A batalha europeia está no horizonte. Nós cidadãos, tantas vezes consultados para as normas legislativas temos agora uma nova oportunidade. O partido socialista inicia o debate de ideias com um slogan que desconhecíamos. Nós, ou pelo menos alguns são europeus. É uma questão interessante que nos levanta algumas interrogações.
Somos Europeus. Quem? os Portugueses ou só o Partido Socialista? Se a estas praias chegaram os comerciantes de cerâmica grega, as suas moedas e as madeiras do Líbano, não o éramos já há tantos instantes? Se desta costa partimos para o mundo na descoberta de plantas e aromas e a ele devolvemos o conhecimento de Damião de Góis, Duarte Pacheco Pereira ou Pedro Nunes, não o éramos quando tantos povos se limitaram à finitude do espaço continental? Fomos Europeus antes da Europa.
Comerciámos e labutámos no Mediterrâneo, onde pelo azeite e sal arriscámos novos horizontes. Somos Europeus há muito, muito tempo.
No tempo em que se escrevia neste continente sons e cores frias, as das ditaduras que em nome de um futuro desconhecido alguns profetizaram manhãs novas onde nunca acordámos. Já nessa altura éramos europeus, porque sempre tivemos entre nós a razão e a dúvida para nos esclarecermos e sempre houve por aqui a procura de manhãs de luz do mar. Mesmo quando na Europa se esperava em filas de desigualdade não pelas obras de Shakespeare, mas apenas pão e leite, já nessa altura os ideiais de Thomas Jefferson nos conduziam, pelo menos a alguns. Sempre aqui estivemos. E dessa Europa que tantos nos queriam conceder, ela nunca nos interessou.
Que Europa afinal nos propõem? A de um liberalismo capaz de redimir no capital especulativo alguma função social e cultural ou apenas um monopólio dos que já estão instalados, não em convicções, mas nas novas «oportunidades do progresso». Que ideias tem a Europa para as dificuldades que todos sentem? Sabe a Europa e os candiadatos que a querem representar pensar sobre ela, antecipar as suas crises, ou é sempre a soma dos interesses dos mais poderosos.
Que Europa podemos e queremos saber? A das estatísticas, dimensões artificiais da realidade, ou a que tem valores na Saúde, na Educação, na História? A da que em comissões sem valores éticos ratificou a incompetência de gestores e a falência de ricos países ou a das oportunidades construídas? Pode haver História, isto é memória colectiva, sem a usarmos para o presente?
Que valores culturais pretende a Europa desenvolver? Tem mais alguma estratégia que não seja a do contabilista apenas preocupado com a gestão dos seus stocks, ou podemos todos nós ter aqui alguns direitos? Podemos ser pessoas e aspirar à Justiça e ao desenvolvimento da sociedade com respeito por aquilo que é uma Democracia?
São estas as respostas que precisamos para assim podermos concluir que sim, somos Europeus. Com convicção, esclarecimento e sem as premissas de um tempo fugidio onde o cidadão conta realmente e não só para a contabilidade eleitoral.
Desejamos, pois candidatos que não nos digam apenas que somos Europeus. Já o sabíamos, já o somos há muito mais tempo que o senhor candidato imagina. É muito importante que os políticos compreendam que necessitamos de palavras. Palavras verdadeiras, essenciais e com significado prático.
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