domingo, 26 de abril de 2009

Dom Nuno Álvares Pereira


«A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.» (1)

Sabemos, por formação que o estudo da História não se faz através dos quadros mentais do presente, nem serve para justificar explicações para o próprio presente. Dão-nos, no quotidiano, na espuma dos dias, algo mais importante, a força de um exemplo. É este o caso que aqui trazemos, no dia da canonização do Condestável.

Dom Nuno Álvares Pereira desempenhou um papel essencial na formação de um Portugal nascido para a modernidade que se faria anos mais tarde, na empresa dos Descobrimentos. O seu papel foi essencial para a ruptura que D. João I criaria. Sabemos que foi um grande chefe militar que em Aljubarrota viria a preparar uma mudança no Portugal de trezentos. Aljubarrota não foi só uma batalha. Representou uma afirmação de um Estado-Nação, a sua determinação em marcar a História com a sua vontade. Representa o valor do indivíduo como factor de mudança e a sua crença em valores espirituais.

Dom Nuno Álvares Pereira ainda nos importa no realce da sua vida pela sua dimensão humana que se revelou no apoio aos pobres e humildes e na sua vida de dedicação. Aquele que foi um dos homens mais ricos do Reino, disso abdicou em função de um ideal. É também aqui um exemplo.

Dom Nuno Álvares Pereira foi canonizado hoje mesmo, em Roma, a vinte e seis de Abril de 2009. Não existiu qualquer destaque ou envolvimento dos órgãos do Estado Português. Sendo uma figura nacional e tornando-se parte de um património universal, porque não ouvimos, nem vemos falar sobre esta questão por aqueles que dirigem o Estado. É este um assunto exclusivo da religião católica? Não.

D. Nuno Álvares Pereira, não serve aos que explicam a sociedade através dos chamados movimentos de classe. Uma historiografia fez a sua escola por gerações com estas ideias inibidoras da mentalidade e dos indivíduos. Pior. D. Nuno Álvares Pereira não serve a um Estado que está nas vésperas de comemorar o nascimento da República. As correntes ideológicas do actual governo, entre um fervor laico e umas pinceladas socializantes são pouco compatíveis com a valorização de figuras determinantes na construção cívica.

O Federalismo Europeu consolida ainda mais este desinteresse por figuras que ousaram ter um projecto para um País, na medida em que a ideia de nacional, o indivíduo, o cidadão dever ser apagado para que possa emergir o Grande Estado Europeu, onde muito poucos decidem e onde falam os interesses dos Grandes Países.

É um sinal, mais um de como o actual governo não compreende o seu papel na memória colectiva do País e de como assim sendo, o presente vive ao sabor dos gestos pessoais de uma minoria incapaz de motivar o País para um projecto de futuro. O close-up cinematográfico ensaiado é assim o seu maior rasgo cultural. A ilusão continua a ser o seu fundamento.


(1) Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares

(Imagem, in nonas-nonas.blospot.com)

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