«Ao longo de quatrocentos anos, de D. João III a Oliveira Salazar, Portugal criou uma forma mental e uma visão do mundo que se alimentavam exclusivamente da negativização do pensamento oposto (...) O pensador portador da diferença era encarado como inimigo a abater ou a esmagar e o povo - eterno rústico aldeão, alimentado pelas malhas da crendice e da superstição - como massa amorfa e ignorante a iluminar e a converter.» (1)
Luís Vaz de Camões, um dos maiores poetas de língua portuguesa morreu a 10 de Junho de 1580. A sua vida foi a procura de uma felicidade, perdida entre a má fortuna e os amores vencidos, mas também o espírito de encontrar com criatividade novos horizontes. A escrita dos Lusíadas deu-lhe a posteridade e um tardio reconhecimento financeiro pela Coroa. Tem sido em diferentes períodos usado como um dos símbolos do Portugal que soube espalhar-se pelo Mundo com encanto e vitalidade.
O Estado Novo, especialista na reconstrução da História para usos políticos, fez do dia 10 de Junho a comemoração de um mundo português, na perspectiva de que a raça própria soube exprimir o seu domínio pelo mundo.
A III República tem feito deste dia a celebração de uma comunidade que se espalhou pelo mundo, mas ainda a olhar para esse mar imenso, na procura de uma grandeza. A grandeza que se construiu de Mascate a Goa, de Marrocos a Mombaça, de Diu a Macau, das ilhas atlânticas a Olinda. Hoje serve-nos como memória e já não nos pode presentear no presente, em cerimónias que nos dão discursos e práticas pouco significativos para o ânimo do país que somos.
Luís Vaz de Camões, um dos maiores poetas de língua portuguesa morreu a 10 de Junho de 1580. A sua vida foi a procura de uma felicidade, perdida entre a má fortuna e os amores vencidos, mas também o espírito de encontrar com criatividade novos horizontes. A escrita dos Lusíadas deu-lhe a posteridade e um tardio reconhecimento financeiro pela Coroa. Tem sido em diferentes períodos usado como um dos símbolos do Portugal que soube espalhar-se pelo Mundo com encanto e vitalidade.
O Estado Novo, especialista na reconstrução da História para usos políticos, fez do dia 10 de Junho a comemoração de um mundo português, na perspectiva de que a raça própria soube exprimir o seu domínio pelo mundo.
A III República tem feito deste dia a celebração de uma comunidade que se espalhou pelo mundo, mas ainda a olhar para esse mar imenso, na procura de uma grandeza. A grandeza que se construiu de Mascate a Goa, de Marrocos a Mombaça, de Diu a Macau, das ilhas atlânticas a Olinda. Hoje serve-nos como memória e já não nos pode presentear no presente, em cerimónias que nos dão discursos e práticas pouco significativos para o ânimo do país que somos.
Neste grande mar português, o valor do indivíduo sempre foi determinante para o êxito desta aventura por mares desconhecidos. Celebra-se demasiadas vezes um colectivo que é devedor de uma iniciativa individual, de uma coragem desconhecida dos grandes salões. É esse o grande valor de Camões. As narrativas vividas nos Lusíadas são as experiências de um pensamento que se imaginava feito de muitos homens, onde ainda a descoberta, era o que nos inspirava.
A morte de Camões em 1580 é por isso um sinal do que o Império acabaria por se tornar. Preocupado em dominar e conquistar, já não em conhecer, asfixiado pelo poder central, dominado por uma ideologia de estreitamento cultural, teríamos sinais evidentes desse declínio português. Iniciado pelo determinismo religioso de D. Manuel I e a perseguição aos judeus, a institucionalização da Inquisição com D. João III, até aos marcos significativos da nossa decadência.
Neste dia Camões serve-nos não pela aventura que naturalmente não poderemos repetir, mas sim pelo entusiasmo do valor do indivíduo em moldar novos tempos. E evidentemente que somos herdeiros de um humanismo que importa ser construído por todos, discutido para uma nova perspectiva de um sociedade que saiba integrar no espaço público os valores não apenas do existir, do consumidor apressado, mas também do que se suporta numa visão cultural.
Nestes tempos difíceis essa reflexão ainda é mais essencial. Construir uma identidade num mundo em profunda mudança. Adaptarmo-nos a essas mudanças. Essa é uma das mais importantes ideias de Luís de Camões.
A morte de Camões em 1580 é por isso um sinal do que o Império acabaria por se tornar. Preocupado em dominar e conquistar, já não em conhecer, asfixiado pelo poder central, dominado por uma ideologia de estreitamento cultural, teríamos sinais evidentes desse declínio português. Iniciado pelo determinismo religioso de D. Manuel I e a perseguição aos judeus, a institucionalização da Inquisição com D. João III, até aos marcos significativos da nossa decadência.
Neste dia Camões serve-nos não pela aventura que naturalmente não poderemos repetir, mas sim pelo entusiasmo do valor do indivíduo em moldar novos tempos. E evidentemente que somos herdeiros de um humanismo que importa ser construído por todos, discutido para uma nova perspectiva de um sociedade que saiba integrar no espaço público os valores não apenas do existir, do consumidor apressado, mas também do que se suporta numa visão cultural.
Nestes tempos difíceis essa reflexão ainda é mais essencial. Construir uma identidade num mundo em profunda mudança. Adaptarmo-nos a essas mudanças. Essa é uma das mais importantes ideias de Luís de Camões.
(1) - Miguel Real, A Morte de Portugal, Campo das Letras
(Imagem, na Foz em Esposende)
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