terça-feira, 30 de junho de 2009

A Coreografia do Encanto e do Desencontro


Morreu uma mulher que embalava o corpo com uma fantasia única. Foi a grande criadora da dança moderna e fez da expressão da vida uma pintura de encanto. Actuou muitas vezes em Portugal e deu a quem teve o privilégio de ver os seus espectáculos uma oferta de encantamento.

Os seus movimentos foram tão belos que as palavras que aqui poderíamos deixar seriam uma imperfeição. Aqui ficam algumas imagens de uma coreógrafa do corpo, da dança, e da precaridade da vida tão ambiciosa em sonhos, mas tão limitada na eternidade.

Mais uma vez se confirmou que a morte é um imenso insulto à Humanidade. Fica a memória da sua graça. Trouxe-nos a nossa própria dimensão de frente para os olhos, onde nos admirámos do que sabemos ser possível construir e do que inevitavelmente perderemos. Chamava-se Pina Baush e foi uma artista, no melhor sentido da palavra.

(Imagens, in pphp.uol.com.br)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Michael Jakson - O Signo de Peter Pan

Não é para nós o artista que nos deixe pelas suas criações em estado de profunda graça ou encantamento. Mas era e ainda o é o Rei da Música Pop. Pela dimensão que obteve merece umas palavras. Essencialmente para compreender não só o fenómeno, mas também este exemplo moderno de como uma sociedade clama por dinheiro e fama, esquecendo o elevado preço a pagar.

Michael Jackson, nasceu em 1958 no Indiana, Estados Unidos da América e foi um de vários irmãos. Com uma voz de anjo e um dom para a música, foi objecto do aproveitamento que o seu pai pretendeu dar à sua imagem. O exagero cometido desde muito jovem nas horas que tinha de ensaiar iriam comprometer para sempre a saúde da futura estrela.

Figura mundial idolatrado por milhões de jovens, levou uma vida de imensa controversa, desde a sua juventude que parece não ter vivido, aos problemas com a justiça, as dívidas, as declarações, as opções com a imagem e a procura de uma eternidade sempre jovem.

Michael Jackson encarnou o mito do Peter Pan, que como sabemos é o arquétipo dos rapazes que nunca crescem. A sua música, à semelhança da história escrita por J.M. Barrie pretende destruir regras, sempre com o encanto de uma criança e com o seu mundo de fantasia. Michael Jackson foi nesse sentido uma criança que nas suas habitações imaginava estar numa Terra sem Memória onde só a imaginação conta.

É um exemplo de como a sociedade contemporânea na orgia pelo dinheiro e pelo sucesso pode criar profundas mágoas e destruir um crescimento saudável. Michael Jackson é um exemplo de como a mais profunda solidão pode matar o ser humano. Afinal acima das músicas, o que sentia este «homem», o que pensava, o que sonhava, o que o incomodava?

Acima da torre de cristal onde não existe realidade a criança vivia em profunda tristeza. O preço da fama e do sucesso nem sempre é muito recomendável. Na sua despedida deste mundo, paz à sua alma.

(Imagem, infografia, in Jornal Sol, 26/06/09)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Entre Sorrisos...


Olho para ele e descubro-lhe uma simpatia nos seus olhos embaraçados de sorriso. Revela-se muito educado, sempre disponível no cumprimento quando o esncontramos. No último ano cresceu, tornou-se mais magro, mais alto. Desloca-se em passos mais curtos, menos alegres, menos enérgicos. Parece já não ter pressa, como se adivinhasse o seu caminho.

Um caminho difícil perante a hesitação dos adultos, o riso e a malandrice parecem condenados às fronteiras de um quotidiano pouco tranquilo. É ainda um jovem, uma criança, mas já evoluiu, tornando-se naquilo que na escola sempre foi. E neste abandono permanece quase o mesmo. É um aluno desinteressado e preguiçoso. A escola não o interessa, não é para ele. Uma espécie de clube ao qual ele não consegue ter acesso. E, no entanto é imensamente educado e retribui-nos regularmente com um sorriso.

E é isto que nos angustia. Um aluno simpático, acolhedor humanamente, mas insensível às linhas, aos cheiros do mar, ao sabor da palavra, à descoberta de novos continentes. Como chegámos aqui e como sair daqui? As receitas mais óbvias não resultam. Se o presente não o interessa, o futuro é uma indiferença genética. Considera-se fora do tempo e os seus dias são feitos de certezas, num presente onde só cabem os dias.

Entre um passado repetido de insucesso e um futuro que não existe, o que faremos entretanto no presente? A escola é irreal. A luz dos sábios, dos pensadores não chega. É ineficiente. Os programas aspiram a pouca realidade e depois há a família. Transportam consigo mais receios que livros, mais desgostos que cadernos, mais incompreensões que vontades. Como trazê-los à luz do Tempo, da civilização do conhecimento? Estão cansados desta prisão e transportam com eles já as linhas dessa fuga.

E aqui estamos numa sociedade que quer duvidar de todos, que pretende colocar em formulários as certezas do saber, o esquecimento dos outros e o carácter como grandeza mensurável. Neste labirinto, aquele esquecido sorriso parece a maior perda, onde também nós fomos esquecendo do valor institucional da escola.

Valor ausente que se entretem no santuário da tecnologia a esquecer a humanidade de cada um, as suas próprias dificuldades, afirmando uma sociedade de «técnicos», de «funcionários» do virtual. Afinal o que faz a escola, o que fazemos nós, a sociedade e o Estado para organizar a sabedoria, a difícil sabedoria, num tempo em que o esforço, é uma arqueologia já sem substância.

Temos em alternativa, a satisfação garantida da ubiquidade, o prazer da facilidade, uma reflexão esquecida do coração. Parecendo muito, é uma ninharia, mesmo para aquele sorriso envergonhado de asas flutuantes...

(Imagem, Mafalda, A Contestatária)

(Pensando naquele aluno e ainda com o livro de Daniel Pennac às voltas na imaginação)

O Pensamento Científico no Século XVII

A História das mentalidades em Portugal passou durante muito tempo pelo estudo, tal como nas estruturas económicas e sociais pela visão do conjunto, das tendências que se criaram. Privilegiou-se muito o colectivo, em detrimento do individual.

Neste sentido as últimas décadas do século XVI foram em muitos contextos apresentados como o fim das oportunidades da cultura portuguesa que pretendia a univrsalidade pelas descobertas. A morte de Pedro Nunes e de Luís Camões matavam as poucas possibilidades de uma cultura científica, que teve de facto dificuldades em se implementar. Mas este quadro não é completamente correcto.

A criação de um espírito científico, iniciada por Copérnico, Galileu e Kepler não foi um esforço exclusivo dos homens que aspiravam numa nova linguagem revelar um mundo acima da cidade dos homens. Os Jesuítas tiveram uma importância assinalável na difusão destas ideias, sobretudo a nível individual.

Dois investigadores portugueses (1) encontraram um manuscrito que nos revela que o padre jesuíta Manuel Dias, apenas três anos depois da sua divulgação, apresentava aos chineses os conhecimentos mais avançados da astronomia ocidental. A ideia de Galileu de que era possível comprovar, em linguagem matemática, que era a Terra que girava à volta do Sol e que a utilização de um telescópio nos permitia chegar à unidade da matéria, está presente nesta achado, que foi impresso por toda a China, a partir do século XVIII.

Este contacto do padre Manuel Dias é tão mais importante, na medida em que por Lisboa, o Tratado da Esfera era uma referência da cosmografia, pois sabemos que no Colégio Jesuíta de santo Antão Giovanni Paolo Lembo ministrava aulas, cujos conhecimentos são os mais antigos apontamentos na construção de telescópios.

Vemos, assim que o século XVII, que foi de tantas tragédias com a União Ibérica, o País continuava a ter um conjunto de pessoas que em diferentes instituições alargava os conhecimentos dessa universalidade no mundo.
A descoberta de uma cidade acima dos homens e a presença em tão diferentes continentes ajudando-os a reconhecerem-se no próprio universo, revela como o pensamento científico existia, mesmo que condicionado muitas vezes pela Coroa.

(1) Projecto desenvolvido por Rui Magone e Henrique Leitão
in, Público, 19/96/2009
(Imagem, 1º Telescópio desenhado por Galileu)

terça-feira, 23 de junho de 2009

A Propósito dos cadernos de Sophia...


«As imagens eram próximas
Como coladas sobre os olhos
O que nos dava um rosto justo e liso
Os gestos circulavam sem choque nem ruído
As estrelas eram maduras como frutos
E os homens eram bons sem dar por isso(...)» (1)

No último post concluímos a apresentação das telas que permitem rever uma viagem, a dos navegadores gregos pelo Mediterrâneo. Foi um projecto desenvolvido por uma turma, 6º C, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Área de Projecto, que nos remete para esse entusiasmo que foi a Grécia. Ela e a sua cultura é um luz imensa pelos contornos que nos lança. Foi o primeiro grande momento em que o conhecimento humano explodiu em cores, possiblidades e formas.

Sophia de quem já aqui falámos, pois ela é na cultura portuguesa e europeia, para não dizer mais, esse oráculo de comunicação entre o homem e os Deuses. Poucos, muito poucos souberam exprimir esse encantamento pelas ilhas de tons azuis e casas brancas, nos portos de descoberta de novos horizontes.

Os cadernos de Sophia, revelam-nos (1) a simplicidade da viagem pelos braços onde os deuses deram corpo às ideias de tantos pensadores. Um dos excertos disponíveis.


«Piso às quatro e meia a terra grega. Entrada maravilhosa à saída de Patras. Vamos rente ao mar entre oliveiras e ciprestes e montanhas azuladas. Calor leve, ar perfumado. As montanhas ligam a terra ao Olimpo. Paramos e vou molhar os pés, as mãos, os braços e a cara no mar. A água é maravilhosa, transparente e fresca. Bebo-a. É muito salgada.

É a paisagem mais maravilhosa que vi na vida. (...) De manhã voltei à Acrópole sozinha. Escrevi Sophia, Setembro de 1963, numa parede do Parténon, na frontaria, à direita numa reentrância. Coisa bárbara e selvagem mas tive de fazer.» (1)

Até 2010 o seu espólio constituído por setenta caixas irá ser entregue pela família à Biblioteca Nacional, podendo ser disfrutado por todos os que admiram a beleza incontida das suas paisagens.

(1) Espólio de Sophia, tornado conhecido pelo Público de 21/06/2009
(Imagem, Pormenor de um Friso do Parténon, in terraatenas.blogspot.com)

«Ulisses» - Uma Viagem pelo Mediterrâneo (Língua Portuguesa/Área de Projecto-6ºC)





domingo, 21 de junho de 2009

Dia Europeu da Música

Ludwig Van Beethoven compõs a Sinfonia nº 9 em Ré menor, Op. 125, também conhecida como Coral, já na parte final da sua vida, e quando a surdez já o importunava. Nascido em Bona, a 16 de Dezembro de 1770, foi um dos expoentes da cultura musical colocando a sua genialidade na produção musical.

A 9ª Sinfonia representa um dos marcos da cultura ocidental pois alarga na sua linguagem o valor da liberdade criativa do homem em todos os seus planos. Pela primeira vez a voz é trabalhada como um instrumento musical, dando-le uma beleza única. Escrita com o apoio de uma texto de Friedrich Schiller tem um coro de solistas que aprofundaram a beleza da sinfonia.

A União Europeia adoptou o último momento «Ode à Alegria». Ma sua importância excede esse facto. O movimento românticvo foi influenciada por ela, considerando-se que mesmo os espaços da música jazz e pop se sentiram influenciadas. O grande valor desta sinfonia reside no seu carácter universal, pois atingiu uma dimensão popular, ao ser tocada em todo o mundo por diferentes orquestras.

Estreada em 1824, ficaria para a posterioridade como um marco cultural de uma civilização, onde as ideias e o valor do indivíduo podem ser criadoras de um mundo de encantamento.
Para ouvir um excerto dessa grande obra, a parte II é clicar aqui.

(Imagem, in geocites.com)

sábado, 20 de junho de 2009

Em Teerão...


«O que podia ter sido é uma abstracção
permanecendo uma possibilidade pepétua
apenas num mundo de especulação.
O que pode ter sido e o que foi
apontam para um fim único, que é sempre presente.

O som de passos ecoa-me na memória
ao longo da passagem que não escolhemos,
em direcção à porta que nunca abrimos
para o jardim das rosas.

As minhas palavras ecoam
assim na tua memória.
mas com que objectivo
levantando a poeira numa taça de rosa,
isso eu não sei». (1)






Existem sociedades que nos parecem cristalizadas num tempo específico, onde se nos afiguram fora de qualquer tranformação da realidade social e cultural. A teocracia iraniana tem nestes dias tumultos importantes. O poder dos ayotollas pode permanecer no futuro, como a única legitimação da vida de milhões de iranianos.

Uma coisa, todavia é já certa. Milhares de pessoas aspiram a jardins novos, onde se luta pela imaginação já não presa em palácios seguros de palavras prisioneiras, mas a que permite contactar com o mundo. Aquele onde as transformações são realizadas e não ditadas por minorias. Aguardemos.

(1) T. S. Elliot, citado de Azar Nafisi, Ler Lolita em Teerão
(Imagens, in http://www. sol.pt)

Dia Mundial dos Refugiados



A nova ordem mundial nascida das cinzas do nazismo prometia o respeito pela vida humana. O desenvolvimento cultural e técnico da civilização, a partir da década de sessenta permitia acreditar que era possível acima das fronteiras respeitar a individualidade de cada um. Imaginámos que a destruição de minorias culturais ou étnicas estavam destinadas a um passado de museu, o da História. Todavia, o genocídio, a guerra, o derespeito pelos direitos humanos continua em escala impressionante.

E esta tragédia sobre a Humanidade não é património de um continente, de um regime, ou de uma religião. Tivemos exemplos nobres do que caracteriza a Humanidade. De Luther King a Gandhi, quantos não ensinaram que todos fazemos parte dessa casa comum. Os homens não aprendem.
Existem refugiados em sítios tão afastados como o Darfour, o Tibete, ou a Chéchénia e até na desenvolvida Europa o pudemos assistir há poucos anos, em Sarajevo.

É um pesadelo sobre a nossa memória.

Hoje, no Dia Mundial dos Refugiados lembramos no coração os que ficaram privados de um teritório, de uma cultura, da esperança e tantas vezes da vida. Um colapso sobre mulheres, crianças, homens de tantos espaços, aos quais se perdeu a condição humana. Tantas vezes em promessas de futuro, que foram sempre a destruição de uma casa comum, este planeta e as suas vidas singulares, sempre únicas.

As Nações Unidas, criaram em 1951, o Alto Comissário para os Refugiados, que desenvolve programas de apoio em diferentes partes do mundo. Para conhecer, aceder aqui.

(Imagens, in cidadevirtual.pt)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Garfield - Um Gato Cínico


Nasceu justamente há trinta anos, a 19 de Junho de 1978, em vários jornais americanos fazendo um sucesso que dez anos depois era já visível em revistas e jornais de todo o mundo.
Garfield tem pois uma legião de leitores nas publicações diárias e semanais de diversas partes do mundo.

A inspiração do seu autor, Jim Davis veio-lhe da sua experiência com os muito gatos com que viveu na sua juventude nuna quinta no Estado de Indiana. Não tendo uma narrativa muito complexa o sucesso de Garfield reside nas suas características e no seu espaço de acção.

Entre o sofá e a cozinha, entre as considerações a um cão ingénuo e o seu aspecto, Garfield revela o seu cinismo.
Entrou na galeria das figuras criativas que fizeram dos seus autores criadores milionários, embora esteja um pouco distante da riqueza narrativa de outros, como Mafalda ou Snoopy.

(Imagem, in Smartcine.com)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Em Teerão...




Em Teerão, por estes dias decorre uma página importante da História de todos nós, a luta por um regime que saiba reconhecer vontade e liberdade nos seus cidadãos.

São sonhos de esperança, espelhos de memória por aqueles que não querem ser prisioneiros de si próprios. Não é fácil fazer isto, num local onde o Estado e a Religião são omipresentes e têm a pretensão de dominar o coração dos cidadãos.

Os protestos em Teerão revelam um momento em que as portas do regime comandado por uma hierarquia religiosa parecem querer reivindicar a sua dignidade. É um momento interessante para a História.

Mas deixemos e falemos antes dos que fazendo da memória utensílio revelam, como na penumbra pode-se começar pelas palavras a construção de dias novos. Os livros são eles, mais uma vez que, nos permitem interrogar a nós próprios. Um desses casos é o Livro de Azar Nafisi, Ler Lolita em Teerão.

Ler Lolita em Teerão é um exemplo dessa determinação e também da coragem para arriscar a vida pela compreensão do mistério humano. É um esforço de compreensão que nos é pedido a nós leitores. Esforço para percebermos como culturas islâmicas conseguem compreender os autores da cultura ocidental. O que eles lhes trouxeram, mas também o que perderam quando esses livros são confiscados.

Afinal não é a busca da Lolita original do escritor russo, mas aquela que nasceu em Teerão em várias estudantes e uma professora que procuraram na Literatura compreender para intervir no seu mundo interior, afinal o único possível naquele momento de tirania. Os mais simples episódios do quotidiano podem vislumbar aos seus leitores uma esperança ou um sonho, mesmo nos dias mais cinzentos, em que as palavras de Steinbeck ou as descrições aromáticas de Hemingway são proibidas.


(Imagem, Iman Maleki, Irmãs Lendo, in Zichi.blogspot.com)

A Cultura entre os Portugueses...



Belgais foi uma ideia luminosa de uma grande figura da cultura portuguesa. Maria João Pires, uma das maiores pianistas vivas em Mozart ou Chopin, imaginou um dia que era possível num canto deste País cultivar um centro de estudo de artes. Pensou que seria não só lindo, mas uma coisa muita boa oferecer educação de canto a crianças de uma escola primária e ofertar nesse local concertos de música, trazendo cá artistas importantes.

A ideia era grandiosa num País habituado genericamente a hábitos culturais onde a grande maioria da pessoas não têm direito a serem consumidores de cultura, apenas podem sobreviver. Os privados só investem em espectáculos de lucro garantido. O Estado apoia o que lha parece ser mais conveniente para a sua imagem, em especial, nos grandes centros. As escolhas feitas revelam um descuido para com a formação humana das pessoas.

Com o fecho da Escola da Mata e do Coro Infantil, ao projecto faltou os elementos que a pianista considerava como fundamentais. Maria João Pires decidiu abandonar o processo, lamentando-se da falta dos apoios e parcerias que se supunham garantidos. Emigrou para o Brasil onde em campos socias degradados ensina pela música uma forma gratificante de cidadania.

Não podemos esperar muito de um Estado servido por partidos cuja grande ambição é revelaram-se em oposição ums aos outros como os verdadeiros representantes, da Liberdade e do Progresso da Nação. Já custa um pouco olhar para os comentários que na blogosfera se encontram sobre este acontecimento.

Nos comentários online ouvem-se comentários reveladores da natureza medíocre e culturalmente ignorante que constitui o formato de tantas vozes deste País. Insulta-se uma pessoa com uma capacidade técnica brilhante, a troco de ideias aparentes e nada fundamentadas sobre as suas capacidades de gestão. É grotesco como alguns seres que ainda não provaram nada sabem acusar em libélos de intenções pessoas que pela sua arte nos dão um valor inestimável.

Eça dizia que Portugal era um País maravilhoso. Tinha apenas uma dificuldade, os Portugueses. Esta falta de visão pelo fututo criou uma miséria cultural em que nada parece grandioso, onde os princípios são irrelevantes. Vivemos sob uma sociedade tutelada por um Estado feito para se aproveitar do cidadão que não lhe concede a formação e instrução que o torne mais que uma criança mimada e infantilizada pelas sua subjectividade crónica.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Prémios

Receber um prémio é sempre uma satisfação. Um pouco também um privilégio. Pela segunda vez fomos distinguidos pelas palavras, sinónimos de vontades, desejos, aspirações a uma dimensão humana naquilo que podemos ser. O Premio Internazionale Utopie Calabresi foi oferecido pelo blogue Utopiecalabresi. Agradecemos a distinção que nos procuraram dar.

Segundo os seus autores este selo criado pelo citado blogue procura «premiar os blogs que promovam conhecimento livre, cultura e arte, tolerância e aceitação da diferença, amizade e solidariedade entre povos.» Este projecto procurou essencialmente dar uma visibilidade maior a um conjunto de ideias que passavam por uma Biblioteca e pela dinamização de leituras e de escritas.

Em diversos momentos procurámos deixar a memória de pessoas que mos marcaram e que marcam a humanidade. As etiquetas do blog revelam essa amostragem, que procurou ir da arte ao pensamento, da música aos direitos cívicos.

Em determinados momentos decidimos por influência do quotidiano, dos agentes políticos e do que se vai passando no mundo escrever sobre assuntos que influenciam o real e que muitas vezes estão longe da nossa decisão.
Arriscámos falar sobre a recente campanha europeia naquilo que é irreal para a dimensão de cidadania dos europeus, nas propostas que parecem pouco dignas da História Europeia. Arriscámos falar sobre a formalidade de cerimónias que pretendendo ser históricas, são por vezes vazias de significados pela dimensão com que são oferecidas aos cidadãos. Ousámos falar sobre os bairros de pobreza social e sobre o esvaziamento concreto da liberdade quotidiana visíveis em actos de uma vida política pobre de ideias e de valores.

Muitas vezes pensámos se isso caberia num blog «institucional» ligado a uma Biblioteca. Concluímos afirmativamente. As ideias só nos servem se forem utensílios para mudar, no sentido de ajudar a compreender o que nos pode fazer mais completos, o que quer dizer mais felizes no dia distante.

Pela natureza do que o prémio pretende alcançar será um exagero a atribuição a um conjunto de palavras que pretende apenas alimentar aquilo de que falava Pessoa:
«(...) ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
os beijos merecidos da Verdade.» (1)

O prémio acima indicado pode ser visto aqui: http://utopiecalabresi.blogspot.com/

A breve espaço de tempo deixaremos o endereço de cinco blogs que também utilizam a palavra para descobrir os universos que reflectem a realidade humana.

(1) Fernando Pessoa, «Horizonte», in Mensagem

terça-feira, 16 de junho de 2009

Apresentar um Livro - Beatriz Faustino - 6ºC


O meu livro favorito tem o título «A Lua de Joana», escrito por Maria Teresa Maia Gonzalez.

Este livro é apresentado em várias cartas, que Joana escreve para a sua amiga Marta.

Marta tinha morrido há um mês e Joana ainda não se tinha conformado com a ideia de a sua melhor amiga ter morrido, ela ainda nem conseguia dizer a palavra. Marta era a sua confidente.

O pai de Joana era um médico prestigiado, passa a vida fora em reuniões, visitas ao domícilio e raramente está presente no seu dia-a-dia ou em casa. A sua mãe é dona de um pronto-a-vestir, preocupadíssima com outro seu filho, irmão de Joana, cuja relação era um pouco crítica.

Joana achava que ao escrever um diário, estava a escrever a si própria e que isso não fazia sentido. Assim preferiu escrever cartas para a sua amiga e era nelas que dizia tudo o que lhe acontecia e como se sentia sozinha. Joana apaixonou-se pelo irmão de Marta e começou a baixar as notas sem que os pais se apercebessm de nada.

Ao longo do tempo Joana percebeu que a sua amiga tinha morrido de overdose.

Este livro termina com o pai de Joana, a ler aqueles «relatos», sentindo-se impotente por não ter estado presente quando ela precisava, por não ter percebido nada... e por não ter conseguido evitar que, tal como Marta, Joana morresse por overdose.

sábado, 13 de junho de 2009

No Nascimento de Pessoa


 Já aqui escrevemos sobre ele. Na data do 121º aniversário do seu nascimento não podíamos deixar de mais uma vez aqui o lembrar. Nunca será suficiente. Pois ele representa a capacidade universal do homem que se desdobra em múltiplas possiblidades, num Universo onde a Humanidade se representa a si própria num campo infinito de sonhos, esperanças e olhares. Ele não é só o maior poeta de língua portuguesa do século XX, ele é a própria Língua. Justamente, Fernando Pessoa. Três pequenos textos reveladores do seu génio intemporal.

Se, depois de eu morrer...

«Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas, 
a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza

Põe quanto És no Mínimo que Fazes

«Para ser grande, sê inteiro: nada
teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda 
Brilha, porque alta vive».

Heterónimos de Fernando Pessoa
Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos;
Ricardo Reis, Odes;
(Imagem, in novoslivros.blogspot.com)

Qualquer Coisa entre Nova Iorque e a Sé de Braga

 
  António Joaquim Rodrigues Ribeiro, nasceu a três de Dezembro de 1944 e partiu, faz hoje exactamente vinte e cinco anos, a treze de Junho de 1984. Portador de uma vontade interior que o faria viver para Lisboa, onde desenhou, ele próprio o seu espectáculo, suportado pela liberdade e pelo mistério.

   O Portugal do início dos anos oitenta era do ponto de vista cultural uma paisagem medíocre e António, para o futuro, António Variações pretendeu fazer esse esforço de tentar criar qualquer coisa onde nada parecia acontecer. À semelhança da sua geração tentou dar a sua voz a um tempo que parecia esquecido dos mais jovens. Numa sociedade que garantia ao valores estrangeiros a categoria de vanguarda e aos nacionais o peso exclusivo da tradição, António representou a síntese entre os dois, com olhos para o futuro.

   Muita da nova música portuguesa dos anos recentes é-lhe devedor do espírito que soube criar. Manter as raízes e abrir o olhar ao que vem de fora. É esse o sentido da sua música. Soube combinar a alma portuguesa, na sua tradição com a universalidade dos seus poetas, como o fez com Amália e Pessoa, dando ritmos novos, com contrastres, mas sempre  com os valores máximos da inquietação  e do respeito pelos outros.

   Deixamos abaixo uma das suas últimas escritas, interpretada pelos Humanos, quando já se perguntava, por que temos de desconstruir um dia, tudo o que sonhámos e construímos.




(Imagem, in largodamemoria.blogspot.com)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Os Heróis... de um País ...


   Percorrendo a blogosfera encontrámos estas imagens que nos dizem muito deste não sentido da História e assim do presente, feito futuro que é a dimensão cultural da nossa vida social. Já aqui escrevemos sobre ele, pois é um orgulho ele ter sido o herói de Bordéus, sabendo que em determinadas horas, apenas a conciência nos serve de utensílio.

   Aos poucos, demasiado lentamente o seu nome vai surgindo dando-nos lições de honradez e humildade. Um homem que compreendeu que é o valor espiritual universal à Humanidade que nos tem de guiar. Não os princípios da retórica, sejam eles apoiados em visões de um mundo religioso ou político. A Consciência da Humanidade. Quantos o tiveram? Poucos. Muito poucos. E quantos tiveram esta nacionalidade? Ainda menos.

   António Barreto falava no Dia de Portugal, da necessidade de observar os exemplos, os exemplos, dos melhores e dos maiores. Dos mais sábios e corajosos, dos mais empenhados e criativos. Os que souberam dar a esta nacionalidade uma cor de coragem, quando isso  representava perder a própria vida. E isto tudo, num só homem, com uma família grande, arriscando a sua própria sobrevivência. Continuando sempre, numa perseguição pelo sonho maior de salvar vidas, acima de qualquer decreto, de qualquer visão totalitária do ser humano. É de facto um exemplo maior.

   Todavia, acima de discursos de circunstância, onde tantos passeiam a sua ignorância, o real parece esquecido perante o chico-espertismo. O património e a esperança dos que souberam caminhar com graça e sabedoria deveria inspirar a sociedade e o próprio estado a dar o ausente exemplo. Tantos gastos desnecesários, atitudes culturais de duvidosos critérios e aqui temos um Homem cuja memória se degrada, ele que nos deu tanto. 

   Um Homem que  na solidariedade, na amizade aos mais pobres, aos que nada tinham, soube mostrar como Salazar era uma figura de um quadro a preto e branco, sem grandeza pela terra que pisava.

    E hoje, enquanto uns se dedicam, numa atitude legítima, de na terra do sábio professor de finanças, criar um museu, temos a casa de Aristides de Sousa Mendes em ruínas. Triste é pouco por esta falta de carácter de uma sociedade. Teríamos melhor exemplo para na comunidade que somos reforçar os princípios de uma identidade por este território? As escolhas dizem muito daquilo que cada um é capaz de ser em cada um dos seus dias.