«Do alto das suas cátedras, os modernos doutrinadores proclamam que o ensino se deve basear nos «saberes» trazidos pelos meninos, que a sala de aula deve ser um recreio e que a escola mais não é que a reprodução da estrutura de classes. (...) Foi esta retórica que, ao minimizar o valor do conhecimento, o legado da civilização ocidental e o papel do professor, conduziu ao caos pedagógico em que vivemos.» (1)
Fomos educados a contemplar e admirar os mestres. Ainda existem mestres? Com certeza. Divulgadores do conhecimento, da ciência e animadores do pensamento. O professor Nuno Crato é sem dúvida um deles por muitos aspectos. Pela sua acção como divulgador da ciência, uma ciência do quotidiano, mas também pelo seu discurso reflexivo, pela sua sabedoria matemática e pela sua humildade. E sim porque tem ideias, não de revoluções que prometem o paraíso, mas só e apenas a simplicidade, aquela que os burocratas desprezam.
O estado da educação em Portugal é uma tragédia nacional e é, embora poucos o pensem uma questão de cidadania, e por isso alvo de legítima intervenção pública. Podemos sair deste embaraço com simplicidade e vontade de melhorar com crédito e honestidade intelectual os resultados da aprendizagem dos alunos. Os conselhos do Professor Nuno Crato, a quem os souber ouvir (2):
« Precisamos de três ou quatro objectivos muito simples que devem ser aplicados, sem os quais tudo o resto, grandes objectivos certamente falharão:
1º - Seriedade na avaliação dos alunos;
2º - Construção de exames fiáveis e comparáveis de ano para ano;
3º - Avaliação externa credível;
4º - Construção de estatísticas feitas por entidades independentes ao Ministério da Educação;
5º - Reforçar e incentivar os conteúdos e não dar uma atenção tão exclusiva aos processos;
6º - Estabelecimento de standards do que os alunos em cada ano, em cada disciplina devem saber;
7º - Avaliação de professores de acordo com uma avaliação externa credível;
8º - Valorizar os professores;
9º - Reforçar a capacidade científica dos professores, apoiando mais a Didáctica e acabando com uma pseudo sociologia da Educação;
10º - Propor um exame de entrada na carreira de professor;»
São grandes ideias? Sim, mas sobretudo pela sua simplicidade. Revelam que o uso da avaliação como argumento político é desonesto e pouco rentável para a aprendizagem dos alunos. Tal como o é fazer dos programas das disciplinas cartilhas ideológicas sobre como cada um deve ensinar. Enquanto o Ministério da Educação não souber traçar metas e avaliar com credibilidade os resultados, ou enquanto a autonomia for tão real como o é a escola como espaço tranquilo de respeito e trabalho, os sucessos virtuais dos paraísos oferecidos, serão frutos imaginários de uma elite afastada da sociedade.
O vídeo em que o professor Nuno Crato defende as suas ideias merece ser ouvido. As ideias que por lá se apresentam certamente poderão trazer outros sorrisos ao sistema escolar português. É possível privilegiar o essencial e contribuir para a construção de uma sociedade dinâmica.
Não o transferimos porque ele foi apresentado no decurso de uma acção de campanha política. De qualquer modo, para os interessados fica aqui o link
(1) - Maria Filomena Mónica,
«Mudam-se os Tempos, não se Mudam as Vontades»;
«Cavaco Silva e a Educação»,
in Público, 17.11.2003 e Público, 11.09.2007
«Mudam-se os Tempos, não se Mudam as Vontades»;
«Cavaco Silva e a Educação»,
in Público, 17.11.2003 e Público, 11.09.2007
(2) - Transcrição adaptada a partir da audição do vídeo citado acima
(Imagem, Projecto Sorrisos de Bombaim
[alfabetização das crianças mais desfavorecidas]
[alfabetização das crianças mais desfavorecidas]
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