Mostrar mensagens com a etiqueta Sophia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sophia. Mostrar todas as mensagens

domingo, 5 de julho de 2009

Sophia

«Passou um bando de golfinhos. Um corria quase à tona da água. Como sempre que estou a bordo, sinto-me elástica (...) Brilho do sol sobre a água. Mar liso. Navegamos sem um balanço. Mar azul. Céu azul. Ilhas azuis. Ítaca aparece e vai-se desenhando verde até ao mar. Despovoada. Quase sempre.» (1)


Há dias, concretamente quatro, passaram cinco anos sobre a morte física dela. Já aqui deixámos por diferentes motivos as suas palavras e a sua inspiração. Nunca será demais lembrá-la como figura onde a palavra soube resgatar o real numa capacidade de observar, de saber olhar. Perseguir a sabedoria das coisas e criar a vida a partir do «fundamento», da casa branca, do mar azul de espanto, acima das fracturas do tempo.

Em baixo deixamos um pequeno filme (Área de Projecto/Biblioteca) sobre essa viagem nos mares da Grécia, onde Ulisses e tantos outros percorreram pela 1ª vez na História da Humanidade a aventura de procurar a revelação do outro, do que não era conhecido.

(1) Excerto do relato da 1ª Viagem à Grécia de Sophia,
(Espólio que está a ser lentamente divulgado pela família,
in Grandes Livros, RTP2)

terça-feira, 23 de junho de 2009

A Propósito dos cadernos de Sophia...


«As imagens eram próximas
Como coladas sobre os olhos
O que nos dava um rosto justo e liso
Os gestos circulavam sem choque nem ruído
As estrelas eram maduras como frutos
E os homens eram bons sem dar por isso(...)» (1)

No último post concluímos a apresentação das telas que permitem rever uma viagem, a dos navegadores gregos pelo Mediterrâneo. Foi um projecto desenvolvido por uma turma, 6º C, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Área de Projecto, que nos remete para esse entusiasmo que foi a Grécia. Ela e a sua cultura é um luz imensa pelos contornos que nos lança. Foi o primeiro grande momento em que o conhecimento humano explodiu em cores, possiblidades e formas.

Sophia de quem já aqui falámos, pois ela é na cultura portuguesa e europeia, para não dizer mais, esse oráculo de comunicação entre o homem e os Deuses. Poucos, muito poucos souberam exprimir esse encantamento pelas ilhas de tons azuis e casas brancas, nos portos de descoberta de novos horizontes.

Os cadernos de Sophia, revelam-nos (1) a simplicidade da viagem pelos braços onde os deuses deram corpo às ideias de tantos pensadores. Um dos excertos disponíveis.


«Piso às quatro e meia a terra grega. Entrada maravilhosa à saída de Patras. Vamos rente ao mar entre oliveiras e ciprestes e montanhas azuladas. Calor leve, ar perfumado. As montanhas ligam a terra ao Olimpo. Paramos e vou molhar os pés, as mãos, os braços e a cara no mar. A água é maravilhosa, transparente e fresca. Bebo-a. É muito salgada.

É a paisagem mais maravilhosa que vi na vida. (...) De manhã voltei à Acrópole sozinha. Escrevi Sophia, Setembro de 1963, numa parede do Parténon, na frontaria, à direita numa reentrância. Coisa bárbara e selvagem mas tive de fazer.» (1)

Até 2010 o seu espólio constituído por setenta caixas irá ser entregue pela família à Biblioteca Nacional, podendo ser disfrutado por todos os que admiram a beleza incontida das suas paisagens.

(1) Espólio de Sophia, tornado conhecido pelo Público de 21/06/2009
(Imagem, Pormenor de um Friso do Parténon, in terraatenas.blogspot.com)

terça-feira, 31 de março de 2009

Sophia II



No fim deste mês de Março, a transcrição de imagens como só ela soube dar, daquela que foi na Biblioteca a nossa autora do mês.

Sophia, simplesmente Sophia, conhecimento, beleza e sensibilidade ao serviço do nosso olhar humano. Sempre com aquele deslumbramento que os antigos gregos deixaram, a eterna curiosidade pela palavra, capaz de organizar um mundo de consciência, de descoberta, mas também de campos de felicidade.


Quando pelo mar andamos, entre o vento e a luz e nos abrigamos em ilhas de luz caiadas de branco são ainda pelos seus olhos de poetisa que caminhamos em palavras fora de qualquer tempo.

Promessa


És tu a Primavera que eu esperava,
A vida multiplicada
e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante.


Nevoeiro

A minha esperança mora
No vento e nas sereias
É o azul fantástico da aurora
E o lírio das areias.


IV

Sonhei com lúcidos delírios
À luz de um puro amanhecer
Numa planície onde crescem lírios

E há regatos cantantes a correr.


Quando

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estaçõe
s à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar

Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Se
rá o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,

E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.


in, Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar, Obra Poética, Caminho

terça-feira, 17 de março de 2009

Sophia



«Iremos juntos sozinhos pela areia
Embalados no dia
Colhendo as algas roxas e os corais

Que na praia deixou a maré cheia.

As palavras que disseres e que eu disser
Serão somente as palavras que há nas coisas
Virás comigo desumanamente
Como vêm as ondas com o vento.


O belo dia liso como um linho
Interminável será sem um defeito
Cheio de imagens e conhecimento



Pelas tuas mãos medi o mundo

e na balança pura dos teus ombros

Pesei o ouro do Sol e a palidez da Lua



(...) Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido

Como o florir das ondas ordenadas
»


in, No Tempo Dividido,
VIII, Poema de António e de Cleópatra e Prece

terça-feira, 10 de março de 2009

Sophia - Biografia I

«Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!»

De seu nome completo, Sophia de Mello Breyner Andresen, é um dos maiores nomes da poesia e da cultura europeias deste século. Nasceu a seis de Novembro de 1919 na cidade do Porto, onde passou a
infância. Estudou entre 1936 e 1939 na Universidade de Lisboa. Publicou os primeiros poemas em 1940, nos Cadernos de Poesia. foi opositora ao regime político do estado Novo tendo ajudado na defesa dos presos políticos.
Escreveu muitos livros de poesia, cujos poemas se encontram organizados na sua Obra Poética. Podemos destacar, Dia do Mar, No tempo Dividido, Coarl ou o Livro Sexto. Escreveu igualmente contos, Histórias da Tera e do Mar ou Contos Exemplares e ainda variados livros para crianças, onde se podem destacar, O Cavaleiro da Dinamarca, A Àrvore, O rapaz de Bronze ou A Fada Oriana. Escreveu ainda ensaios e traduziu autores tão variados como Eurípedes, Shakespeare ou Dante.
Recebeu vários prémios, como o Prémio Camões em 1999 ou o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana em 2003. Influenciada pelo deslumbramento da cultura grega e pela luz do Mediterrâneo, a sensibilidade e a palavra são nela, suportes que permitam a organização de um mundo de consciência, de descoberta, mas também de procura de campos felizes.
Autora do mês na Biblioteca, deixaremos aqui noutros post's a beleza da sua palavra e a nossa reverência a uma escritora, como poucas alguma vez esta cultura soube ter.