ninguém é mais do que eu, nem um grão de cereal menos,
E o bem e o mal que digo de mim digo deles.

Sei que sou sólido e são,
Os objectos do universo convergem eternamente para mim,
Tudo foi escrito para mim e devo decifrar o seu sentido.
Sei que sou imortal,
Sei que esta órbita não pode ser traçada pelo compasso de um carpinteiro,

Sei que não me apagarei como o fogo do archote que uma criança leva pela noite.
Sei que sou majestoso,
Não atormento o meu espírito para quem se defenda ou explique,
Sei que as leis elementares nunca se desculpam,
(No fim de contas, reconheço que o meu orgulho não é mais alto do que o nível onde edifico a minha casa).
Existo como sou, e isso basta,
Se mais ninguém no mundo o sabe fico satisfeito,
E se todos e cada um o sabem fico satisfeito.

Há um mundo que o sabe e é sem dúvida o mais vasto para mim, e esse sou eu próprio,
E se o reconheço hoje dentro de dez mil ou dez milhões de anos,
Alegremente o posso aceitar agora, ou alegremente posso esperar.

O apoio do meu pé é entalhado em granito,
Rio-me daquilo que chamas dissolução,

E conheço a amplitude do tempo».

Walt Withman, Canto de Mim Mesmo, in absurdo.wordpress.com)

Músicas ... Joseph Haydn


Joseph Haydn foi um dos três grandes compositores do chamado, «classicismo veniense» (1), e faz hoje justamente, duzentos anos que morreu este que em 1785, um jornal londrino considerava, «o Shakespeare da Música» (2).

Nasceu em Rohrau, na Áustria, filho de uma família de camponeses, teve o primeiro contacto com a música, primeiro em Hainburg e depois na Catedral de Santo Estevão, através da acção do director de coro, que era seu primo. A família aristocrática húngara Esterházy de Galantha, apoiou-o, em especial o princípe Nicolau, com o qual pôde desenvolver as suas criações. A obra de Haydn é talvez a última grande expressão artística do Antigo Regime, como apoio a um artista, na área da música.

As suas criações musicais envolveram diferentes géneros musicais vocais e instrumentais e no fim da vida preparou o caminh opara as obras sinfónicas do romantismo. este movimento não lhe reconheceu grande valor, pois Haydn, tendo vivido uma vida pacata e sem grendes mistérios, e construindo a sua música com alguma iformalidade e aspectos de surpresa não encantava os febris românticos.

No seu tempo foi um compositor célebre, apreciado por Napoleão, com uma obra que circulou amplamente pela obra e que teve um dos seus pontos mais altos nos concertos públicos de Londres nas temporadas de 1791-92 e 1794-95. Como grandes produções deixou a sua genialidade expressa em obras como As sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz, a Criação e as Estações ou ainda as sinfonias O Urso ou a Surpresa e o Relógio.
Abaixo um exemplo da sua música, Cello Suite Nº 1 Major, (Parte 1)

(1) , (2) - Jornal Público, edição de 31 de Maio de 2009
(Imagem, in lastfm.com)

sábado, 30 de maio de 2009

Serralves ... Dez Anos de Arte Contemporânea


Aqui fica o link para o programa das actividades de uma das maiores formas de ilustrar a expressão que a arte e a cultura contemporâneas podem revelar, por estes dias. Com actividades gratuitas para toda a família e de graça. Na Invicta, neste fim-se-semana, com mostra de arte, expressão circense e música.

Para os que estão distantes e quiserem conhecer melhor este espaço único, composto por uma Fundação, um Parque vegetal e um Museu de Arte Contemporânea, podem aceder aqui.


Biodiversidade ... Parque de Serralves


Na cidade do Porto existe no seu centro, nas imediações da Boavista um Parque onde em diferentes espaços podemos conviver directamente com a Natureza. Criado a partir de um espaço que existia desde 1923, como património de uma família portuense, este parque foi evoluindo em diferentes secções que integraram a quinta do Lordelo, o jardim Mata-sete e o Jardim Jacques Gréber. Abriu ao público em 1987, após uma cuidada recuperação, sendo ainda objecto de uma profunda valorização que seria concluída em 2006. Como elementos integrantes do Parque temos a casa da Fundação desenhada por Marques da Silva, arquitectura desenhada no espírito da Art Déco e o Museu de Arte Contemporânea desenhada pelo arquitecto Siza Vieira.

Um dos locais mais fascinantes no País para desfrutarmos a biodiversidade é sem dúvida Serralves. Fascinante e impressionante pelo modo como ali podemos apreciar e desfrutar as tonalidades dos diferentes dias em diversas estações do ano. Serralves é um excelente exemplo de integração das transformações de um determinado tempo, séculos XIX e XX, assumindo a vertente cultural e natural de um parque rico do ponto de vista da biodiversidade.

Em Serralves podemos observar ao lado de campos agrícolas, o celeiro e o lagar, assim como uma diversidade de plantas. Dos roseirais às aromáticas, das grandes sequóias a espécies como os cedros-do-Atlas, dos carvalhos e castanheiros ás plantas rasteiras, das bétulas aos ulmeiros, das camélias à urze.
Observamos assim um rico património autóctone ao lado de uma vegetação exótica de grande beleza.

Para lá desta beleza, Serralves é um espaço de fruição de espaços de arte, de observação e contemplação de inúmeras espécies vegetais, de recriação de um lago romântico, ou de visita a uma casa de chá, entre heras e sons de natureza. Desde o Praterre Central à Álea de Liquidambares, o deslumbramento é permanente. Como projecto de biodiversidade e de cultura, no centro de uma cidade, afastada da capital, é um recurso pedagógico e de felicidade que vale a pena conhecer, em pormenor, e com paixão.

(Imagem, in jardineiro-amador.blogspot.com)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Os vendedores do Paraíso...

«Do alto das suas cátedras, os modernos doutrinadores proclamam que o ensino se deve basear nos «saberes» trazidos pelos meninos, que a sala de aula deve ser um recreio e que a escola mais não é que a reprodução da estrutura de classes. (...) Foi esta retórica que, ao minimizar o valor do conhecimento, o legado da civilização ocidental e o papel do professor, conduziu ao caos pedagógico em que vivemos.» (1)

Fomos educados a contemplar e admirar os mestres. Ainda existem mestres? Com certeza. Divulgadores do conhecimento, da ciência e animadores do pensamento. O professor Nuno Crato é sem dúvida um deles por muitos aspectos. Pela sua acção como divulgador da ciência, uma ciência do quotidiano, mas também pelo seu discurso reflexivo, pela sua sabedoria matemática e pela sua humildade. E sim porque tem ideias, não de revoluções que prometem o paraíso, mas só e apenas a simplicidade, aquela que os burocratas desprezam.

O estado da educação em Portugal é uma tragédia nacional e é, embora poucos o pensem uma questão de cidadania, e por isso alvo de legítima intervenção pública. Podemos sair deste embaraço com simplicidade e vontade de melhorar com crédito e honestidade intelectual os resultados da aprendizagem dos alunos. Os conselhos do Professor Nuno Crato, a quem os souber ouvir (2):

« Precisamos de três ou quatro objectivos muito simples que devem ser aplicados, sem os quais tudo o resto, grandes objectivos certamente falharão:
1º - Seriedade na avaliação dos alunos;
2º - Construção de exames fiáveis e comparáveis de ano para ano;
3º - Avaliação externa credível;
4º - Construção de estatísticas feitas por entidades independentes ao Ministério da Educação;
5º - Reforçar e incentivar os conteúdos e não dar uma atenção tão exclusiva aos processos;
6º - Estabelecimento de standards do que os alunos em cada ano, em cada disciplina devem saber;
7º - Avaliação de professores de acordo com uma avaliação externa credível;
8º - Valorizar os professores;
9º - Reforçar a capacidade científica dos professores, apoiando mais a Didáctica e acabando com uma pseudo sociologia da Educação;
10º - Propor um exame de entrada na carreira de professor;»

São grandes ideias? Sim, mas sobretudo pela sua simplicidade. Revelam que o uso da avaliação como argumento político é desonesto e pouco rentável para a aprendizagem dos alunos. Tal como o é fazer dos programas das disciplinas cartilhas ideológicas sobre como cada um deve ensinar. Enquanto o Ministério da Educação não souber traçar metas e avaliar com credibilidade os resultados, ou enquanto a autonomia for tão real como o é a escola como espaço tranquilo de respeito e trabalho, os sucessos virtuais dos paraísos oferecidos, serão frutos imaginários de uma elite afastada da sociedade.

O vídeo em que o professor Nuno Crato defende as suas ideias merece ser ouvido. As ideias que por lá se apresentam certamente poderão trazer outros sorrisos ao sistema escolar português. É possível privilegiar o essencial e contribuir para a construção de uma sociedade dinâmica.
Não o transferimos porque ele foi apresentado no decurso de uma acção de campanha política. De qualquer modo, para os interessados fica aqui o link

(1) - Maria Filomena Mónica,
«Mudam-se os Tempos, não se Mudam as Vontades»;

«Cavaco Silva e a Educação»,
in Público, 17.11.2003 e Público, 11.09.2007
(2) - Transcrição adaptada a partir da audição do vídeo citado acima
(Imagem, Projecto Sorrisos de Bombaim
[alfabetização das crianças mais desfavorecidas]


Dia Mundial das Crianças Desaparecidas

«So tired that I couldn't even sleep (...)
Life's mystery seems so faded»(1)


Em 1983 o presidente dos Estados Unidos da América, Ronald Reagen propôs um Dia em que se chamaria a atenção de todos para o drama das crianças desaparecidas. A Ideia foi sugerida pelo caso Etan Patz.

Um caso idêntico a tantos outros. Uma criança de seis anos sai de casa para uma curta caminhada até à paragem do autocarro escolar. Nunca mais foi visto ou encontrado. O caso assumiu uma dimensão internacional. É o primeiro caso em que foram usados todos os meios possíveis para difundir a mensagem «O que fizeste ao meu rapazinho?». Pergunta pungente a uma das pistas do caso, José Ramos, preso numa penitenciária da Pensilvânia.

Todos os anos, nesta data o pai da criança escreve a mesma pergunta e obtém a mesma desoladora resposta, «não sei». Resposta difícil, infinitamente pavorosa. Volta a escrever na data de nascimento de Etan, mas ninguém se comove. Mas o pai insiste.


Vive na mesma casa, usa o mesmo número de telefone, na esperança de que o seu rapazinho se lembre. Passaram trinta anos e eles ainda acreditam. Não lhes resta outra esperança. De que o seu desaparecimento foi só isso e que ele ainda estará presente nas suas vidas.

A América descobriu na década de setenta que em Nova Iorque, num bairro onde uma criança todos os dias apanhava o autocarro escolar podia desaparecer num instante em que apenas virava à esquina da sua casa. Foi o primeiro caso de tantos que se seguiriam. Este acontecimento está retratado no livro After Etan, The Missing Child Case That Held America Captive.

O mundo compreendeu que as crianças, também elas estavam à mercê da violência, impedidas de serem muitas vezes elas próprias. É de facto um estranho mundo. Um mundo onde as respostas e as soluções que pareciam seguras num outro tempo estão
hoje gastas.

Um dia para pensar e relembrar todos os que também em Portugal têm desaparecido, em misteriosos caminhos, tantas vezes sem regresso. E pensar também nos pais destas crianças, naufragadas entre um cansaço insuportável de um sorriso apagado e um futuro
que parece já não mais existir.


(1) Parte do poema dos Soul Ayslum, Runaway Train
[o cansaço e o desencanto])

(Imagem, in parentdish.com)

domingo, 24 de maio de 2009

As Eleições Europeias (Porreiro Pá!)


« As elites europeias ainda percepcionam a Europa como o centro do mundo, mas o velho continente é, cada vez mais, um subúrbio esquecido da política mundial. (1)

Há já muitas décadas que, pelo menos nos Países civilizados, a possibilidade de participação dos cidadãos numa comunidade política é um direito e uma garantia das Democracias, sim, mas sobretudo dos Estados de Direito. É esse o nosso pressuposto.

A campanha eleitoral para eleger os deputados ao Parlamento Europeu já começou. Todos percebem que acima do inevitável voto, que muitos milhões irão dispensar, nada real se propõe. Como influencia o voto num ou noutro partido a sua própria acção? Ninguém sabe.

A Europa política não existe. Os seus dirigentes que já a governam quase como um Directório, não discutem o seu papel no Mundo. Pensam ainda na Europa que influencia o Mundo. A Europa não compreende o Mundo onde vive. E não tem respostas. Afasta os cidadãos, não os deixando participar na discussão de tratados importantes. A Europa só discute pormenores. E é naturalmente dominada pelos maiores orçamentos, os que os países mais importantes colocam aos economicamente menos representativos. Há uma real procura de coesão na Europa?

Não, não há. E não há porque não são discutidos os aspectos que poderiam reforçar o equilíbrio regional dentro de cada País. Para os pequenos países o importante não é o Parlamento Europeu, é a Comissão Europeia e o Conselho Europeu. Todos sabem que neste último a representatividade dos países está divida pelo poder dos mais fortes face aos mais fracos. E a Comissão?

Soubemos há dias, nesses momentos únicos de de debate franco e esclarecedora informação que, são os debates quinzenais no Parlamento que, o actual governo irá apoiar a actual Comissão, na figura do sr. Durão Barroso. É um assunto importante.

Ele revela na substância, aquilo que já por outras vezes aqui confirmámos nos ideais da III República, a nossa ideologia, o porreirismo. É um sinal deste qualquer coisa que se faz, sem princípios, sem critérios. É uma marca desta construção social em que os dirigentes não o são por representatividade nacional, são a criação de uma clientela partidária distante da sociedade.

O actual presidente da Comissão Europeia não compreendeu os sinais do momento que a História lhe enviou e insistiu nessa pedagogia da saloiice que foi acompanhar, por acompanhar os mais poderosos. Participou com coragem nesse momento grandioso que foi a invasão do Iraque.

Hoje, num contexto histórico diferente o Partido Socialista insiste no seu nome. Em relação à crise económica actual não lhe conhecemos qualquer ideia transformadora, mas o partido socialista insiste. Nada se propôs para limitar a ganância dos gestores, mas não é importante, o partido socialista insiste no seu nome. Os casos da Enron e da Parmalat não avivaram qualquer cuidado superior na regulamentação. O Partido socialista insiste no nosso compatriota. Qual a fundamentação?

O sr. Durão Barroso é português.«Nasceu aqui, entre o bacalhau e a sardinha assada» (2) e por isso deve ser apoiado pelo actual governo. Se não fosse filho da pátria de Camões o discurso político oficial faria dele um incompetente que não soube traçar caminhos perante o fundamentalismo económico de Wall-Street. Assim não.

É a confirmação que todos esperávamos. O actual primeiro-ministro é um tipo porreiro. Compreende as nuances que faz um homem não entender os momentos da História. Afinal o Presidente da Comissão Europeia é um injustiçado na sua tarefa em negar as ambições nacioanis dos grandes Países e em querer uma União onde os cidadãos são sujeitos a Leis que são convidados a votar.

Devemos estar gratos por esta lucidez de Portugal só acessível a quem sabe ser generoso para com as dificuldades alheias. No fundo só para quem é ternamente porreiro. Ainda bem. O futuro há-de-nos agradecer.

(1) - Henrique Raposo, A Caipirinha de Aron, Bertrand Editora
(2) Vasco Pulido Valente, Público, 19/04/2009
(Imagem, in acores.net)

Parabéns Mr Dylan

Biblioteca Digital Mundial

A UNESCO colocou online uma plataforma digital com importantes recursos de diferentes continentes. Trata-se da Biblioteca Digital Mundial, onde gratuitamente se podem consultar diferentes tipos de documentos, desde manuscritos, imagens, livros, gravuras, gravações áudio e vídeo pertencentes a bibliotecas e instituições dos mais diversos países do Planeta.
É um importante recurso agora acessível a todos. Para dar uma vista de olhos, clica aqui.

sábado, 23 de maio de 2009

Uma Aventura em Olhalvo... EB1 de Olhalvo

Estávamos no Verão de 2008 com um calor de rachar. Nós andávamos muito felizes porque o nosso amigo Jorge vinha-nos visitar. Passado três anos, era a primeira vez que ele passava uns dias em casa do seu primo João Eduardo e isso deixava-nos super entusiasmados.

Quando ele chegou demos pulos de alegria e, para comemorar a sua chegada, fomos comer um bolo à pastelaria Colmeia. Depois, todos juntos, fomos mostrar-lhe Olhalvo.

Durante o passeio, passámos por uma fonte muito bonita e, como estávamos cansados e com sede, decidimos aí beber alguma água.

Quando nos debruçámos sobre a água da fonte vimos uma luz intensa de tom azulado que brilhava através dela. Tocámos com as mãos na água da fonte e vimos formar-se a figura de um velho de longas barbas e olhar terno que nos olhava fixamente.

Ficámos perplexos a olhar uns para os outros e perguntámos-lhe quem ele era. O velho de longas barbas respondeu-nos que era o guardião da fonte e que estava ali para nos mostrar como era Olhalvo há muitos anos atrás e propôs-nos uma viagem no tempo.

Nem olhámos para trás! Demos todos as mãos e mergulhámos com o guardião na água da fonte.

Sentimos a cabeça a rodopiar durante alguns segundos e quando abrimos os olhos estávamos num lugar muito estranho.

Não se via nem ouvia quem quer que fosse. Só silêncio, muito silêncio e, por cima das nossas cabeças, havia algo que parecia um vidro que ficava entre nós e o céu. Só demos conta que essa superfície era água quando vimos um homem cego que veio lavar os olhos na fonte onde nós estávamos. Mais surpreendente foi quando o ouvimos a gritar que já conseguia ver, que estava curado da sua cegueira.

O guardião, que continuava junto a nós, disse então que esse era o segredo da água daquela fonte e que esse fenómeno estava na origem do nome da nossa aldeia. De mãos dadas ainda, demos por nós em frente à fonte olhando uns para os outros.

Tudo parecia um sonho, mas, como continuávamos com muita sede, bebemos água avidamente e continuámos o nosso passeio.

O resto desse Verão foi muito animado, mas esta aventura ficou para sempre na nossa memória.



sexta-feira, 22 de maio de 2009

Dia Mundial da Biodiversidade


A vinte e dois de Maio relembramos de uma outra forma, O Planeta Terra e todos os elementos vivos que ele integra. A biodiversidade é um elemento característico da biosfera e traz consigo um património biológico de grande variedade, das plantas aos microrganismos, dos peixes aos mamíferos.

Estes elementos vivos, estão muitas vezes muito próximos de nós, resistindo em jardins e me avenidas onde a poluição é uma ameaça à sua sobrevivência, mas acima de tudo a nós próprios. Estão próximos de nós em mercados onde as frutas, legumes, ervas aromáticas nos mostram a cor, o aroma, a textura de universos vivos. É uma biodiversidade limitada, mas importante para quem reside na cidade.

Existem outros campos, onde o património biológico pode ser admirado, mas sobretudo mais protegido. Naturalmente os jardins das cidades, mas sobretudo os jardins botânicos e os parques naturais onde esse património nos é revelado. Há no País locais de grande beleza onde este encontro com a natureza se dá de uma forma tranquila.

A biodiversidade é algo muito importante para o Planeta e para todos os seres vivos. O desaparecimento de espécies animais e vegetais não é só muito grave pelo património biológico que se perde, mas porque indicia um tipo de civilização que ameaçará a própria sobrevivência do homem. Também em Portugal a ameaça de extinção de várias espécies é preocupante. Alguns destes casos são por exemplo, o miosótis-das-praias (Serra de Sintra), o priôlo (Ilha de São Miguel), o trevo-de-quatro-folhas (Régua), o escalo do Arade (Rio Arade), o lince Ibérico ou a cabra montês. Além destes um número importante de aves e peixes estão ameaçados.

O Dia Mundial da Biodiversidade procura convocar todos para o risco da extinção de diferentes formas de vida. Durante as próximas semanas deixaremos aqui algumas palavras e imagens sobre alguns dos santuários naturais que o País tem e que, devem ser apreciados na promoção da biodiversidade.

(Imagem, Na Serra de Montejunto)


João Bénard da Costa


Nada como um amigo para falar de nós. É o que aqui deixamos. Um texto de Miguel esteves Cardoso sobre a figura fascinante e contraditória como todos nós somos, João Bénard
. (1)



«O João Bénard é um menino. É um menino que, a cada momento da vida, acabou de descobrir uma coisa. É sempre uma coisa maravilhosa que tem de abraçar com muita força mas depois largá-la para poder mostrá-la aos amigos e partilhá-la com toda a gente.

Porque se não a partilhar, se não a cantar, se não se destruir a elogiá-la de maneira a ser tão irresistível como ele - até chegar a confundir-se com ele ao ponto de não sabermos qual amamos mais, se ele ou as coisas que ele nos ensinou a amar -, se não puder parti-la aos pedaços para poder dar um bocado a cada um, na esperança que todos a queiram reconstruir depois, ele já não é capaz de amar tanto aquela coisa, porque acredita que a coisa é grande e boa de mais para uma só pessoa e sente-se indigno de gozá-la sozinho. É assim o João Bénard.

O João Bénard é um amigo. É um amigo que, a cada momento da vida, faz sempre como se tivesse acabado de apaixonar-se por nós. Não lhe interessavam nada as coisas que mudaram; as asneiras que fizemos; a decadência em que entrámos; a miséria que subjaz às nossas opiniões ou o grau de petrificação das nossas almas. Para ele, somos sempre os mesmos. É um leal. Está sempre connosco como se fôssemos tão frescos como ele. Puxa-nos pela manga da camisa; protege-nos da tempestade; desata a rir no meio das encrencas; arranja tabaco clandestino; deixa-nos subir para os ombros para vermos melhor; para saltar para o outro lado; mostra-nos fotografias nunca vistas, de actrizes lindas, escondidas debaixo da camisola - e faz tudo descaradamente; não se importa de ser apanhado; não tem vergonha nenhuma; é um prazer estar com ele; parece que todo o universo está em causa. É assim o João Bénard.

O João Bénard é uma alma. É uma alma que, a cada momento da vida, desde que nasceu, sempre fez pouco do corpo e das coisinhas de que o corpo precisa. Tinha um corpo transparente, com a alma a ver-se lá dentro. Ou então era a alma que projectava o corpo no ecrã da pele. É por isso que todos nós o conhecemos como conhece Deus.

Deus, apresento-Te João Bénard. João Bénard, apresento-te Deus


(1) Miguel Esteves Cardoso, «O João Bénard»,
in Público, Sexta-feira, 22 de Maio de 2009

(imagem, in assirio.com)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Os Pobres Países...


Interrogai-vos certamente de que Países poderão ser esses que aqui decidimos falar um pouco. Pensais por certo que serão alguns onde por estes dias a crise económica e social mais se faz sentir. Desculpai, mas nem que seja por breves momentos, utilizemos um pouco a imaginação.

Os pobres países de que vos falamos, são episódios momentâneos da História. Coisa irrelevante.
1º - A Grã-Bretanha. Neste triste País o speaker da Câmara dos Comuns, decidiu-se demitir porque alguns deputados decidiram usar dinheiros públicos em benefício próprio. Desvio para aplicação em fundos imobiliários? Não, apenas para arranjar os malmequeres e os lírios dos seus jardins. Uma insanidade no Reino de Sua Majestade.

2º - Bélgica. Neste plano País a norte, o primeiro-ministro na sequência de alegadas acusações de pressões do poder político sobre o poder judicial, na figura de hipotéticos contactos, sugeriu a demissão de todo o governo.

Nestes tristes exemplos, onde a ética republicana não entra, existirá outra, paupérrima que faz cidadãos passarem por serem representados por políticos que dão estes exemplos próprios de povos que não sabem honrar a sua História e o seu povo.

Aqui não temos esses contratempos. Somos um povo pobre, mas feliz. Temos um Parlamento à altura. Representamos as nossas causas em circuitos integrados de memória RAM onde a presunção está acima de todas as conveniências. Comparem o Parlamento em Londres e o de Lisboa. Vejam como a nossa superioridade tecnológica esvazia as palavras dos pobres súbditos de Sua Majestade. A causa do nosso sucesso? Simples.
Fomos alimentados a farinha Maizena. É o que falta a estes europeus, agarrados a uma ética carente de pragmática: Maizena, muita Maizena. Aprendam com quem sabe.

O Senhor Cinema



Existem pessoas que deveriam deixar com todos nós, os que temos o privilégio de viver, todas as suas histórias, enredos de uma imaginação da palavra onde a memória e a criatividade souberam explicar a magia do encontro com a nossa representação. Justamente o cinema.

O cinema foi para alguns de nós, uma porta de entrada num mundo novo. Filhos de um País cinzento, na tradição salazarista do só ler, escrever e contar, a escrita do cinema oferecia enredo a cada um de nós. Desde os tempos em que no País do senhor Silva nada de especial acontecia, quando todo o Mundo se agitava com ideias novas, rupturas de pensamentos diversos, aqui permanecia a censura e uma inocência escondida, desconhecedora do mundo.

O cinema representou tantos sonhos, numa energia de deslumbramento para ultrapassar fronteiras velhas. O cinema trouxe-nos a beleza e a descoberta de sorrisos sem fim. Quantos enumerar? Mas trouxe-nos a perspectiva de em cada mundo privado compartilhar emoções, de compreender o encontro entre novos e velhos, pobres e ricos, sonhadores e conformistas. E trouxe-nos a confirmação de como nos tínhamos afastado do mundo.

Formado em Ciências Históricas e Filosóficas, foi Director da Cinemateca Nacional e sobretudo soube falar de cinema, dos gestos, do olhar, do heroísmo e da nobreza e da solidão em que todos se confrontam com a vida. Este homem cuja paixão maior foi o Cinema, apenas necessita que lhe digamos isso.
A sua Biografia é o próprio Cinema. Escolher um filme que lhe esteja mais perto é difícil. Poucos como Cinema Paraíso falarão tanto do que é a paixão pelo Cinema. Aqui o deixamos numa imagem evocativa a João Benard da Costa, que hoje deixou de nos falar dessa matéria-prima da imagem e dos sonhos.

(Imagem, in Jardinsdevento.blogspot.com)

terça-feira, 19 de maio de 2009

O presente e a esperança no futuro ...

Olhando à volta parece que as dificuldades se avolumam. A sociedade, isto é as pessoas parecem estar sob um conjunto alargado de dificuldades. Demasiadas esperanças, desde o princípio do regime democrático em 1974, parecem ter conduzido a realidades amargas.

O quotidiano da democracia é comemorado em cerimónias solenes sem brilho, onde o bolor formal, a circunstância exprime o vazio de concretização em tantos milhares de portugueses.

As garantias de liberdade de expressão parecem condicionadas por um uso do poder que apenas se justifica perante si próprio. Os escândalos financeiros, próprios de Países onde a distribuição da riqueza não é feita com sobriedade, nem está sujeita a um plano de valores sociais, revela-nos o mais baixo campo de valores, de quem os deveria ter.

Do abandono escolar, ao analfabetismo funcional, da ineficácia de uma justiça mais preocupada com o processo do que com a causa, a uma educação globalmente vocacionada para estar desvinculada dos valores e do conhecimento, de um sistema de saúde limitado na sua oferta de serviços, ao fundamentalismo dos valores individuais em organizações sem funcionalidade, o abuso do poder é apenas o mais
chocante.

Sem caminho traçado, com governantes saídos de um casting medíocre assistimos a um horizonte frágil. O palavreado usado revelador de uma ausência de princípios e de uma desconsideração pela inteligência dos cidadãos revela um poder dominado pela impunidade perante aquilo que degrada a própria democracia.

É importante continuar a ter ideias e a defende-las, acreditando que a voz de cada um faz falta para protestar, criticar, sugerir caminhos alternativos. E reconhecer a diferença, mesmo que abandonada numa voz solitária, e resgatar uma vontade de mudar construtivamente.
No fundo, tentar dar corpo aos versos de Fernando Pessoa:
«O sonho é ver as formas invisíveis/Da distância imprecisa, e, com sensíveis/movimentos da esperança e da vontade,/ Buscar na linha fria do horizonte/ A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte - os beijos merecidos da Verdade.» (1)

(1) Fernando Pessoa, «Horizonte», in Mensagem
(Imagem, in Mafalda, A Contestária)

No Jardim Havia ... Jardim de Infância de Ribafria



Era uma vez um jardim, uma árvore e um lago.

No lago havia patos. No jardim estava um gato.

O pato tinha medo do gato.

O gato estava ao sol. Bem escondido estava o rato...

À espreita do rato estava o gato.

E o pato?

O pato queria nadar...

Mas com medo do gato ficou quieto no lago.

O rato queria fugir mas tinha medo do gato.

Chega então um pardalito, salta para aqui, salta para ali...

O pato que tudo viu bateu as asas, fez quá quá.

Foge o pardalito, foge o rato, fica o gato sem comer.

Zanga-se o gato com o pato. E o pato?

O pato ficou a nadar...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

As Eleições Europeias (Livros...)


«O cidadão europeu, de que tanto se fala, não existe. A soberania europeia é uma ficção. A democracia nas instituições europeias é um artifício sem consequência.» (1)

Faltam vinte dias para as eleições europeias. Muitos milhões dos seus cidadãos faltarão a este compromisso. Como explicar esta ausência?

A verdade é que a Europa, é hoje, pouco significativa para o Europeu. Se em Portugal o voto de cada um, pouco pode fazer pelo governo do País, pois os programas não são propostas a cumprir, nem contratos eleitorais de representação de um Poder, então na Europa, todos sabem que a fonte que o legitima mora em outras instâncias. São as chancelarias dos países mais importantes, com tudo o que isso significa.

Nascida dos escombros da 2ª Guerra Mundial, a União Europeia, evolução da ideia de Comunidade Económica Europeia nasceu essencialmente como um projecto económico, um vasto mercado de trocas comerciais e de liberdade de circulação. Nesse aspecto foi um sucesso. Mas a Europa tem conseguido ser mais do que um imenso supermercado? Existe uma dimensão social e política na União Europeia, no sentido da representação dada pelos cidadãos?

Como projecto político a União Europeia tem afastado os cidadãos. A União Europeia não é um exemplo de participação democrática das instituições, pois é governada por uma elite, com uma débil representação nacional dos seus cidadãos e dominada por um federalismo apressado acima da História e das Nações. O sucessivo adiamento na votação de tratados, a falta de ideias para as dificuldades nacionais, a manutenção de uma pax económica insensível às dificuldades e conjunturas nacionais e regionais reveladas na presente crise revela-nos como está distante da Europa dos cidadãos.

Para melhor se compreender o que a Europa pode ser é necessário fazer o que os muitos dirigentes europeus se recusam a fazer, conhecer a sua História, saber o que ela foi no passado. É essencial conhecer a sua geografia, os seus limites e perceber que a Europa nasceu longe de si própria, no Mediterrâneo. Entre o sal e o azeite, entre a Lei romana e a explosão do saber grego, entre as rotas árabes e as cidades italianas, num mundo de aromas e de sentidos.

Para os que tiverem curiosidade de saber mais sobre o que significa hoje ser europeu, e que limites culturais tem a Europa, uma sugestão de leitura. Foi e é um dos mestres da Historiografia medieval, Jacques Le Goff, num livro acessível e informativo sobre este continente onde a História fez viver tantas ideias, tantos sonhos de novos mundos de saber e onde também tantos fundamentalismos se concretizaram.
As propostas quando as ouvimos poderão ser melhor discutidas se conhecermos o que foi a História da Europa.

(1) Álvaro Barreto, in Jornal Público, 10 de Mio de 2009)

Semana da Leitura - 1 a 5 de Junho

O que realmente importa ... EB 1 de Aldeia Gavinha


Estava uma manhã muito agradável, a Primavera tinha chegado. Na aldeia das Amoras todos se preparavam para começar mais um dia de escola.

Os amigos do Marco iam apressados quando repararam que no terreno ao lado do recreio da escola estava a instalar-se uma família de ciganos.

O Diogo comentou:

- Olhem! Ciganos! Será que vão aqui ficar muito tempo?

- Espero que não! Que gente! - disse o Duda.

Ao chegarem à escola, entraram na sala e sentada numa cadeira sozinha, estava uma menina de tranças pretas e roupa estranha.

A professora Beatriz apresentou a nova aluna.

- Esta é a vossa nova amiga, chama-se Isaura e tem oito anos.

No decorrer da aula a Isaura não disse uma palavra e sentia-se incomodada com os olhares curiosos dos colegas.

Na hora do intervalo a Isaura foi a última a sair da sala e foi logo sentar-se no caminho mais escondido do recreio. A Anita passou por ali a correr, reparou nela e perguntou-lhe:

- Queres bricar comigo?

- Sim pode ser - disse a Isaura com muita vergonha - e podes tratar-me por Zazá.

A Anita estava muito curiosa com a sua nova amiga e antes de irem para a brincadeira perguntou-lhe: - Onde é que tu vives?

- Eu estou acampada no terreno aqui ao lado da escola! - disse a Zazá com naturalidade.

A Anita ficou muito admirada com a resposta da sua nova amiga. E intrigada perguntou:

- Zazá tu disseste acampada? Mas tu não tens casa? A Zazá sorrindo respondeu:

- Sim, o acampamento é a minha casa. Sabes Anita nós os ciganos nunca estamos muito tempo no mesmo sítio, porque vivemos do que vendemos nas feiras de terra em terra. Por isso, para andar com a casa atrás o melhor é viver numa tenda porque é mais prático. Desmonta-se e vai connosco para todo o lado.

A Anita ficou satisfeita com a paciência da sua amiga e pediu-lhe para ela lhe contar mais coisas sobre as suas tradições.

Entretanto surge o Marco, o Diogo e o Duda com ar de troça e começam a dizer:

- Sai daqui cigana! Nós não te queremos aqui!

A Zazá triste baixou a cabeça e começou a chorar. Sem pensar mais fugiu dali para fora.

A Anita preocupada com a sua nova amiga correu atrás dela e chamou a professora. A professora chegou e perguntou o que é que se tinha passado. A Anita contou tudo e a professora muito desapontada chamou os rapazes para conversar. Os meninos ficaram muito arrependidos e envergonhados e apressaram-se a pedir desculpas à Zazá.

Com a ajuda da Anita e da professora Beatriz, a relação entre Zazá e os rapazes melhorou e todos passaram a brincar juntos e a ser amigos. O Marco e os amigos compreenderam que o importante está no interior de cada um.

(Imagem, in cha-de-letras.blogspot.com)

sábado, 16 de maio de 2009

Leituras... O Gato de Uppsala


Cristina Carvalho escreveu um pequeno, mas maravilhoso livro para pequenos leitores e também para crescidos.
É uma história de uma ternura entre um rapaz e uma rapariga. É uma história sobre o crescimento e as esperanças que todos transportamos. É uma história intemporal que nos dá um retrato encantado da natureza, dos bosques da Escandinávia, do modo de vida e de um gato.
É ainda a história da concretização de um sonho, o seu individual de conhecer um famoso barco, O Vasa, mas acima de tudo o sonho de ser feliz. Um Grande livro
.


«Todos os acontecimentos aqui descritos se passaram há muitíssimos anos mas tudo podia ter acontecido nos dias de hoje, pois Elvis e Agnetta continuam a existir embora com outros corpos, outros rostos, outas roupas, outros hábitos.
Os dias e as noites sucedem-se sempre iguais; as tão esperadas Primaveras surgem com os mesmos sinais - os dias a crescer um pouco, as folhas a aparecer nas bétulas, nas faias e nos pinheiros, flores espontâneas na terra e os pássaros que nascem e renascem e abundam, são milhares, milhões, milhares de milhões. Muitos sobrevivem e muitos mais morrem logo que nascem. Não chegam a conhecer nada de nada. E depois vem o Verão e o ar está muito quente; a lua cheia, quando ilumina num charco de claridade a superfície celeste, é mesmo uma enorme lua cheia. (...)

O mês de Abril deste ano de 1628 estava a acabar. Em breve seria Maio, o tempo ia melhorar, o sol espreitaria de vez em quando rompendo a eterna camada de nuvens brancas do antigo Inverno. A Primavera estava aí! A Festa da Primavera estava aí e todo o povo de Uppsala pronto para a receber! Elvis, o valente caçador de ursos, ia enfim conhecer tudo aquilo que a sua namorada já lhe tinha contado tão ardente e orgulhosamente - a Festa da Primavera. É que lá em Kiruna, onde ele tinha nascido, era diferente o ritual de festejar o aparecimento da Primavera. (...)

Na noite do dia 10 de Agosto de 1628 havia uma lua cheia muito alta e muito branca. Olhando para o céu podia ver-se de vez em quando algumas nuvens esfarrapadas e translúcidas, que iam correndo empurradas pela aragem e que depressa desapareciam. Era uma noite muito clara. Qualquer pessoa podia caminhar à vontade, sem qualquer receio, pois conseguia perceber-se e ver a vida como se fosse de dia. Era uma noite maravilhosa! (...)
Sim, é isso mesmo, reflectiu Elvis. Os nossos sentimentos e os nossos pensamentos têm de voar, voar... têm de ser livres e têm de encontrar o sítio certo para se dar, para se mostrar, para se oferecer

in, Cristina Carvalho, O Gato de Uppsala, Sextante Editora

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Na Bela Vista ...



«Os habitantes da Bela Vista não estão sequestrados pela pobreza e pelo desemprego, mas sim por um grupo de delinquentes (...)» (1)


Portugal. Dois mil e nove. Cidade de Setúbal. Bairro da Bela Vista. As imagens como testemunhas. Delinquência, sim. Assaltos, roubos, medo, carros incendiados, violência. Só isso?
Os modernaços têm uma evidente, sobrenatural dificuldade em intervir na compreensão. Vejamos.
Em primeiro lugar a arquitectura. Bairros sem história, para onde se empurraram os mais desfavorecidos. Bairros fechados à luz exterior, em avenidas sujas e insensíveis ao progresso.
Em segundo lugar as pessoas. Bairros que fabricam guetos, onde a integração entre gerações é residual e onde o desespero criou a sua Lei e os seus servidores.
Em terceiro lugar, os jovens. Gerações sucessivas de insucesso, de falta de oportunidades, de falta de apoio desde o pré-escolar conduzem à marginalidade.
Em quarto lugar a família. Cada um é a sua própria família, num mundo de trabalho regulado pela sobrevivência e numa sociedade de valores conformistas.
At last, but not least, o Estado. Isto é os governos e as suas opções para a sociedade. Bairros sociais, emergentes há trinta anos, foram a aplicação das ideias igualitárias. Abdicando do apoio individual merecido ao pagamento de uma renda, em função das necessidades, construíram-se espaços oferecidos à desordem social.
Desordem oferecida por uma escola pública abandonada dos valores civilizacionais do esforço e do empenho e de uma justiça encolhida perante si própria.
E no fim de tudo o jovem, agarrado ao seu leme, aos valores seguros e fatais do não consigo, não sei , não compreendo, nunca conseguirei, como demonstração da nossa precaridade formativa.
Nos últimos dias, a paz parece ter regressado. Não a que transformará a vida das pessoas, mas sim a tranquila segurança oferecida nas ruas pela polícia e nos gabinetes pelos psicólogos. Nenhuma delas responde ao desafio da esperança e da dignidade dos que ali moram.
O primeiro-ministro está descansado. Deu mostras disso no parlamento. Basta-nos compreender o possível para segurarmos o nosso conforto instalado nos portões do palácio.

(1) Primeiro-Ministro, em declarações no debate mensal de 12 de Maio de 2009 no Parlamento

A Magia da Amizade - EB 1 da Cortegana



Numa selva tropical do continente africano viviam quatro animais: o tigre, o leão, a zebra e a girafa. Eles moravam numa grande cabana feita de canas e folhas, onde havia um lago rodeado de arbustos e árvores. Nos dias de muito calor os quatro amigos iam refrescar-se nas águas do lago.

Num dia de muito sol, os quatro amigos decidiram ir banhar-se nas águas do lago. Ao lá chegarem, ficaram surpreendidos ao verem dois meninos, a Mafalda e o Tiago que tinham resolvido ir fotografar os animais e as belas paisagens africanas.

Os quatro animais ficaram muito admirados ao verem dois jovens sozinhos na selva, pensaram que estavam perdidos e por isso resolveram ir ter com eles, perguntando-lhes:

- Estão perdidos, precisam de ajuda?

- Não. Mas gostaríamos que nos mostrassem os mais belos recantos da vossa selva.

Os quatro amigos responderam:

- Ok! Vamos a isso.

Durante essa tarde, o Tiago e a Mafalda ficaram deslumbrados com o que viram, realmente a selva africana é magnífica!

O passeio foi bastante agradável e divertido, aprenderam todos muito uns com os outros.

Ficaram amigos para sempre.

Pauzinho de perlimpimpim a história chegou ao fim!