sexta-feira, 3 de abril de 2009

Fernando José Salgueiro Maia


«Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo» (1)

Estas são palavras de Sophia para nos dar o sonho concretizado para uma sociedade mais justa, digna de se considerar humana. Estas são palavras muitas vezes recordadas por políticos cinzentos que gostam de lembrar no nosso esquecimento diário a valentia de alguns em ter acabado com essa doença do espírito, que foi o salazarismo.

Ninguém merece mais essas palavras do que ele. A ele devemos o golpe de asa de mudar uma sociedade dominada pelo medo, pela guerra e pela miséria humana. Viveu depressa como parece estar destinado aos melhores. Para nosso mal, Deus convocou-o cedo. Ofereceu-nos a liberdade numa bandeja, onde revelou generosidade, desapego total ao poder, em representação de um Povo. Após esse gesto maior de grandeza, saiu de cena.

Não teve reconhecimentos. Pior, não foi estimado pelo Poder. Não foi ajudado na doença. A mediocridade tem sempre os seus notáveis servidores e no Portugal pós- Abril foram muitos a aparecerem.

Deixou-nos sós, neste País onde o seu exemplo é tão real na actual classe política como um arquétipo pré-histórico. O valor da representação dos cargos, a nobreza de carácter, a preocupação pelo património que é de todos e não só de alguns , a honradez, o carácter, o valor das pessoas acima dos privilégios, a dignidade que eram os seus valores são hoje restos de um País em profunda crise moral.

Chamava-se Fernando José Salgueiro Maia, só Salgueiro Maia. Deu a liberdade a este País e partiu como sempre viveu. Um cometa em brilho permanente que permaneceu como saudade dos que como ele aspiravam como dizia Sophia, a «construir uma forma justa de uma cidade humana que fosse fiel à perfeição do universo.»

(1) - Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia Poética,
«25 de Abril» e «Forma Justa», Caminho

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