domingo, 3 de maio de 2009

Dia da Mãe

Poema à Mãe

«No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe


Tudo porque já não sou

o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras

que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!


Por isso, às vezes, as palavars que te digo

são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.


Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,

talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!

esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,

e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me?-,
às vezes ainda sou o menino

que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração

rosas tão brancas
como as que tens na moldura;


ainda oiço a tua voz:
«Era uma vez uma princesa

no meio de um laranjal...»

Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu ...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...»


Eugénio de Andrade, «Poema à Mãe», in Antologia

(Imagens, Claude Monet, Papoilas,
in O
Impressionismo, Direcção de Ingo F. Walther

Anton Ebert, História para Adormecer,
in Steffan Bollman, Mulheres que Lêem são Perigosas)

Rosas Brancas, in www.camaramuqui.es.gov.br)


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