segunda-feira, 1 de junho de 2009

Evocar Camilo Castelo Branco



Nascia a 13 de Março de 1825 Camilo Castelo Branco, considerado o primeiro escritor profissional português, que durante quase toda a sua vida conseguir assegurar a sua subsistência (e da sua família) através dos seus trabalhos jornalísticos e novelas. Podemos afirmar que o seu testemunho é imenso dado ter publicado mais de uma centena de títulos, para além da regular prestação literária que mantinha com diversos jornais da época.


A obra de Camilo é, em grande parte, um reflexo do seu próprio percurso biográfico. A agitação, a instabilidade, os raptos, o conflito entre a paixão e a razão que encontramos nas novelas de Camilo, encontramo-los igualmente na vida de Camilo. Por outro lado, como profissional das letras que era, Camilo não pôde ignorar os apelos do seu público, que os editores traduziam sob a forma de pressões incontornáveis. Camilo vivia da escrita, e para isso precisava vender, o que implicava obedecer de alguma maneira às solicitações do público leitor. É essa sujeição aos gostos dominantes que explica também a "conversão" naturalista, detectável nas últimas obras de Camilo.


Camilo Castelo Branco faleceu a 1 de Junho de 1890, pondo fim à sua própria vida. A tristeza de ter rompido ligações com o filho, os problemas financeiros que o levaram a leiloar a sua própria biblioteca e o facto de estar completamente cego fizeram com que perdesse o amor à vida. Foi autor de uma obra multifacetada.


Nela se destaca, como sabemos, a componente novelística, mas estende-se também pelo teatro, jornalismo, ensaios biográficos e históricos, poesia, polémica, crítica literária, além de dezenas de traduções e uma extensa epistolografia.

Deu-nos ensinamentos que, décadas passadas, se mantêm vivos: A vontade enérgica é uma esperança meio realizada!

Foi com uma mágoa imensa que escreveu os últimos testemunhos, de entre os quais se destaca este poema:


OS AMIGOS


Amigos cento e dez, e talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que eu sentia!
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais.

Amigos cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que eu, já farto de os ver, mês escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.

Um dia adoeci profundamente.
Ceguei. Dez cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.

– Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver…
Que cento e nove impávidos marotos!



Sem comentários: