quinta-feira, 25 de junho de 2009

O Pensamento Científico no Século XVII

A História das mentalidades em Portugal passou durante muito tempo pelo estudo, tal como nas estruturas económicas e sociais pela visão do conjunto, das tendências que se criaram. Privilegiou-se muito o colectivo, em detrimento do individual.

Neste sentido as últimas décadas do século XVI foram em muitos contextos apresentados como o fim das oportunidades da cultura portuguesa que pretendia a univrsalidade pelas descobertas. A morte de Pedro Nunes e de Luís Camões matavam as poucas possibilidades de uma cultura científica, que teve de facto dificuldades em se implementar. Mas este quadro não é completamente correcto.

A criação de um espírito científico, iniciada por Copérnico, Galileu e Kepler não foi um esforço exclusivo dos homens que aspiravam numa nova linguagem revelar um mundo acima da cidade dos homens. Os Jesuítas tiveram uma importância assinalável na difusão destas ideias, sobretudo a nível individual.

Dois investigadores portugueses (1) encontraram um manuscrito que nos revela que o padre jesuíta Manuel Dias, apenas três anos depois da sua divulgação, apresentava aos chineses os conhecimentos mais avançados da astronomia ocidental. A ideia de Galileu de que era possível comprovar, em linguagem matemática, que era a Terra que girava à volta do Sol e que a utilização de um telescópio nos permitia chegar à unidade da matéria, está presente nesta achado, que foi impresso por toda a China, a partir do século XVIII.

Este contacto do padre Manuel Dias é tão mais importante, na medida em que por Lisboa, o Tratado da Esfera era uma referência da cosmografia, pois sabemos que no Colégio Jesuíta de santo Antão Giovanni Paolo Lembo ministrava aulas, cujos conhecimentos são os mais antigos apontamentos na construção de telescópios.

Vemos, assim que o século XVII, que foi de tantas tragédias com a União Ibérica, o País continuava a ter um conjunto de pessoas que em diferentes instituições alargava os conhecimentos dessa universalidade no mundo.
A descoberta de uma cidade acima dos homens e a presença em tão diferentes continentes ajudando-os a reconhecerem-se no próprio universo, revela como o pensamento científico existia, mesmo que condicionado muitas vezes pela Coroa.

(1) Projecto desenvolvido por Rui Magone e Henrique Leitão
in, Público, 19/96/2009
(Imagem, 1º Telescópio desenhado por Galileu)

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