sábado, 18 de abril de 2009

Num País Distante

Um tribunal de um qualquer planeta, de uma desconhecida e infeliz cidade, de um ausente e abandonado País decidiu do alto da sua jurisprudência que as pessoas que perderam os seus familiares na queda de uma Ponte deveriam pagar as custas judiciais do processo.
Na ausência do arquitecto ou engenheiro, do funcionário camarário, do senhor das águas, do homem que faz a dragagem das areias, do barqueiro, na ausência de todos, só restava uma solução. Devem ser os que já estavam perdidos entre a mágoa e a saudade a pagar. Coisa pouca, 55 mil euros. Foi há dias. Ficará registado que aqui, neste País florido e solarengo isso não seria possível.
Aqui aplicamos a justiça com elevação. Não ouvimos todos
os dias os ministros e os deputados cantarem em sílabas de encanto que, aqui existe um Estado de Direito. Se assim é estamos tranquilos.
É um consolo e uma garantia que aqui a austeridade de prin
cípios, capa de falta de imaginação e criatividade, nas palavras de José Cardoso Pires não tem neste Reino qualquer cabimento. Podemos ser felizes nesta benevolência humana. Haverá geografias, planetas, universos onde a estupidez conduz as acções narrativas. Não neste lugar encantado.
Podemos agradecer aos nossos legisladores que não se indignem com pieguices, que acima da LEX não existe consciência, nem indignação, só a verdade imutável. Estamos descansados. A espada da Justiça protege-nos. Dos Homens e da sua natureza.
Quantos aos cidadãos do tal País esquecido, o que dizer? Pod
em sempre culpar o rio Douro que num acto irreflectido decidiu passear-se por um local pobre, isolado sem a isso ser convidado.


(Imagem, in Casadosescapes)

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