quinta-feira, 14 de maio de 2009

O Próximo Desastre


Portugal à semelhança de uma mau aluno não pensa, não estuda, não trabalha. À semelhança dos novos ricos importa as modas. Todas as modas. Ausente de originalidade, e de força criadora, copia sem compreender. Dedica-se à metafísica do oportunismo do momento, sem esforço, nem grandeza.

Acredita como no tardio Império Romano, que a força do imperador não reside nas qualidades de quem governa, nem nas propostas da sua equipa. Tudo se resume à guarda pretoriana que guarda o palácio. A satisfação do poder é o único requisito para o exercer.

Controlar o mensageiro e assim dominar a mensagem. A dimensão intelectual e política como causa política fica esquecida, refém do sucesso social mais curto. Da avaliação dos docentes ao estatuto do aluno, da manipulação de imagens e de conceitos utilizando actores contratados, à desvalorização do conhecimento com o afastamento da filosofia ou dos clássicos
, do facilitismo ao politicamente correcto onde todos podem saber tudo, mesmo a partir do nada, revela o traço de uma sociologia eleitoral, sem fundamentos sólidos com o futuro.

Sim. Haverá um futuro. E nele a recordação da actual equipa ministerial será a do espanto. Não deveria a Democracia e a República serem servidos pela competência, pela transparência e rigor dos princípios? Não está a Democracia em risco quando o nível dos servidores da causa pública parece tão pobre?

E para este futuro, algo que se nos apresenta já como a torre da obediência, promete vir deste passado e que retirará ao futuro dignidade e competência. Justamente o próximo desastre. A gestão das escolas nas mãos de um Director e a municipalização dos professores.

O rigor da cerimónia ainda só está em preparação e os sinais já são preocupantes e reveladores. As lutas pelo poder no PS de Braga e os episódios na Escola de Fafe e de Tavira só revelam o que os mais lúcidos há muito receavam. A demissão de pessoas independentemente do cargo e da experiência, substituídos pelos critérios da guloseima pelo poder. Não é necessário ser vidente para compreender o buraco negro que se avizinha.


Em Portugal pela própria fraca participação social das pessoas em associações de interesse comunitário, a construção de uma massa crítica é marginal. A muito breve espaço de tempo teremos duas castas sociais, a elite e os outros. Os que têm conhecimento real, e os outros.

Continuar a copiar tudo, dos sapatos, às modas educativas, nunca testadas. Sem qualificação o que podem ser a maioria dos Portugueses?


Não era possível, a partir do diagnóstico dos insucessos educativos mudar a realidade das escolas continuadamente, promover a formação dos professores e tornar as escolas realmente autónomas?
O futuro só se pode escrever com banalidade e não com grandeza? Não pode um País ter ambição a ser governado com princípios espirituais, onde se dê real valor ao Ser? Apenas podemos ser uma sociedade controlada, disciplinada pela tecnologia de um Estado onde as emoções e os valores se perdem? Apenas podemos existir. Existir, como dizia Eça de Queirós, «sem participar no espírito da civilização?» (1)

(1) Eça de Queirós, Distrito de Évora, 1872
(Imagem, Mary Cassatt, Reading Le Figaro,
in, Steffan Bollman, Mulheres que Lêem são Perigosas)

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