sábado, 31 de janeiro de 2009

Miguel Torga


Brinquedo


«Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel».

Miguel Torga


«Liberdade. Passei a vida a cantá-la, mas sempre com a identidade no pensamento, ciente de que é ela o supremo bem do homem. Nunca podemos ser plenamente livres, mas podemos em todas as circunstâncias ser inteiramente idênticos. Só que, se o preço da liberdade é pesado, o da identidade dobra. A primeira, pode nos ser outorgada até por decreto; a outra, é sempre da nossa inteira responsabilidade.»

«Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,

O logro da aventura.
És homens, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças».


Miguel Torga, Diário XVI /«Sísifo»

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Gandhi nas suas palavras



Vida Diária

«A voz humana nunca poderia cobrir a mesma distância que a pequena e silenciosa voz da consciência».

A força não é fruto das capacidades físicas. É fruto de uma vontade indomável».


Cooperação

«A economia que despreza as considerações morais é semelhante às figuras de cera que carecem de vida




«O homem converte-se aos poucos naquilo que acredita poder vir a ser»


Paz

«Se actualmente há tanta mentira no nosso mundo extraviado é porque cada um dos seres humanos reivindica os direitos de uma consciência iluminada sem se submeter à mínima disciplina. Para descobrir a verdade é necessário, antes de mais, ter uma grande humildade. Para penetrar no coração do oceano. (...)


Não- Violência

«A não-violência é a maior força existente à disposição do género humano. (...) Temos de conseguir fazer com que a verdade e a não-violência não se limitem a ser questões de prática individual, mas que sejam praticadas por grupos, comunidades e nações.»


A sabedoria de Gandhi (organização de Richard Attenborough)
All Men are Brothers: The Life and Thoughts of Mahatma Gandhi as Told in His Own Words

Mahatma Gandhi


«Sempre foi para mim um mistério o facto de os homens se sentirem honrados com a humilhação dos seus semelhantes» (1)

Albert Einstein, disse dele, em 1948, «gerações vindouras dificilmente acreditarão, que um homem destes, de carne e osso, tenha alguma vez andado por este Planeta». Relembramos, hoje trinta de Janeiro, os sessenta e um anos do desaparecimento físico de um homem excepcional, Mahtama Gandhi. Evocar a sua memória é relembrar os nossos ideais humanos, na medida em que ele representa a consciência da própria humanidade.
Falamos aqui de uma figura intemporal que lutou com energia, abnegação e inteligência por um mundo mais justo e mais igual entre todos. Com consciência lutou pela verdade nas relações humanas , mostrou-nos que a força do espírito, alimentado pela razão pode vencer impérios e que não existem deuses acima da Verdade, considerada como valores universais.
Lutou pela independência da Índia através da desobediência civil, através de marchas cívicas de protesto ordeiro, aceitando o sofrimento para justificar uma causa nobre e defendendo a verdade, mesmo que representada num só homem.
Defendeu o trabalho manual, a reposição da dignidade entre todos, a recuperação da auto-estima dos mais humildes na sua construção individual do futuro. Conduziu a sua vida na conquista de um sonho, o mais elevado. Iluminar a Humanidade para um caminho de paz e harmonia.
Deixou-nos elevados valores ligados à liberdade individual, condições para afirmar a liberdade política, a justiça social e a tolerância. Criou um pensamento que assentava em dois princípios: a Satyagraha (a força da verdade e do amor) e o Ahimsa (a não-violência).
Todos os movimentos que no século XX lutaram contra a opressão dos impérios coloniais, ou contra a violência ou o racismo inspiraram-se nele. Todos os homens que aspiraram no século XX a um mundo melhor, livre da injustiça social, da guerra e da ditadura individual foram procurar motivação nas suas palavras.
De Martin Luther King a Nelson Mandela e a Aung San Suu Kyi na Birmânia, todos compreenderam que a força do seu exemplo e a nobreza da sua causa permitiram fazer evoluir o Homem. Da guerra do Vietname à praça de Tianamen, o seu exemplo deu força à coragem de alguns para se construir uma Humanidade mais fraterna.
Este homem, vítima da intolerância, no seu próprio tempo, com as questões relacionadas com a separação da Índia e do Paquistão, após a saída dos Ingleses, guardou para nós o melhor de uma consciência mundial, disponível a todos.

(1) Mahatma Gandhi, 1893, durante os protestos na África do Sul

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Miguel Torga


«O Doiro sublimado. O prodígio de uma paiagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que se contempla: é um excesso da natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir encostas (...) um poema geológico. A beleza absoluta.» (1)

No mês em que na Biblioteca, lembramos Miguel Torga, um pequeno texto sobre a matéria da sua escrita - o Douro e o Reino de Magia onde ele se suporta.
O Douro, o seu vale, as suas montanhas são uma ilha profunda onde a grandeza do natural ensinou ao homem o caminho do ser. A determinação numa natureza diversa, entre o xisto e o granito, entre a terra e o céu, um homem lutador construiu uma história humana deslumbrante, o Alto Douro Vinhateiro.
Entre o Atlântico e o interior continental uma síntese dos elementos, permitiu na sua combinação, que o fogo, a terra, o ar e a água se combinassem em encostas escarpadas, onde as palavras, os risos, o sofrimento do homem erigisse um monumento à sua grandeza - o generoso vinho do Porto.
O Douro é certamente isso, mas também é muito mais. Para o compreender é preciso chegar perto, aos seus sinuosos contornos. Em nenhuma outra paisagem deste País, a Natureza e o Homem se souberam dar, numa aprendizagem mútua como no Douro. Foi justamente à volta da vinha que os homens procuraram novos conhecimentos, que a organização social evoluiu ou que o património cultural foi preocupação dos diversos grupos sociais. Preocupação para com o valor cósmico de um vale, que criou no trabalho da uva os seus rituais próprios, os socalcos, as cepas, a vindimas, a navegação.
Hoje, que a mecanização e as barragens forçaram o grande rio a uma domesticação, onde os risos e os abraços já não são tão regulares, importa conhecer conhecer ainda a génese desses vales e da sua vida - a montanha.
É na contemplação desses montes austeros, panorâmicos, de uma beleza absoluta numa magia que só a montanha pode revelar que podemos encontrar o horizonte infinito. É o Douro do granito, onde a escala humana já não é suportável, mas onde compreendemos que foi ali que nascemos para a imensa novidade de descoberta do mundo.


(1) Miguel Torga, Diário XII

Imagem: A Caminho do Pinhão
 (Fonte: Douro - Muito mais que um Rio- Evasões)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Mozart: escrita de palavras

Palavras de Mozart onde se visualiza o seu génio humano, feito de determinação, vontade, mas sempre preenchido pela consciência da sua voz.

«Ainda estou vivo, e muito bem-disposto (...) temos a honra de conviver com um certo dominicano, que é considerado santo. Eu não acredito (...)» (21 de Agosto de 1770)


«(...) no aposento do imperador se toca música que afu
genta os cães.» (13 de Novembro de 1777)

« (...) outros, que de mim não sabem nada, observam-me com olhos grandes, igualmente risíveis. Pensam que, por eu ser pequeno e jovem, não poderá haver em
mim nada de grande e adulto (...)»
(31 de Outubro de 1777)

«Dêem-me o melhor piano da Europa, mas com uma audiência que nada percebe, ou que nada quer perceber, e que não sente comigo aquilo que toco, e perderei to
do o prazer (...) Pois também aqui tenho os meus inimigos, mas onde é que não os tive? No fim de contas, é sempre um bom sinal (...)»
(Paris, 1 de M
aio de 1778)

«(...) vejo por aqui tantos medíocres que fazem carreira, e eu com o meu talento não deveria ser capaz?» (31 de Julho de 1778)

« (...) infelizmente acredita mais no falatório e rabiscos de outras pessoas que em mim (...) permanecerei o mesmo homem honrado de sempre (...)»
( Carta ao pai, 5 de Setembro de 1781)


«(...) a minha honra está para mim (...) acima de tudo.»
( 19 de Maio de 1781)


(Passagens das cartas de Mozart ao seu pai)
Wolfgang Amadeus Mozart, Uma Vida Secreta

Mozart - A Virtude do Génio

«Aquele que possui em si a plenitude da virtude
É como uma criança acabada de nascer» (1)


Mozart, cujo data de nascimento celebramos, é um dos mais elevados marcos da música universal e do pensamento. Criança prodígio na execução dos sons, compositor de centenas de obras musicais tentou por sua conta e risco mostrar o seu talento sem a sombra de patronos.
Tendo sido um dos maiores compositores universais onde a complexidade nos é transmitida de forma simples, morreu jovem. Homem optimista, esforçado nas suas tentativas para ser livre, viu postumamente o seu génio ser reconhecido.
Músico brilhante nunca quis abdicar da sua honra e da sua consciência, mesmo perante os mais poderosos.
Mozart é igualmente um marco na história do pensamento porque representou um esforço para libertar a sociedade humana do controle apertado e sufocante da Cidade de Deus. No século XVIII a Europa Continental ainda estava longe de tolerar diferenças religiosas. Algumas das óperas de Mozart, procuraram mostrar que no serviço a Deus existiam diferentes caminhos. A tolerância e a procura do próprio conhecimento é um direito do Homem. Don Giovanni representa a tentativa de procurar esse caminho novo, ao encontro de uma liberdade que seja acessível ao género humano. A condenação final é ainda a confirmação de uma sociedade velha onde o controle apertado da religião sobre os indivíduos é manifesta. De uma forma geral, pelos sons que criou Mozart, perto dos finais do século XVIII, ajudou a construir esse trajecto que levaria à liberdade individual do Homem em criar o seu próprio caminho. Naturalmente pela vida que teve e pelo património que deixou, podemos concluir com Zhu Xiao - Mei «Mozart é uma criança (...) que tudo conheceu. Uma criança que teve a profundidade de um velho sábio».

(1) Zhu Xiao-Mei, O Rio e o seu Segredo

Mozart - uma biografia

Evocamos a partir de hoje, em alguns posts os duzentos e cinquenta e três anos do nascimento de Mozart.
De seu nome Wolfgang Amadeus Mozart, nasceu a vinte e sete de Janeiro de 1756 em Salzburgo. Filho de um compositor, Leopold Mozart, foi desde cedo uma criança onde o talento e o génio estavam presentes. Aos três anos já tocava piano e escreveu o seu primeiro concerto aos seis anos.
Percorreu a Europa, tocando para as casas reais. De Salzburgo a Viena, passando pelas cidades italianas dá concertos, publica as suas obras (canções, concertos, óperas) e ensina música.
O seu génio não lhe irá facilitar a vida. Consciente do seu talento, é alvo da inveja dos mais medíocres. Viveu num tempo em que para as casas reais o músico era mais um criado, um serviçal como qualquer outro.
Viveu dificuldades várias, entre problemas financeiros e de saúde. É já no fim da vida que compõe a Flauta Mágica, obra de profunda beleza.t Morreu com apenas trinta e cinco anos, a cinco de Dezembro de 1791.
Durante este mês, a entrada musical do Blogue será feita com a sua música, nomeadamente a sonata de Piano (Allegro) tocada por Maria João Pires.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Leitura, Memória e Cidadania



«Nada tem efeitos reais, transformadores, inovadores, que tragam intensidade à nossa vida colectiva. (...) O direito à cultura e ao conhecimento ainda não chegou ao sentimento da população portuguesa» (1)

Frequentemente ouvimos que em Portugal se lê pouco, compram-se poucos livros. Argumenta-se que o seu preço, a sua difusão limita a sua aquisição. Premissas pouco válidas nos tempos presentes.
Os livros requerem um público interessado, formado na curiosidade e no desejo de novos horizontes, de novos planos para a sua existência diária. Não existe uma comunidade de leitores, no sentido que a ofereçam como um produto cultural transformador a cada um no seu plano individual.
Dirão muitos que temos a Internet. Acedemos assim à informação de um modo global, empacotado, sem esforço e personalização. Começamos a viver num tempo social em que todas as nossas qualidades, pelo menos as que parecem evidentes para o nosso controle de qualidade se reduzem aos algoritmos que nas diferentes máquinas soubermos realizar.
As organizações sociais fundadas há milénios para a transmissão de conhecimentos, para a partilha e construção de saberes relacionais estão hoje dominadas por um tecnicismo sem memória.
Há cinquenta anos em Portugal, como na Europa, quem sabia ler e escrever conhecia os planos do espaço e do tempo. Sabia orientar-se, tinha um passado, construía qualquer futuro na percepção e na memória do que tinha recebido. O desprezo actual pela memória é a concretização de uma ignorância pelo passado, no fundo pela própria História e onde se visualizam as saudades por um futuro desconhecido e apressado.

Há três dias, Portugal e Espanha encontraram-se em mais uma cimeira ibérica, através dos seus primeiros-ministros em Zamora. Alguém compreendeu pelas actividades ali desenvolvidas que estavam em Zamora? Num local onde os dois países afirmaram as suas particularidades nada na cerimónia revelou o local da cerimónia. Ocorrer em Zamora, nas Berlengas ou nas Desertas revela como se cuida da memória de um território
.
A História que no nosso caso nos poderia salvar deste futuro de confronto exageradamente económico é esquecida. A História que nos resguardaria das cidades de plástico, onde as paisagens e as memórias colectivas se perdem é assim ignorada e com ela o futuro participado e consciente de novas gerações. Sem a particularidade da sua cultura a Portugal só lhe esta existir, sem participar no movimento de civilização que abrange outras latitudes.

A questão de falta de leitores encontra-se no mesmo horizonte cultural de um país que não arranja uns euros para salvaguardar o património literário de Fernando Pessoa, ou que dispensa uma pessoa do tamanho de Maria João Pires, ou se recusa a receber uma individualidade da grandeza do Dalai Lama.
Quando a inexistência do ser é tão marcante, pode existir uma comunidade de ideias abertas em discussão capaz de permitir a construção individual do futuro? Pode a Democracia sobreviver sem o uso esclarecedor de uma Razão que aceita a discussão participada e consequente das ideias? Pode uma Cultura ultrapassar o simples existir e desenvolver-se e recriar-se, sem uma alargada difusão das letras e por isso do livro?

O deslumbramento tecnológico a que assistimos, criador de um conhecimento instrumental é insuficiente quando as ideias e o valor delas se perdem nos circuitos de uma sociedade que não se sabe pensar, porque só aparentemente é informada.

(1) José Gil, Portugal, O Medo de Existir
Imagem acima retirada do Filme, Into the Wild

sábado, 24 de janeiro de 2009

Biblioteca Digital do Insituto Camões



O Instituto Camões abriu a oito de Janeiro a possibilidade de virtualmente se ter acesso gratuito a um vasto conjunto de obras de valor cultural e linguístico de primeira grandeza, a todos os que usam a língua portuguesa.
Já se encontram disponíveis mais de mil títulos, tendo sido os Lusíadas a obra mais descarregada.
Esta é mais uma demonstração de que as Bibliotecas Digitais ao conciliarem tecnologia e leitura estão a chegar a cada vez mais públicos, oferecendo uma variedade na forma e nos acessos que decerto motivam mais leitores.
Os títulos disponíveis podem ser descarregados em PDF, existindo alguns que podem igualmente ser descarregados para telemóvel e IPod.
Para um acesso a esta forma de consultar fundos documentais de variados temas e autores, em língua portuguesa podes clicar aqui.

Biblioteca de Livros Digitais


O Plano Nacional de Leitura e o Citi (Centro de Investigação para as Tecnologias Interactivas) da Universidade Nova disponibilizam um conjunto de livros dirigidos a crianças e a jovens para uma leitura online, é o livro electrónico.
É uma ideia de promoção da leitura que procura juntar livros e internet de modo a chegar a cada vez mais leitores.
Até ao momento estão disponíveis nove livros para leitura online.
A Biblioteca Digital pode ser acedida a partir do Clube de Leituras, que é um link que se encontra num dos separadores do lado direito deste blogue. Em alternativa podes chegar lá, clicando aqui.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Barack Obama


«Chegou a altura de reafirmar o nosso espírito resistente, (...) de fazer avançar o dom precioso, essa ideia nobre passada de geração em geração, a promessa dada por Deus que todos são iguais, todos são livres e todos merecem uma oportunidade para procurarem a sua felicidade total. Lembrem-se que as gerações anteriores (...) com convicções resistentes sabiam que apenas o nosso poder cresce, através do seu uso prudente, que a nossa segurança, vem da justiça da nossa causa, da força do nosso exemplo, das qualidades temperadas de humildade e de contenção»

Barack Obama, Discurso do Juramento na Tomada de Posse em Washington,
20 de Janeiro de 2009



Ontem, dia 20 de Janeiro de 2009, em Washington, capital federal dos Estados Unidos, um homem de origens humildes apresentou-nos uma promessa antiga onde a razão disciplinada, o espírito da vontade e o direito humano podem permitir a construção de uma sociedade mais justa.
Ontem, dia 20 de Janeiro de 2009, em Washington, capital federal dos Estados Unidos, uma massa humana pelo seu entusiasmo e genuíno apoio quis celebrar esta promessa.
Ontem, dia 20 de Janeiro de 2009, em Washington, capital federal dos Estados Unidos, o juramento nas suas palavras breves, mas de grande significado pareceram dizer-nos que é possível um soberano representar uma comunidade.
Ontem, dia 20 de Janeiro de 2009, em Washington, capital federal dos Estados Unidos, as palavras ancestrais de Jefferson «vida, liberdade e busca de felicidade» chegaram até nós com uma nova perspectiva.
Ontem, dia 20 de Janeiro de 2009, em Washington, capital federal dos Estados Unidos a esperança do mundo eclodiu como uma determinação em que as ideias sustentem uma nova responsabilidade mundial.
Ontem, dia 20 de Janeiro de 2009, em Washington, capital federal dos Estados Unidos, provou-se como uma Nação se pode renovar, como pode desenhar novas lideranças.
Poderia a Europa a assistir a algo parecido com o carácter genuíno que esta eleição teve? A América provou mais uma vez que o sonho individual e a capacidade podem ser reconhecidos e postos ao serviço do bem estar de todos, de uma forma mais justa.

As palavras de Barack Obama no seu discurso de juramento são uma inspiração para uma renovação da esperança. A missão é difícil e não será concretizada no curto prazo. Mas um novo começo poderá conduzir a novos horizontes.
Algumas das suas palavras nesse dia histórico aqui ficam para nos lembrar a nossa esperança e o sonho de uma Nação, que o é igualmente o do mundo, ou pelo menos de boa parte dele.


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Os Tons do Inverno



ç



No Mês em que evocamos Torga, as Cores do Inverno no «Reino do Maravilhoso»



segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Criar solidariedade com o desenho e a palavra


O Projecto «Save The Albatross» (Salvem os albatrozes) patrocina a criação de um fanzine sobre esta ave ameaçada de extinção por dificuldades várias. É uma oportunidade para jovens criadores divulgarem o seu trabalho, em forma de desenho (a preto e branco) ou palavra escrita (prosa ou poesia) ao serviço de uma nobre ideia, defender da extinção esta simpática ave.
Não existe qualquer prémio em dinheiro, visto que a ideia principal é publicar um trabalho ao serviço de uma causa.
A edição do fanzine está a cargo da editora «Qual Albatroz». Os fundos angariados serão canalizados para o «Save The Albatross». Os trabalhos serão vendidos a valores simbólicos, visto estarmos perante um projecto de solidariedade e acção cívica.
Qualquer pessoa pode participar neste projecto e caso surjam bons trabalhos existe a possibilidade da sua publicação em língua inglesa.
Para mais informações sobre o regulamento deste fanzine podes clicar aqui.

Ilustrar a Palavra


Decorre até ao dia vinte e oito de Fevereiro o 2º Prémio Internacional para Álbuns Ilustrados promovido pelo mucípio de Santiago de Compostela e pela Kalandraka, editora do país vizinho. O concurso pretende promover a ligação entre a palavra e a imagem, de modo a se construir uma linguagem comunicativa de complementariedade que estimule o prazer da leitura para os mais jovens.
As obras deverão ser originais e inéditas e podem ser apresentadas em qualquer uma das línguas oficiais que integram os Países que formam a Península Ibérica.
O 1º Prémio Internacional para Álbuns Ilustrados que decorreu em dois mil e oito, foi ganho por Natália Colombo, autora argentina, com o Álbum Perto. Trata-se de uma fábula sobre as emoções e os desejos que todos experimentam. Se tiveres curiosidade em saber mais sobre este Álbum, podes clicar aqui.

Eugénio - O Retrato de um Amigo



O texto abaixo retrata de forma inspirada o que a escrita de Eugénio representou num seu amigo e igualmente escritor, António Lobo Antunes. Foi retirado do seu segundo livro de Crónicas e tem o título, Bom Dia, Eugénio.


« Cocteau dizia que há homens com com coração de diamante que apenas reagem ao fogo e a outros diamantes e negligenciam o resto. É junto destas raras vocações de sarça ardente que me sinto em família, o que equivale a explicar que quase sempre estou só. Mas não posso queixar-me: os acasos da vida ou o facto de navegar, por instinto, na direcção certa, fizeram que encontrasse, de longe em longe, Açores e Madeiras no vazio das ondas, (...) Eugénio de Andrade, vulcões de camaradagem exigente e limpa, ilhas fraternas de rigorosa ternura, abrigos de pedra suave onde encostar a inquietação da febre, pessoas que nos reconciliam com a noite mais escura da alma de que Scott escrevia, por dela nos trazerem vestígios da manhã. E é de Eugénio de Andrade que falo hoje, perpétua varanda de basalto em chamas de frente para o mar.
Chamam-lhe o amigo mais íntimo do sol: de acordo, se o sol for obstinado e severo. Chamam-lhe poeta: de acordo, se as palavras nos trazem notícia da veemência do sangue. Chamam-lhe difícil: de acordo, se notarem a bondade de menino na pomba do sorriso que de tempos a tempos acende os passos seus e os nossos e nos mostra a única vereda que caminha a direito, macieiras fora, na direcção do rio. Não conheço ninguém com gestos tão longos e com uma tão aguda inteligência de alma. Onde poisa a atenção do ouvido tudo se torna búzio. Onde descansa os dedos tudo se torna gato comedido e atento. Onde os olhos lhe nascem aprendemos com ele o intransigente júblio do mundo. E no entanto que geografia de dor no país do seu rosto, que discrição no sofrimento, que impediosa dignidade medida em cada sílaba. A total ausência de vaidade do seu orgulho foi o que, ao encontrá-lo pela primaeira vez, mais profundamente me comoveu. José Cardoso Pires, que não tinha admiração fácil, contou-me do poema que Eugénio compôs na morte de José Dias Coelho, quando os heróis retrospectivos se calavam de medo nos anos de alcatrão sujo da ditadura. Não um panfleto, não um manifesto, não um grito: apenas a serena voz de um homem falando de outro homem, fitando-nos da sua altura terrena e, por consequência, desmedida. Um dos seus livros intitula-se Rente ao Dizer e esse rente ao dizer, despido do que não é corpo, devolve-nos a nós mesmos na condição de bichos sublimes em que nas páginas que acede a publicar nos tornamos. Ainda que em guerra Eugénio reconcilia-nos connosco ao deixar entrever os degraus que nos falta subir para estarmos lá em baixo, no
lugar que é o nosso, manchados da comovida urina e dos líquidos obscuros que nos protegem ao nascer e nos esperam, na sombra da morte, a fim de nos ajudarem a partir, pobres criaturas mudas vestidas de ranho e de poeira celeste. Para além da amizade que nele é dura e nobre, isto lhe devo também: o retrato da minha condição e a certeza de que algo para além de mim continuará nos seus versos, seja pássaro, nuvem ou laranja madura. Escrevi um dia que quando o coração se fecha faz mais barulho que uma porta. Não imagina como lhe agradeço, Eugénio, que o seu se mantenha calado num vigilante desvelo, convidando-me a entrar onde uma máscara de bronze nos aguarda para ficar connosco, naquela sala aberta rumo às palmeiras da voz. »


António Lobo Antunes, «Bom Dia, Eugénio»,
in
Segundo Livro de Crónicas, Páginas 301-302, D. Quixote

Eugénio de Andrade - O P0ema e a Vida


Despedida


Junho chegou ao fim, magoada
Luz dos jacarandás, que me pousava

Nos ombros, era agora o que tinha
Para repartir contigo

Um coração desmantelado

Que só aos gatos servirá de abrigo


Foi para ti que criei as rosas

Foi para ti que criei as rosas.

Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros

E dei às romãs a cor do lume.

Eugénio de Andrade (Antologia Poética)

Eugénio - Biografia I


Lembramos hoje o nascimento de um poeta, Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, homem das Beiras escreveu uma obra poética de grande significado. Nela podemos destacar: - As Mãos e os Frutos de 1948, as Palavras Interditas de 1951, O Coração do Dia de 1958, Os Afluentes do Silêncio de 1968, Limiar dos Pássaros de 1972, O Sal da Língua de 1995, tendo organizado diversas antologias.
A sua obra dá-nos em contornos de pinceladas de sensibilidade e de beleza a luta do homem em resistir à sua finitude, em superar as dificuldades de se relacionar com a cidade e com o tempo, demasiados opressivos para o coração do homem. Poesia de grande musicalidade estabelece com os elementos naturais e a infância uma proximidade que permita resistir a este tempo que vai desgastando o ser humano. Recebeu diferentes prémios de consagração à sua escrita inspirada e bela, onde os valores humanos da simplicidade e da humildade do poeta sempre se destacaram.
Esta pequena biografia informativa sobre Eugénio, nos oitenta anos do seu nascimento será completado com outros posts em que a sua palavra apresentará a sua imensa sabedoria, restrita aos poetas.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Um Projecto de Solidariedade


Em diferentes posts temos escrito sobre o dever de entre-ajuda que todos podemos desenvolver em diferentes áreas da vida humana. Deixamos aqui a publicitação de um projecto solidário em que todos os que usam as Tecnologias de Informação podem contribuir. O Projecto Gsolidário é um site de pesquisa de informação que utiliza a tecnologia oferecida pelo motor de busca do Google. A sua capacidade para procurar informação é semelhante à oferecida pelo Google e ao se utilizar o Gsolidário está-se a ajudar determinadas instituições de solidariedade social. O Projecto funciona do seguinte modo. A partir dos cliques efectuados na publicidade que se encontra nas margens da página é constituído um determinado valor em dinheiro. Quando se atinge os cem euros o dinheiro será depositado numa instituição seleccionada. Os utilizadores podem através do voto escolher durante um período de oito dias a instituição que lhes parece mais merecer a quantia acima citada. As Instituições apoiadas ficarão descriminadas na secção Instituição da página do Gsolidário. O Projecto pode igualmente ser apoiado através de actividades desenvolvidas no âmbito de blogues, newsletters, plataformas ou páginas Web. É uma forma simples, mas eficaz de usar os meios tecnológicos ao serviço da solidariedade social, aproveitando uma das formas mais rotineiras da sociedade contemporânea, aceder e gerir a informação.
O acesso ao motor de busca deste Projecto faz-se digitando http://www.gsolidario.org/

O conflito em Gaza


«(...) ambos são crentes absolutos e intransigentes. de olhar frio e têm para todos os problemas, respostas simples e categóricas» (1)

Vinte dias depois, são mais de mil mortos, trezentos dos quais crianças. Dos feridos nem vale a pena dar conta, os físicos e os de natureza psicológica. O centro humanitário das Nações Unidas destruído, casa em ruínas, escolas arrasadas, famílias destroçadas, sem um abrigo para se poderem proteger.
Em Gaza, o homem demonstrou, mais uma vez, o pior de si próprio. Pouco importa sobre as causas diversas de mais uma tragédia nas areias onde Jesus Cristo apresentou a sua promessa. Acima dos direitos considerados divinos onde uma cultura defende o seu eterno acesso a uma cidade prometida, e outros a conquista de um território por qualquer tradição ou memória, são as vítimas, as inocentes perdas o que mais importa.
É incompreensível pensar e defender que uma religião, ou uma ideologia pode aceder à explicação da diversidade do universo, quando as suas propostas são finitas.
Este conflito é inultrapassável, pois a consciência há muito foi desprezada nos actos violentos cometidos dos dois lados. O País que conseguiu transformar um deserto num jardim insiste na manutenção da miséria, isolamento e pobreza de milhares de pessoas e de sucessivas gerações.
Enquanto as crenças individuais forem o centro deste universo, os valores humanos pouco contarão. E esse é um dos problemas essenciais dos pensamentos únicos - não sabem aceitar a humanidade do Homem, a sua liberdade interior, ou seja o sentido humano da vida. Este só se pode encontrar no seu inconstante, incerto, mas libertador interior de cada um.


(1) - Mario Vargas Llosa, Israel, Palestina, Paz ou Guerra Santa, pág.50

(Imagem retirada do Jornal Informativo - RTP online)

No Reino do Maravilhoso - Evocar Miguel Torga

« Para poder partir teria de meter no bornal o Marão, o Douro, a luz de Coimbra (...).
Sou um prisioneiro irremediável numa penitenciária de valores tão entranhados na minha fisiologia que, longe deles, seria um cadáver a respirar»
(Miguel Torga, Diário)

De seu nome, Adolfo Correia da Rocha, com a profissão de médico, é um dos mais importantes escritores do século XX. Arrisquemos, que talvez tenha sido o mais importante a seguir a Pessoa. Escreveu sob o pseudónimo de Miguel Torga. Miguel em homenagem a duas figuras maiores da cultura universal, Cervantes e Unamuno. Torga em respeito pela sua real dimensão (torga é na verdade uma planta rasteira, transmontana, uma espécie de urze que cresce e resiste entre as rochas).
Natural de Sabrosa, distrito de Vila Real construiu uma obra vasta, variada, que abarcou a poesia, o romance, o conto e as memórias. Fundou várias revistas literárias e publicou desde 1928 uma extensa obra, podendo-se destacar os Bichos, Novos Contos da Montanha, a Poesia e os Diários. Recebeu diferentes prémios entre 1969 e 1981 ( Diário de Notícias, Poesia de Bruxelas, Pré
mio Montagne) e que certamente pela sua voz única e resistente teria merecido o Nobel que não lhe chegou a ser dado. A sua obra encontra-se traduzida em diferentes línguas, em todo o mundo.
Miguel Torga representa na dimensão humana o carácter duro, mas solidário, frontal, mas apaixonado por uma consciência de valores imutáveis. A sua escrita apresenta o encanto silvestre e a originalid
ade humana desse reino único, muito especial, aquele deu o nome de maravilhoso. A sua obra e a sua figura são a morada desse tempo quase eterno onde a montanha faz nascer a liberdade e a beleza.
Miguel Torga transporta nas suas letras a matéria e a cultura de um povo. Neste País, foi mais um dos pensadores impedidos de contribuir para a transformação do mesmo. Neste canto à beira atl
ântico, as ideias que dão corpo às palavras e às pedras são esquecidas por um poder político afastado da respiração das pessoas. Lembrar Miguel Torga é assim importante e belo, não só pelas suas vogais, mas sobretudo pela força individual que cada um tem e que ele revelou com uma sentida inspiração, a que recebeu do vento a soprar no cimo dos montes e das fragas.
Este mês, nos catorze anos da sua morte, lembramos a matéria da sua escrita em diferentes posts. Na Biblioteca ele é o autor do mês de Janeiro e será feita a leitura de excertos da sua obra nas aulas dedicadas ao Plano Nacional de Leitura.
No fim desta primeira evocação deixamos aqui as palavras escritas por Eugénio em homenagem a Torga:
(...)
É muito tarde para as lentas
narrativas do coração,
o vento continua
a tarefa das folhas:

cobre o chão de esquecimento

Eu sei: tu querias durar.
Pelo menos durar tanto como o tronco
da oliveira que teu avô

tinha no quintal.Paciência,
querido, também Mozart morreu

Só a morte é imortal» («Não Sei», O Sal da Língua)



quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Martin Luther King - Em nome da Humanidade

Gostaria de viver uma longa vida/Mas isso não me preocupa mais(...)/Apenas quero fazer a vontade de Deus/E ele deu-me autorização para subir até à montanha/E posso dizer-vos esta noite (...) que nós como povo chegaremos à Terra Prometida»(1)


Relembramos hoje, quinze de Janeiro, os oitenta anos do nascimento de uma figura universal, feito de determinação, coragem e humanidade, justamente Martin Luther King.
Nasceu em Atlanta, na Geórgia, formou-se no Morehouse College, tendo sido ordenado pastor da Igreja Baptista aos dezoito anos. Estudou na Universidade de Boston, onde foi influenciado pelas ideias pacifistas de outro imenso ser humano, Mohandas Gandhi. Martin Luther King conduziu a sua vida pela defesa dos direitos cívicos dos americanos, em especial dos que eram profundamente discriminados. Procurou defender com energia e coragem os direitos das minorias, em especial os negros que eram vítimas de segregação racial. Lutou por estes ideais através de protestos e marchas pacíficas e discursos de grande determinação e inspiração.
Participou na fundação do CLCS (Conferência de Liderança Cristã do Sul) que organizou os protestos não-violentos, especialmente contra a situação de segregação racial dos negros nos Estados do Sul. Situação que limitava o direito de voto, discriminava as pessoas nos seus direitos mais básicos apenas pela cor da sua pele.
As manifestações de protesto em Alabany em 1961 e 1962, em Birmingham em 1963, em St Augustine em 1964 e em Selma reafirmaram o seu protesto e a luta pelos direitos cívicos na América.
Em 1964, recebeu o Prémio Nobel da Paz, como reconhecimento da sua luta não violenta contra os preconceitos raciais. Em 1965 conseguiu concretizar a marcha entre o Alabama e Selma e a partir de 1968, ano em que foi assassinado em Memphis, organizou uma campanha de luta contra a pobreza (A Campanha dos Pobres).
A partir de 1986, os Estados Unidos celebram na 3ª segunda-feira do mês de Janeiro, um feriado designado - Dia de Martin Luther King.
Martin Luther King representou e representa ainda a consciência da humanidade pela defesa da dignidade humana e dos valores que devem organizar a sociedade - a igualdade de todos perante a Lei. As suas palavras e a sua luta são uma inspiração para continuar a procurar individualmente melhorar a construção de uma Humanidade inacabada e que esteja cada vez mais próxima do valor que cada um tem.
Mais do que estas palavras, o vídeo abaixo com o seu inspirado discurso, «I Have a Dream», realizado em 1963 demonstra a grandeza deste homem, que abriu um caminho de esperança.


(1) Último Discurso de Martin Luther King, 3 de Abril de 1968 em Memphis

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A História do Menino que vivia numa Comunidade - Nair Ferreira (5ºB)


Era uma vez um menino que se chamava José e vivia numa comunidade recolectora, ou seja, era um menino nómada.
O rapaz não gostava da vida que tomava porque não tinha casa fixa, andava sempre de um lado para o outro, devido à caça e à pesca diminuirem.
O José não gostava da vida que tinha porque comia carne crua e fria, dormia com frio e outras coisas de que ninguém gosta, porque afinal, ele só tinha nove anos.
Com o passar do tempo, o menino foi crescendo e com quinze anos, teve de começar a aprender a caçar e a pescar, a desenhar figuras nas paredes das grutas, embora não compreendesse qual era o seu significado.
Para caçar ele teve de aprender a fazer bifaces, arpões e pontas de flechas (ponta de lança). A única coisa que ele não sabia fazer, era o biface.
Então, perguntou ao pai como se fazia e entre muitas outras coisas, mais uma vez o pai explicou-lhe:
- Ouve, meu rapaz, para se fazer um biface, terás de pegar em duas pedras e bater uma na outra até que uma delas fique com a ponta em bico. E assim fez o José, que aprendeu rapidamente e até achava a tarefa divertida.
A recolecção baseava-se na recolha daquilo que a Natureza lhes oferecia: grãos, frutos silvestres (amoras, avelãs, bolotas), raízes tenras, mel, ovos de pássaros, moluscos marinhos (mexilão e ameijoas).
Com a descoberta do fogo, estes seres passaram a poder assar os alimentos, aquecerem-se nas noites frias, a espantar os animais ferozes e a iluminar as cavernas.
A arte rupestre baseava-se em gravuras e pinturas que eles gravavam e pintavam nas paredes das grutas, e nas pedras, ao ar livre.
Com a descoberta do fogo, o José passou a gostar da sua vida.
E assim termina a minha história, explicando como viviam estes homens, incluindo o José.




A História do Uga - Lara Pinheiro (5ºB)

OLá!
Eu sou o Uga, e vivi a muitos, muitos, mas mesmo muitos anos antes de tu nasceres.
Sabes nessa época, vivia-se de uma maneira muito diferente, eu vou contar-te.
O meu vestuário era feito da pele dos animais que o meu pai caçava, porque nesta época fazia muito, muito frio.
A minha comunidade recolectora é de trinta pessoas e vivemos todos numa gruta, onde chegámos há uma semana. Estivemos a acampar em tendas feitas da pele dos animais. Sou assim nómada.
Naquela época os mais velhos saiam para caçar, pescar e apanhar raízes e sementes para toda a comunidade comer.
Eu adoro comer grãos, amoras, avelã, bolotas, raízes tenras, mel, ovos, mexilhão e ameijoa.
Na nossa comunidade partilhamos tudo e mais alguma coisa assim é mais fácil sobrevivermos.
Sabias que desde pequeno eu sei fazer lanças, machados, arpões, anzóis e flechas.
É mesmo muito diferente, não é?



A Minha Vida Recolectora - Beatriz Faustino (5ºB)


- Olá! Eu sou o Ismael, tenho doze anos, e vou contar-vos um pouco da história da minha vida.
Eu pertenço a uma comunidade recolectora, sou filho único e o meu passatempo preferido é pintar as caçadas que faço com o meu pai nas paredes da grutas.
Lembro-me que uma vez que estava a pintar quando vi uma espécie de estrela cadente que despertou a minha curiosodade. Larguei as pinturas e fui atrás dela, dando a desculpa de que ia recolher alimentos.
A minha mãe, admirada de eu largar as tintas por ter fome, perguntou-me:
- Tens a certeza que não preferes esperar que o teu pai regresse da caça?
- Não mãe! Obrigado, mas estou mesmo esfomeado - dizia eu, atrapalhado.
Mais tarde, já a caminho, fiquei mesmo com fome e resolvi subir a uma árvore, para ver o que havia. Haviam avelãs. Eu nem hesitei, e comi até não poder mais.
Já cansado, e de barriga cheia eu resolvi parar um pouco para descansar. É claro que adormeci e, sem reparar no tempo, deixei-me ficar.
Fez-se noite e eu continuava a dormir, até que de madrugada acordei com muito frio, as minhas roupas já não me aqueciam, por isso lembrei-me que o meu pai uma vez me tinha ensinado a fazer fogo, e foi logo o que fiz.
Eu usei o fogo não só para me aquecer, mas também para me proteger dos perigos, como os animais ferozes. Como já era noite fiquei por ali, e no outro dia de manhã, ainda com esperança de encontrar a estrela continuei caminho.
Finalmente, depois de tanto tempo, cheguei e descobri que afinal o que eu tinha visto não era uma estrela, mas sim um mini-meteorito.
Voltei para casa (com o meteorito) e encontrei os meus pais numa pilha de nervos.
Explicaram-me que estavam preocupados por não me verem há tanto tempo (visto que eu costumava passar o dia enfiado na gruta onde estávamos) e também porque o ambiente natural onde estávamos já tinha poucas coisas para recolher e que por isso tinhamos de mudar de «casa».
Mostrei-lhes o meu meteorito e eles ficaram contentes pela descoberta que fiz.
Tinha chegado a hora de partir para outra gruta, como costumo fazer sempre que a caça ou os frutos diminuem no sítio onde estou, e em conjunto com os nossos familiares partimos à procura de um novo ambiente natural com tudo o que precisavamos.
Ainda hoje guardo o meteorito.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Comemorar os oitenta anos de Tintim

Comemora-se hoje os oitenta anos do nascimento de um dos heróis mais conhecidos e célebres da Banda Desenhada. Criada por Hergé em 10 de Janeiro de 1929, mantém-se até hoje como uma das figuras que preenche a nossa imaginação. Uma leitura dos sete aos setenta e sete como se dizia há algumas décadas.
A figura de Tintim, surge como um suplemento infanto-juvenil de um diário, «Le Vingtiéme Siécle», onde o nosso herói parte como um jornalista acompanhado do seu cão Milu para a longínqua Rússia, nascendo o primeiro Álbum, «Tintim no País dos Sovietes». Após a venda de cinco mil exemplares no mesmo ano da sua 1ª publicação, foi reeditado em 1999, tendo esgotado as suas reedições anteriores. Retrato de uma sociedade cruel, muito criticado por dar uma imagem muito negativa da Rússia dos anos trinta, veríamos como o jovem desenhador tinha intuido como aquele regime se organizava.
Após este álbum, Hergé faria muitos outros, estudando com rigor arqueologia, geografia, ciência de modo a que as suas pranchas estivessem correctas nos locais e temas que introduzia nas suas aventuras.
Acompanhado de figuras fascinantes, como o capitão Haddock ou os detectives Dupond e Dupond revelaria imaginação para falar da sociedade moderna, sempre com um espírito de humor e de descoberta.
O êxito de Tintim é de certa forma o triunfo de uma época em que os jornalistas desempenhavam nobres tarefas. As de salvar o mundo, onde a informação impressa era um dos veículos dessa aventura humana. O jornalista corajoso capaz de se aventurar por qualquer desafio é igualmente uma das últimas tentativas de mostrar o valor cultural de uma Europa que ainda se aventurava pelo mundo.
A Biblioteca da Escola irá dinamizar em Fevereiro uma exposição de Álbuns e de trabalhos sobre Hergé e a sua criação, Tintim. Participa.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Sem Abrigo

«Quando escurece podem ver-se as estrelas» (1)

Descíamos os Aliados, na cidade do Porto. Uma senhora ainda jovem, magra, de cores escuras, com a solidão nos olhos, o rosto anguloso, veio ao nosso encontro. Adivinhavam-se os dias de provação no rosto cansado.
- Pode dispensar-me um pouco do seu tempo? - perguntou com uma voz calma. - Não como nada há dois dias - acrescentou, num tom de voz ao mesmo tempo desolado e reconhecedor das suas dificuldades. - Peço desculpa pelo incómodo, quase a significar a desculpa pela própria existência. Tinha uma imensa dignidade e foi de uma profunda educação a revelar o seu desespero.

- Obrigado pelo seu sorriso, acrescentou, - sabe, geralmente as pessoas fogem de mim. - Se me poder ajudar de alguma forma. Aqueles cêntimos conquistaram-lhe um pálido sorriso. Agradeceu e desejou felicidades. Observei-a na sua caminhada pela avenida onde se perderia em mais noites de desencontro.
No nascimento de dois mil e nove, uma mensagem de Ano Novo, talvez triste, mas reveladora do mundo profundamente injusto onde vivemos. Existem em Portugal, aproximadamente, nove mil pessoas nas ruas de cidades desoladas.
Num Blogue de Livros, as emoções de pessoas, o seu clamor, dos que se foram perdendo na vida, também devem caber aqui. Especialmente num momento em que os valores parecem ter sido arrumados num qualquer museu do passado.
O Filme abaixo, com a música de Pedro Abrunhosa, exprime bem melhor que estas palavras, o drama de pessoas vivas, de uma humanidade confrontada com o seu próprio esquecimento.
Há sempre forma de ajudar, de estar atento, nomeadamente através das ONG'S que se dedicam à nobre tarefa de ressuscitar a dignidade perdida dos sem abrigo. Em Portugal os CTT estão a desenvolver uma campanha de angariação de bens essenciais de primeira necessidade, que depois serão canalizados para ONG'S como a LNFC (Liga Nacional contra a Fome), a Comunidade Vida e Paz ou a AMI (Assitência Médica Internacional) entre muitas outras.
Se achares importante participar, ou se o tema te interessa consulta os sítios dessas ONG'S ou o Projecto da Luta Contra a Pobreza e a Exclusão Social na página online dos CTT.

(1) Greg Mortenson / David Relin, Três Chávenas de Chá