O Pó dos livros é um blogue e igualmente uma livraria. Aqui encontrámos um pequeno texto real, que nos traz esse gosto delicioso por compreender e por isso por perguntar, sempre numa atitude de curiosidade quase infinita. São encontros com crianças que parecem nascidos de uma iluminação que maravilha e que gostaríamos de compreender como elas lá chegarem, para que a outros fosse possível descobrir o reino que está diante dos seus olhos. Eis um desses relatos que nos entusiasmam.
«Desceu a escada que dá acesso aos livros infantis a correr, não tinha mais de 9 anos, daquelas miúdas cujos olhos brilham só pela aproximação dos livros. A vontade de levar todos era imensa, mas a mãe trouxe-a à terra e lembrou-lhe que a vontade que ela tinha de ler era proporcionalmente inversa à quantidade de dinheiro disponível para comprar livros. E que só chegava para um. O ânimo não diminuiu, só não sabia qual escolher, já tinha lido aquele, o outro e também toda a colecção respectiva, tinha gostado de todos. Estava muito indecisa. A mãe nitidamente não tinha tido tanta sorte como a sua filha no que se refere ao acesso aos livros, e talvez por isso não se sentisse à vontade para escolher um.
Pede-me para lhe indicar um livro, um que dure mais do que os anteriores – «é que ela lê com uma velocidade impressionante e eu não tenho dinheiro para tantos livros». Escolhi um, um livro mais a sério, grosso, só com letras, um de que a minha sobrinha de 13 anos tinha gostado imenso. A miúda tinha nitidamente capacidade para este e para mais, se fosse preciso. Ao dar-lho para as mãos, a menina diz: - Vou lê-lo num instante… se não, gostar posso vir trocá-lo? Sabia que era um estratagema para poder ler mais com o mesmo dinheiro, mas respondi:
– Sim, podes. Eu sei que é politicamente incorrecto e que na maior parte das vezes não é verdade, mas, para uma criança, o facto de os livros não estarem imediatamente à mão pode funcionar como o melhor incentivo à leitura».
«Desceu a escada que dá acesso aos livros infantis a correr, não tinha mais de 9 anos, daquelas miúdas cujos olhos brilham só pela aproximação dos livros. A vontade de levar todos era imensa, mas a mãe trouxe-a à terra e lembrou-lhe que a vontade que ela tinha de ler era proporcionalmente inversa à quantidade de dinheiro disponível para comprar livros. E que só chegava para um. O ânimo não diminuiu, só não sabia qual escolher, já tinha lido aquele, o outro e também toda a colecção respectiva, tinha gostado de todos. Estava muito indecisa. A mãe nitidamente não tinha tido tanta sorte como a sua filha no que se refere ao acesso aos livros, e talvez por isso não se sentisse à vontade para escolher um.
Pede-me para lhe indicar um livro, um que dure mais do que os anteriores – «é que ela lê com uma velocidade impressionante e eu não tenho dinheiro para tantos livros». Escolhi um, um livro mais a sério, grosso, só com letras, um de que a minha sobrinha de 13 anos tinha gostado imenso. A miúda tinha nitidamente capacidade para este e para mais, se fosse preciso. Ao dar-lho para as mãos, a menina diz: - Vou lê-lo num instante… se não, gostar posso vir trocá-lo? Sabia que era um estratagema para poder ler mais com o mesmo dinheiro, mas respondi:
– Sim, podes. Eu sei que é politicamente incorrecto e que na maior parte das vezes não é verdade, mas, para uma criança, o facto de os livros não estarem imediatamente à mão pode funcionar como o melhor incentivo à leitura».
Jaime Bulhosa, Pó dos Livros
(Imagem, Vanessa Bell, Amaryllis e Henrietta,
in Mulheres Que Lêem São Perigosas)
(Imagem, Vanessa Bell, Amaryllis e Henrietta,
in Mulheres Que Lêem São Perigosas)
Sem comentários:
Enviar um comentário