Busque Amor novas artes, novo engenho
«Busque Amor novo artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal tirará o que eu não tenho!
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê».
Julga-me a Gente Toda por Perdido
«Julga-me a gente toda por perdido
Vendo-me tão entregue a meu cuidado,
Andar sempre dos homens apartado
E dos tratos humanos esquecido.
Mas eu, que tenho o mundo conhecido,
E quase que sobre ele ando dobrado,
Tenho por baixo, rústico, enganado
Quem não é com meu mal engrandecido.
Vá revolvendo a terra, o mar e o vento,
Busque riquezas, honras e outra gente,
Vencendo ferro, fogo, frio e calma;
Que eu só em humilde estado me contento
De trazer esculpido eternamente
Vosso fermoso gesto dentro na alma».
Luís Vaz de Camões, Busque Amor Novas Artes, Novo Engenho;
Julga-me a Gente Toda por Perdido, in Antologia Poética
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