quinta-feira, 30 de abril de 2009

Poesias...

Num tempo de Feira do Livro, uma pequeno poema sobre eles, os livros.

Os Livros

Apetece chamar-lhes irmãos,
tê-los ao colo,
afagá-los com as mãos,
abri-los de par em par,
ver o Pinóquio a rir

e o D. Quixote a sonhar,
e a Alice do outro lado
do espelho a inventar
um mundo de assombros
que dá gosto visitar.
Apetece chamar-lhes irmãos
e deixar brilhar os olhos
nas páginas das suas mãos.

José Jorge Letria, «Os Livros»,
in Poetas de Hoje e de Ontem
(Imagem, Marilyn Monroe, por Elliott Erwit (1955),
in osilenciodoslivros.blogspot.com)

Feira do Livro de Lisboa


Inicia-se hoje, junto ao Parque Eduardo VII, a 79ª edição da Feira do Livro. Com novos pavilhões, quatro esplanadas e um auditório central promete cativar mais leitores para um espaço de descoberta das palavras, onde diversas actividades procuraram animar a leitura.

Estão projectadas mais de trezentas horas de animação cultural. A relação com as escolas foi igualmente pensada em actividades destinadas ao público infanto-juvenil que contam com o apoio e colaboração da Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas, o Plano Nacional de Leitura e a Câmara Municipal de Lisboa.

Este ano o Brasil será o convidado de honra. Um local de visita obrigatória para quem gosta de livros. A feira encerra só no próximo dia 17 de Maio. Aos que quiserem estar a par das novidades é só clicar aqui.

Poesias...


O Sorriso


«Creio que foi o sorriso,

o sorriso foi quem abriu a porta.

Era um sorriso com muita luz

lá dentro apetecia

entrar nele, tirar a roupa, ficar

nu dentro daquele sorriso.

Correr, navegar, morrer naquele sorriso

de o outro nome da Terra.»


Eugénio de Andrade, «O Sorriso», Antologia Poética
(Imagem, À Descoberta das Camélias
na Avenida da Boavista
, Cidade do Porto)

terça-feira, 28 de abril de 2009

A Distinção da Educação em Portugal


«Eu não consigo compreender porque é que a quantidade tem que ser inimiga da qualidade.(...)

Nós produzimos, por exemplo Jaguares em grande quantidade e são todos de óptima qualidade. Não é por produzirmos mais um ou mais dois que eles pioram de qualidade.» (1)


Há deslumbramentos que não são acessíveis a gente simples. Estão interditos a quem, como nós não possui a grandeza de espírito de quem nos governa. Deixemos, antes o comentário de alguém que com simplicidade e beleza costuma trabalhar o quotidiano em palavras onde a nossa epiderme nos é revelada.
Justamente, Fernando Alves, no seu programa da TSF, Sina
is.
Esperemos, por ser jornalista, ninguém se oponha à sua voz clara e límpida como a água cristalina.
Para ouvir, basta clicar no link seguinte:



http://tsf.sapo.pt/podcast/files/sin_20090424.mp3


(1) A Ministra da Educação de um País chamado Portugal [na conferência de imprensa onde foi apresentado o alargamento da escolaridade obrigatória ao 12º ano].

(Imagem, in thelightisgreen.com)

Ratinhos Diferentes - Francisco Pinheiro e Ricardo Ganchas (6ºC)


Era uma vez dois ratinhos que não gostavam nada de queijo. O seu alimento preferido era massa. Esparguete, fusili, tagliati, macarrão..., não interessava o tipo de massa porque bastava tratar-se de massa e os ratinhos ficavam com os seus bigodes em pé.

Eles viviam numa grande cidade perto do mar. Moravam num pequeno apartamento, entre o esgoto Norte e a estação de tratamento de águas da cidade. Quando estava bom tempo, apanhavam a via rápida de saída de esgoto e, em cima das suas pranchas de bodyboard e de skimmy, lá iam eles até à praia. Ambos adoravam desportos aquáticos. A praia era o seu lugar de eleição para passarem os tempos livres e descontrair da vida escolar agitada que levavam.

O Francisquitti e o Ricarditti eram ratinhos aplicados, mas muito divertidos. Cumpriam o seu dever com rigor e boa disposição. Mas, na escola, o seu problema com a alimentação não era fácil de resolver. Todos os dias havia queijo guisado, queijo frito, queijo grelhado, queijo fresco, queijo salteado, ... Um horror! Um tormento para aqueles dois ratitos!

Os seus dias correriam sempre bem se não fosse o problema da comida. Então ...
- Acho que chegou a altura de escrevermos uma carta ao conselho executivo a expor o nosso problema, não achas? - desabafou o Francisquitti com o pêlo todo eriçado.
- Sim, sim! Já chega de agonias. Só o cheiro do queijo me deixa estonteado! - exclamou o Ricarditti.
- Até porque as ementas são pouco variadas e não cumprem as regras de uma alimentação saudável, tal como está actualmente definido na roda dos alimentos...
- Tens razão, Francisquitti! Para além do mais comemos poucos legumes e pouca fruta, - afirmou o Ricarditti com um ar de sabichão que tinha aprendido bem a lição em Ciências da Natureza.

Assim pensaram e assim o fizeram. Os ratos escreveram a dita carta, mas não obtiveram qualquer resposta. Então, resolveram dirigir-se ao gabinete do conselho executivo e pediram para falar directamente com o director da escola.

Cheios de lábia e muita ratice os dois animais expuseram o assunto com tamanha delicadeza que o director tratou de estudar o problema das ementas. Daí em diante os amigos Ricarditti e Francisquitti passaram a comer com alegria no refeitório da escola. Nunca mais lhes cheirou a queijo e as ementas passaram a ser muito variadas. Nem sempre comiam massa, mas comiam alimentos saudáveis e muito saborosos.

Estes ratos odiavam queijo o que não parece normal, mas a verdade é que «a tradição já não é o que era».
(Imagem, in hanormal.blogspot.com)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Poesias ...

Aprender a Estudar


Estudar não é só ler livros

que há nas escolas
É também aprender a ser livre
sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante

às vezes urgente.
Mas os livros não são o bastante
para a gente ser gente.
É preciso aprender a escrever
mas também a viver
mas também a sonhar.
É preciso aprender a crescer
aprender a estudar.

Estudar também é repartir

também é saber dar.

José Carlos Ary dos Santos, «Aprender a Esudar»
in, Poetas de Hoje e de Ontem

(Imagem, Vanessa Bell, Amaryilis Y Henrietta,
in Steffan Bollman, Mulheres que Lêem são Perigosas

domingo, 26 de abril de 2009

A Democracia Portuguesa ...


Vasco Pulido Valente, com a inteligência de sempre, escreveu um texto publicado no Público de hoje que nos mostra, como o voto, instrumento de consistência da representatividade da Democracia, está entre nós desvirtuada, com consequências graves para a saúde estrutural do próprio País. Pela sua escrita e validade deixamos aqui as suas palavras.


« Na usual sessão comemorativa do «25 de Abril», o sr. Presidente da República resolveu fazer um longo e comovedor apelo ao voto. O voto, disse ele, é um acto cívico e um acto de responsabilidade. Os portugueses têm de escolher quem os governa e, sobretudo, como querem ser governados. Toda a gente conhece esta conversa. E os cavalheiros presentes, como se esperaria, concordaram com a coisa, tanto mais que as sondagens prevêem uma abstenção enorme. Mas Cavaco não explicou por que razão, ao fim de 35 anos de democracia, era ainda precisa esta espécie de «magistério», como ele gosta de lhe chamar. Talvez por causa da circunstância e do auditório, talvez porque pura e simplesmente não sabe ou talvez, porque, sabendo, não pode ou não lhe convém.

E, no entanto, a crescente indiferença do país pela política não é um mistério. O cidadão comum despreza os partidos - pela sua ineficácia, pela sua hipocrisia e pela sua mais do que notória corrupção. Entre ele e os partidos quase só há hostilidade e desconfiança. A hostilidade e desconfiança que o indivíduo isolado invariavelmente sente por sociedades para iniciados, que defendem e partilham interesses pouco claros (...) Esse universo [o dos partidos] não é o universo da vida vulgar. É um universo à parte, que não obedece às mesmas regras, não fala a mesma língua e não sofre naturalmente a mesma angústia ou o mesmo desespero.

O votar, é em teoria, um exercício de poder. O voto, em teoria, muda, rejeita, sustenta, corrige. Infelizmente, em Portugal, o voto não é poder. Com [ os diferentes partidos de governo ] o país continuou como de costume na sua tristeza e na miséria. Mais do que isso: piorou. E agora, de repente, a classe dirigente decide prevenir que, para lá da crise mundial, a nossa crise, cuidadosamente alimentada desde 1995, nos promete um lamentável futuro. Por onde andavam as luminárias de hoje, quando pouco a pouco o actual sarilho se foi armando? Provavelmente no governo, inevitavelmente nos partidos - com o seu profissional optimismo e os seus largos sacos de promessas. (...) Quem acredita - em 2009 - que votar é de facto um acto cívico e um acto de responsabilidade


Vasco Pulido Valente, «A Utilidade do Voto»,
in Jornal Público, 26 de Abril de 2009
(Imagem, in cidadao-e-profissionalidade.blogspot.com)

A Democracia em Portugal ... 35 anos depois


Trinta e cinco anos depois, já é possível e necessário começar a analisar este acontecimento não só como memória do passado, mas também como elemento próprio da sociedade contemporânea.

Entendamo-nos. O 25 de Abril de 1974 é o principal marco da História Contemporânea do século XX. O País evoluiu muito, em aspectos essenciais, como a taxa de mortalidade infantil, o analfabetismo, a escolarização, o acesso à cultura e a condições materiais de conforto. A rede viária, a proximidade de bens, serviços e pessoas é incomparável. Por que então vivemos com esta sensação que estamos distantes de um progresso social recompensador?

Sitiado pelo processo revolucionário a sociedade emergente não soube pelos seus actores construir um Estado de Direito com verdadeiros alicerces. O espaço público, a justiça, a formação educativa sucumbiram a ideias que não se souberam exprimir no próprio tempo histórico. Uma coisa é realizar um golpe de Estado, outra organizar a sociedade no espírito do tempo. A construção política que emergiu da revolução fez juntar figuras que convertidas à Democracia, a foram servindo em partidos que desde o início não representavam as pessoas. A Europa permitiu superar algumas dificuldades, parecendo ser o motor do planeamento económico e da organização jurídica do País.

Economicamente empobrecido, socialmente pouco móvel, educativamente limitado, a Europa dar-lhe-ia mais forma que conteúdo. A sociedade e o Estado que os idealistas do 25 de Abril supunham poder-se construir, está hoje muito distante. Distante da aparência de Democarcia que uma determinada esquerda sonha e que nem no passado representava qualquer presente.

Distante, sobretudo de um Estado de Direito Democrático, que seria o garante mínimo de uma sociedade mais justa e solidária. Ao nível empresarial a visão de risco é pobre, as associações culturais que existem têm pouca influência na vida pública, como voz da sociedade civil. A nível político, a Democracia para o ser tem de ser exercida com responsabilidade, vivida com valores humanistas e não pode ser só justificada através de actos eleitorais que concedem aos que governam todos os poderes e possibilidades.

Instalados numa aceitação acrítica de valores, os partidos rumaram na cabotagem de interesses e de facilidades, apenas preocupados como no horizonte se reproduzia o controle do poder. Incapazes de falar a verdade, prometeram o que não podiam cumprir desvinculando as pessoas dos órgãos representativos. Os partidos cuja representatividade social é fraca, podem propor pretendentes de exercício do poder que igualmente não são figuras nacionais e não desempenharam na sociedade local projectos de dinamização dessa sociedade. O casting político vive de regras que poucos compreendem e que uma minoria impõe.

Sem incentivo à discussão de ideias, com controle do que os cidadãos devem saber, caminhou-se na actual Legislatura no paraíso tecnológico, onde à sombra da inovação se vendem os meios de limitar a privacidade dos indivíduos. Pacheco Pereira no Público de ontem levanta a questão de forma brilhante: pode-se criar uma verdadeira sociedade totalitária em plena Democracia? (1)

Com os instrumentos de vigilância criados, com um estado que não está auto-regulado pela sociedade, que tem das suas funções uma ideia formal, com um exercício do poder pouco preocupado com «a respiração da liberdade» (1), vivemos na margem de uma sociedade que se prepara para uma visão totalitária do Homem. A História já nos mostrou que os «meios certos» nas mãos erradas podem produzir imensas catástrofes humanas.

Última questão. Não é a Democracia o sistema político que garante a igualdade nos direitos e a credibilidade nos processos, independentemente das pessoas? Ao contrário do que os aprendizes de política gostam de reafirmar, o presente não garante que tristes caminhos do passado regressem sob outras formas. Nos trinta e cinco anos do 25 de Abril de 1974, mais do que lembrar as imagens de um passado, importa comemorar ideais e valores e discuti-los.

É muito bonito ver sempre as mesmas imagens, os militares, a adesão popular, as manifestações , os cravos, as bandeiras,... Se não se compreender o que ali estava em discussão, comemorar esta data pode ter tanto significado para o funcionamento da sociedade como a conquista do Algarve no século XIII. É irrelevante para a construção diária. É a discussão das ideias que pode garantir uma construção mais sólida e justa do futuro.

(1) José Pacheco Pereira, «Pode-se Criar uma Sociedade Totalitária em Democracia?»,
in Jornal Público de 25/04/2009

(Imagem, o nascer do sol, entre as montanhas do Parque Natural de Montesinho)

Dom Nuno Álvares Pereira


«A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.» (1)

Sabemos, por formação que o estudo da História não se faz através dos quadros mentais do presente, nem serve para justificar explicações para o próprio presente. Dão-nos, no quotidiano, na espuma dos dias, algo mais importante, a força de um exemplo. É este o caso que aqui trazemos, no dia da canonização do Condestável.

Dom Nuno Álvares Pereira desempenhou um papel essencial na formação de um Portugal nascido para a modernidade que se faria anos mais tarde, na empresa dos Descobrimentos. O seu papel foi essencial para a ruptura que D. João I criaria. Sabemos que foi um grande chefe militar que em Aljubarrota viria a preparar uma mudança no Portugal de trezentos. Aljubarrota não foi só uma batalha. Representou uma afirmação de um Estado-Nação, a sua determinação em marcar a História com a sua vontade. Representa o valor do indivíduo como factor de mudança e a sua crença em valores espirituais.

Dom Nuno Álvares Pereira ainda nos importa no realce da sua vida pela sua dimensão humana que se revelou no apoio aos pobres e humildes e na sua vida de dedicação. Aquele que foi um dos homens mais ricos do Reino, disso abdicou em função de um ideal. É também aqui um exemplo.

Dom Nuno Álvares Pereira foi canonizado hoje mesmo, em Roma, a vinte e seis de Abril de 2009. Não existiu qualquer destaque ou envolvimento dos órgãos do Estado Português. Sendo uma figura nacional e tornando-se parte de um património universal, porque não ouvimos, nem vemos falar sobre esta questão por aqueles que dirigem o Estado. É este um assunto exclusivo da religião católica? Não.

D. Nuno Álvares Pereira, não serve aos que explicam a sociedade através dos chamados movimentos de classe. Uma historiografia fez a sua escola por gerações com estas ideias inibidoras da mentalidade e dos indivíduos. Pior. D. Nuno Álvares Pereira não serve a um Estado que está nas vésperas de comemorar o nascimento da República. As correntes ideológicas do actual governo, entre um fervor laico e umas pinceladas socializantes são pouco compatíveis com a valorização de figuras determinantes na construção cívica.

O Federalismo Europeu consolida ainda mais este desinteresse por figuras que ousaram ter um projecto para um País, na medida em que a ideia de nacional, o indivíduo, o cidadão dever ser apagado para que possa emergir o Grande Estado Europeu, onde muito poucos decidem e onde falam os interesses dos Grandes Países.

É um sinal, mais um de como o actual governo não compreende o seu papel na memória colectiva do País e de como assim sendo, o presente vive ao sabor dos gestos pessoais de uma minoria incapaz de motivar o País para um projecto de futuro. O close-up cinematográfico ensaiado é assim o seu maior rasgo cultural. A ilusão continua a ser o seu fundamento.


(1) Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares

(Imagem, in nonas-nonas.blospot.com)

sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril de 1974 - Os Sons da História

Tantos sons prepararam a grande esperança e tantos outros se criaram durante o período romântico em que tudo parecia possível. Apenas alguns, os que revelam como o 25 de Abril se articulou com outros horizontes, onde também a esperança da Liberdade se fazia sentir ...












O 25 de Abril de 1974 ... Os Cartazes


(Imagens, in Centro de Documentação
da Universidade de Coimbra)

25 de Abril de 1974 - Os Idealistas ...


Neste dia, todos os anos lembramos os episódios de um golpe militar, os protagonistas que conduziram ao fim do regime cinzento e medíocre que tinha sido o Estado Novo. Neste dia, revemos as imagens de alegria de uma população que se sabia presa a um modelo de sociedade sem presente, nem futuro. Neste dia, alguns pelo menos, gostamos de lembrar os idealistas.

Aqueles que sonharam com a dignidade perdida, não com o pode
r, os que acreditaram que a determinação, espelho da vontade se concilia com o espírito de mudar as condições e os direitos da comunidade de homens. Aqueles que sonharam com ingenuidade na boa vontade, não com o calculismo de obtenção de cargos. Aqueles que pertencem à raça de superior de se saberem ao serviço de um ideal.

Sem ideologia, sem plano, apenas a do serviço a uma cau
sa. Aqueles, muitos poucos, raríssimos que souberam lidar com os Ditadores com delicadeza, porque são por natureza, da dimensão maior do Homem. Executada a função, entregue a liberdade, revelado o seu sorriso, afastaram-se sabendo que a onda que os moveu já não faz parte da espuma violenta que outros tão sabiamente saberão executar.

«O dia inicial e limpo» de que falava Sophia é a sua melhor memória, a de um Homem muito especial, que soube fazer as escolhas corajosas, apenas por isso, pela coragem do Ser.
Neste dia, um agradecimento muito vivo à memória de um Homem muito especial. Chamava-se Salgueiro Maia.




(Imagens, Capitão Salgueiro Maia, in Geocites.com,
Flores do Campo, no Parque Natural de Montesinho)

25 de Abril de 1974 - As Imagens da História







(Imagens, in Centro de Documentação da Universidade de Coimbra, Enciclopedia.com, blogluso-carioca)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Concertos ...


Na Casa da Música, de hoje até domingo dá-se voz ao Projecto iniciado o ano passado com a Temática Música e Revolução. Este ano a programação procura especialmente marcar a diferença, fazendo uma pequena subversão dentro da subversão, nas palavras de António Jorge Pacheco, o Director Artístico da Casa da Música.
Este ano a música erudita virá até ao parque de estacionamento e a música popular irá até à sala Suggia.
A programação traz até nós, um dos criadores que irá influenciar a música contemporânea, justamente Stockhausen. Será ainda possível ouvir William Parker na homenagem a um dos criadores de vários hinos de luta pelos direitos civis nos Estados Unidos nos anos sessenta, Curtis Mayfield.
A diversa programação procura aliar as ideias de revolução e música, propondo contacto entre as lutas civis nos Estados Unidos e o Maio de 1968 em França.
The Last Poets, nascidos na transformação cultural dos anos sessenta, vincaram a tradição da palavra num contexto de luta pelos direitos civis. A sinfonia de Berio e algumas canções desse tempo cantadas por Maria de Medeiros, testemunhos de um tempo em que se procurava dar à imaginação plena dimensão em todos os sentidos da vida, inicia este ciclo na Casa da Música.

(Imagem, Casa da Música, na Cidade do Porto)

Concertos ...


A Fundação Calouste Gulbenkian propõe para amanhã, dia vinte e cinco de Abril, no Grande Auditório, um duplo concerto com música de Mozart e Stravinski, a um preço muito acessível, cinco euros. Será tocado de Stravinski, uma Sinfonia em três andamentos e de Mozart a Sinfonia Nº 31 em Ré maior, K.297, que o genial compositor criou da última vez que esteve em Paris.
É uma proposta muito interessante para disfrutar de uma grande experiência musical. As obras tocadas serão depois comentadas.

Concertos ...

O Centro Cultural de Belém oferece a partir de hoje e até domingo uma programação musical enquadrada na 3ª edição dos Dias da Música. Esta 3ª edição tem como tema central a obra de Johann Sebastian Bach e a sua influência num conjunto variado de compositores. É proposto um conjunto de itinerários diversos, que oscilam entre diferentes períodos da História da Música, como o período romântico ou um espaço de improvisação como a que o Jazz permite. Haverá ainda histórias sobre Bach e diálogos com músicos.
Para os interessados por esta iniciativa fica aqui o programa:


Canções de Abril ...

Neste mês, quando a Primavera já se iniciou, e as andorinhas começam a regressar, os sons dos dias que juntaram nas palavras a indignação e um tempo diferente. A beleza de encontros em caminhos de chuva, onde a ternura perdida em desencontros procurava renascer em todos os dias que o sorriso nos podia dar um outro amanhecer. Neste mês de celebração de revoluções, uma, a mais importante, a que está dentro de nós.





Nasceu na Bélgica, e antes de todos os protestos e descobertas fez nascer um universo novo.Trouxe-nos no coração, com entusiasmo, verdade e beleza. Basta ouvi-lo para ainda hoje compreendermos a sua entrega, o sorriso de criança abalado entre a alegria e a solidão, mas sempre com o rasgo de génio e humildade que só alguns conseguem demonstrar. É, talvez, o maior património da cultura francesa neste tempo em que a Lei Imperial torna quase todas as músicas uniformes, destruindo os patrimónios particulares. Chamava-se Jacques Brel, é também um cantor de Abril, na medida em que neste mês nasceu para toda a Humanidade, com a paisagem da beleza na voz e nos olhos.


quinta-feira, 23 de abril de 2009

Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor III



No Dia Mundial do Livro, um Livro em milhões de livros, uma palavra entre tantas, uma respiração de um manuscrito entre tantos. Uma proposta muito conhecida, talvez menos lida, mas que nos apresenta de uma forma feliz a ligação entre a História e o Livro, como objecto do desenvolvimento cultural e material das civilizações. A História é por de mais conhecida. No essencial o que mais fascina neste Livro é o seu discurso sobre o que representa o Livro, naquela sociedade, mas também o que representa afinal o conhecimento em qualquer sociedade?

Elke Heidenreich sublinha que o livro, a leitura pode criar os dissidentes, pela formação de uma opinião, pelo acto de reflectir. Todos sabemos que todas as ditaduras, em diferentes continentes e de diferentes tempos pretenderam queimar e destruir bibbliotecas e livros, numa fúria tão irracional como inútil. Um sonho velho de fantasmas, como se a morte física de um livro, de uma pintura, de uma escultura pudessem eliminar aquelas palavras, aquelas ideias para toda a eternidade. Não correram os livros e os seus leitores tantos riscos pela demonstração de vida, de emoção que por eles circulavam? A leitura permite criar uma esperança feliz no leitor. A de que é possível concretizar uma acção, uma vontade, um sonho.

Em O Nome da Rosa são todas as Bibliotecas perdidas na História que se revelam, todos os manuscritos que lutaram para nascer para o pensamento humano. Em O Nome da Rosa ouvimos os princípios de muitos censores, o medo do riso, o desconforto com a imaginação, a certeza de que o conhecimento apenas precisa de ser recapitulado, pois não há mais nada de novo para descobrir ou reflectir.

Em O Nome da Rosa ouvimos os valores gastos do Poder que se exerce apenas pelos princípios ancestrais dos que governam para manter a riqueza controlada nos palácios, onde a dúvida é tão aceitável como a verificação da legitimidade de quem o exerce. Os seus actos não carecem de justificação. A sua existência como forma de autoridade é suficiente para garantir que pelo medo se perpetua os caminhos da injustiça. É este o valor de O Nome da Rosa. Talvez o melhor livro sobre os Livros e o seu papel para abrir caminhos para novos mundos de igualdade e esperança.

Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor II

Nas proximidades do vinte e cinco de Abril, um marco de esperança e de desilusão para o Portugal de 2009, ainda pensando no Dia Mundial do Livro, um poema de um dos poetas deste mês de charme, Manuel Alegre.

Letra para um Hino
«Porque mudando-se a vida
se mudam os gostos dela»

Camões, Babel e Sião
É possível falar sem um nó na garganta
É possível amar sem que me venham proibir
É possível correr sem que seja a fugir.

Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta

É possível andar sem olhar para o chão
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros

Se te apetece dizer não grita comigo: não.

É possível viver de outro modo.
É possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.

É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre.


Não estando a vida nos livros, ela tem outra dimensão é por eles que podemos com a utilização da palavra escrita aprender a escutar a voz humana, nas palavras de Adriano. É uma experiência para uma viagem maior e mais difícil, mas também mais ousada, a da aventura humana.

(Imagem, Rembrandt, A Profetisa Ana, Rijksmuseum (Amesterdão), in
Stefan Bollmann, Mulheres que Lêem são Perigosas
)

Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor I


Hoje decorre mais um aniversário do Dia Mundial do Livro. Celebra-se esta data desde 1996. Com esta iniciativa a Unesco procura chamar a atenção da comunidade de pessoas e nações para o património cultural e histórico que representam as obras deixadas por sucessivas gerações de escritores, poetas, historiadores ou romancistas. O direito do autor é um reconhecimento que é feito pela Declaração Universal dos Direitos do Homem.
A ideia de celebrar o livro como objecto no dia-a-dia nasceu na Catalunha, onde se oferecia uma flor a quem comprasse um livro.
Nesta data coincidem o nascimento ou morte de grandes figuras da história cultural do homem, como Cervantes ou William Shakespeare. Todos os anos a Unesco indica uma capital que funciona durante um ano, como a Capital Mundial do Livro. Este ano Beirut será a Capital Mundial do Livro.
As iniciativas são múltiplas para relembrar a importância do livro como património e como objecto de uma memória colectiva que pertence a toda a Humanidade. Em Portugal decorrerão hoje algumas iniciativas em diferentes cidades.
Em Lisboa e no Porto, associações culturais e entidades públicas promovem em espaços diversos este contacto com o livro a diferentes leitores.
Neste dia deixamos aqui o link para um recurso espantoso, A Biblioteca Digital Mundial da Unesco. Dividida em nove áreas geográficas tem um fundo documental extraordinário ao nível do manuscrito, da cartografia ou a fotografia. É um projecto dirigido pelo Director da Biblioteca do Congresso Americano, pode ser acedido, a partir do link abaixo:


(Imagem, in Unesco.com)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Dia da Terra III



No dia Mundial da Terra uma mensagem de um «Selvagem» para os homens civilizados deste Tempo

«É possível comprar ou vender o céu e o calor da terra? Tal ideia é estranha para nós. Se não possuímos a frescura do ar e o brilho da água, como podem comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada areia da praia, cada bruma nas densas florestas, cada clareira e cada insecto a zumbir são sagrados na memória do meu povo. A seiva que corre através das árvores carrega as memórias do homem vermelho.

Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem, quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos nunca esquecem esta bonita terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. A flores perfumadas são nossas irmãs, o cervo, o cavalo e a grande águia são nossos irmãos. Os cumes rochosos, os sulcos húmidos dos campos, o calor do corpo do potro, e o homem - todos pertencem à mesma família.

Deste modo, quando o Grande Chefe manda dizer que quer comprar a nossa terra, ele pede muito de nós. (...) Assim, consideraremos sua oferta de comprar a nossa terra. Mas não será fácil, pois esta terra é sagrada para nós. Esta água brilhante, que corre nos riachos e rios, não é somente água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada e devem ensinar às vossas crianças que ela é sagrada, e que cada reflexo do espírito, na cristalina água dos lagos, revela acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, eles saciam a nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos a nossa terra, vocês devem lembrar-se e ensinar às vossas crianças que os rios são nossos irmãos, e vossos também, e que devem, daqui em diante, dar aos rios a bondade que dariam a qualquer irmão. O homem vermelho sempre temeu o avanço do homem branco, como a névoa da montanha corre antes do sol da manhã. Mas as cinzas dos nossos pais são sagradas. Suas sepulturas são solo sagrado e, portanto, estas colinas, estas árvores, esta porção do mundo, são sagradas para nós. Sabemos que o homem branco não entende os nossos costumes. Uma porção da terra, tem o mesmo significado que qualquer outra, como um forasteiro que vem à noite e tira da terra tudo o que necessita.

A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, continua simplesmente seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus pais. E não se importa. Rouba a terra de seus filhos. E não se importa. As sepulturas de seus pais e os direitos de seus filhos são esquecidos.
Trata sua mãe, sua terra, seu irmão, como coisas para serem compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou contas coloridas. Seu apetite devorará a terra e deixará somente um deserto.

Não há lugar calmo nas cidades do homem branco. Nenhum lugar para escutar o desabrochar das folhas na primavera ou o bater das asas de um insecto. Mas talvez seja porque sou um selvagem e não compreenda. O ruído parece apenas insultar os ouvidos. E o que resta da vida, se o homem não pode escutar o choro solitário de um pássaro? (...) Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. (...) É o fim da vida e o começo de uma sub-vida. (...)

Guardem, na memória das suas almas, como era esta terra quando vocês se apossaram dela. E com todas as vossas forças, com todas as vossas almas, com todos os vossos corações, preservem esta terra para as vossas crianças, e a amem como Deus ama a todos, uma coisa nós sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é preciosa para ele. Mesmo o homem branco não pode estar isento do destino comum. Apesar de tudo, podemos ser irmãos. Veremos.»

Excertos do discurso do Chefe de Seatlle (1855)
(lìder do povo Duwamish)
, in «Seattle Historical Society»



(Imagem - Pál Szinyei Merse, Pipacsos mezo (Um Campo de Papoilas), Galeria Magyar Nemzeti

in, O Impressionismo, Direcção de Ingo F. Walther)




Dia da Terra II

No dia vinte e dois de Abril celebra-se o Dia da Terra.
A acção destruidora do homem sobre os habitats naturais é demasiado evidente. E até os santuários naturais, locais de reserva da vida natural estão ameaçados. É costume nestes dias expor todas as consequências da acção do homem e o conjunto de intenções, sempre grandiosas que os estados nacionais e os governos irão a partir de cada momento concretizar.

Na medida em que ao Homem ainda não parece suficiente toda a destruição causada, com consequências sobre a qualidade de vida de milhões da espécie humana, deixamos antes, as imagens desta Terra e aquilo que futuras gerações poderão perder, um Planeta grandioso e fascinante.



Dia Mundial da Terra I


Uma das muitas campanhas que hoje se assinalam para chamar à atenção de todos para os perigos que a casa comum da Humanidade sofre com as alterações provocadas pela acção do homem. Um convite à consciência de todos para os recursos físicos que se vão esgotando, para a qualidade da água e do ar, para as diferentes espécies que o habitam e para sobrevivência de muitos milhões de pessoas que vivem as dificuldades de uma utilização desajustada e irracional do Planeta.

(Imagem, in mendocino.edu)

domingo, 19 de abril de 2009

A Amizade - Carla Francisco - 5ºA

A amizade é uma coisa fantástica. Pois nós, no nosso dia à dia podemos fazer tanta coisa boa às pessoas que estão ao nosso redor. Basta estarmos atentos. Quando vemos alguém a chorar a um canto devemos ir ter com essa pessoa e ver se a podemos ajudar no seu problema.

O mesmo fazem-me os meus amigos, pois posso contar com eles para desabafar alguma mágoa que eu possa ter. Os meus pais são sem dúvida os meus melhores amigos. Dão-me tudo com carinho e fazem tudo por mim, pois querem que eu seja feliz.
Os meus pais estão sempre a tentar que eu tenha paciência com alguém que eu goste muito, muito mesmo e que essa pessoa não demonstre por mim amizade. Os meus pais também dizem que o amor e a amizade são a mesma coisa.

E, eu vejo que as pessoas não entendem isso, pois há tanta guerra no mundo por coisas insignificantes.
Tão bom que seria viver no Mundo cheio de amizade onde todos se pudessem compreender.



(Imagem - Wladyslaw Podkowinski, Dzieci w Ogrodzie
( Crianças no Jardim),Varsóvia, Museu Naradwe
in Impressionismo, Ingo F. Walther)

O sonho da Formiga - Ana Isabel Ferreira - 7ºC



Algures no mundo, havia uma formiga que queria voar.

Certa manhã, quando a formiga ia dar o seu passeio matinal, avistou um vulto numa macieira carregada de belas maçãs vermelhas. Era um esbelto canário, com uma cor amarela que reluzia como o sol num dia de Verão.

Podia estar aqui a sua oportunidade, por isso, pensou: «Se eu pedir ao canário amarelo que me dixe dar uma volta nas suas asas, posso concretizar o meu sonho». E assim foi. Se bem o pensou, melhor o fez e, em poucos minutos, estava à conversa com o pássaro, quando ouviu um murmúrio muito baixinho, vindo do chão:

- Sr. Canário, Sr. Canário! - chamava a formiga. Mas o pobre canário, tão lá em cima, não conseguia ver quem falava com uma vozinha tão suave. É que uma formiga já é pequena e, vista do cimo da árvore, ainda fica menor, parecia uma pulga mínima! Então, a formiga insistiu:

- Aqui! Aqui em baixo! O Sr. não me consegue ver porque sou uma formiga e está muito afastado! Não se importa de descer para podermos falar? - pediu a formiguinha.

O canário, gentilmente desceu, para que pudessem conversar. A formiga contou-lhe o seu sonho e o pássaro, com o seu generoso coração, acedeu de imediato ao pedido.

Estava a realizar o seu sonho, voando nas asas do canário amarelo. Tudo estava perfeito, até que uma flecha desgovernada de algum caçador mais distraído atingiu uma das asas do pássaro. A formiga, numa grande aflição, procurou salvar-se a si e ao seu novo amigo, mas não conseguia perceber como fazê-lo. De repente, deu por si sentada num banco de jardim com uma pena amarela no colo ...

Toda esta aventura não devia ter passado de um sonho, afinal, todos sabemos que as formigas não podem voar!


(Imagem - Claude Monet, The Artist's Garden at Giverny, 1900,
Musee d' Orsay, Paris, in cultuar.com)

sábado, 18 de abril de 2009

Dia Mundial dos Sítios e dos Monumentos II

Um País com a História deste País ainda tem os espaços culturais e ambientais que podem e devem ser apreciados pelos herdeiros desta memória colectiva que somos todos nós. Alguns exemplos apenas.







Na Comemoração deste Dia Mundial dos Sítios e Monumentos, a Campanha do IPPAR, para os que quiserem aos Domingos, em família visitar os espaços do nosso património. A infor
mação detalhada pode ser consultada aqui.


(Imagens, da cidade do Porto - os Jarandás, a Livraria Lello e a Foz do Douro, à serra da Aboboreira, ao castelo de Bragança, aos Moinhos de Cabeceiras de Basto, ao Mosteiro de Paço de Sousa e ao Parque Natural de Montesinho, in aboutportugal-dylan)


Dia Mundial dos Sítios e dos Monumentos I


O esforço dos Estados deve concentrar-se na dupla tarefa de conservação e da divulgação dos grandes artistas e não no apoio a criadores cuja fama pode durar exactamente quinze minutos. (1)


Hoje, dia 17 de Abril comemora-se o Dia Mundial dos Sítios e dos Monumentos. O património em Portugal, apesar de alguns progressos continua num estado pouco edificante. Num País pobre com uma crise económica e social grave a aposta tem sido as obras do regime. No centro das cidades, na arquitectura, nos interiores de igrejas o panorama é decepcionante. Não temos um investimento público e privado a projectos consistentes que dinamizem a actividade económica. O País na figura de quem o governa não compreende que é nos centros das cidades que se pode realmente dinamizar um verdadeiro investimento público. É esse o nosso património.

O património dos edifícios e das árvores, das bibliotecas e livrarias de bairros, da reconstrução de equipamentos com técnicos que estão a desaparecer ao nível d
o restauro qualificado da madeira, do gesso, da pedra. É o património que nos permitiria dinamizar os centros das cidades, tornado-as espaços animados e não locais vazios e sem alma. É o património dos sabores, da cozinha tradicional, dos produtos qualificados por gerações de saber.
É este o caminho que importa a um País com poucos recursos. O do património que possa oferecer os clássicos da Literatura, a música, a arte aos jovens em escolas que sejam mais do que depósitos de modas educativas onde o futuro está entregue às experiências de uns poucos iluminados.

Considerar investimento público necessário ao desenvolvimento do País a criação de linhas de TGV parece tão inteligente como a aplicação passada nos bens de luxo q
ue empobreceu este País entre o capitalismo comercial do século XVI.
Portugal tem nas cidades indianas de Goa e Damão um rico património que está por apoiar. Das pinturas murais, ao património documental e ao mosteiro de Santa Mónica na antiga capital do Império Português do Oriente muito pode ser feito que permite desenvolver a actividade económica e cultural. As duas podem estar relacionadas. Basta inteligência para as promover.

A soberania dos Países constrói-se tendo em atenção o que os pode desenvolver.
Os grandes países medem-se pela sua capacidade cultural, pela felicidade que conseguem colocar na acção dos seus cidadãos. Não será por acaso que países como a Suécia, a Noruega, a Dinamarca ou a Finlândia não conhecem as maravilhas desse transporte que para a actual classe dirigente parece tão essencial como os solares de uma nobreza falida de outros tempos.





(1) Maria Filomena Mónica,
O Estado e a Cultura
, Seminário Europa e Cultura,
Fundação Calouste Gulbenkian
(Imagens - in, ippar.pt, Fortaleza da Ilha do Pessegueiro e luxurytraveler.com)