Foi há quarenta anos, em Coimbra, na sua academia universitária. Um grito envolvente, indignado, convicto de estudantes que queriam ter direito a exprimir a sua palavra. Não foram autorizados. Nascia um protesto de uma geração, resultado de uma inflamação profunda de um País doente cercado em si próprio e sem a voz que da periferia do Maio de 68 lhe chegava em imagens isolados de um futuro que parecia aqui não poder existir.
A crise académica de 1969 conduziria ao fim governativo de um ministro que anos mais tarde se estrearia na popularidade dos néons. Estranho o modo como a coerência não é um crédito para a consistência das acções no domínio público deste País. Mais protestos. e greves ocorreriam com a crise académica. Foi o princípio do fim do Salazarismo e a crença de que nos verdes anos nasceria um horizonte novo. Mais um engano.
A Primavera marcelista revelaria ser desprovida de flores e comprovar-nos-ia como homens cultos e inteligentes podem comprometer a dignidades dos seus cidadãos. Preso na hierarquia do Poder, o Marcelismo manteria essa tradição de uma obrigação fútil e sem respeito por uma consciência humana e historicamente digna.
E hoje, que palavras temos? Quais as que podemos usar? Queremos falar ou estamos abandonados ao compromisso velho, sem miragem, nem distância, onde o carácter e a ética são palavras de Museu pouco significante para os vivos. E o que é hoje a Universidade Portuguesa?
De 1969 até 2009 que caminho passou oferecer a Universidade à formação dos jovens? É livre nos seus domínios de saber ou está condicionada a uma tecnocracia economicista de lobbies privados? Está organizada para a exigente criação e transmissão do saber ou é apenas uma locomotiva para a promoção social?
O estado lastimável da Universidade portuguesa em 2009 é o espelho, o mais decepcionante deste fracasso cultural em que a sociedade deste País se tornou. A banalização dos valores e das instituições consagrou uma formação intelectual de valor medíocre. Nos anos sessenta a Universidade era frequentada por uma minoria, oriunda das famílias ricas que se abasteciam o Estado para os cargos executivos. A pouco transparente coesão social era suportada por uma arquitectura de poder autoritária. E hoje?
Temos a palavra, dirão muitos. Quantos se levantam e indignam para a usar? Que significado lhe é dada pelos que ocupam o Poder? Vale o cidadão mais do que o seu voto circunstancial? Conseguiu a Universidade formar com competência para uma sociedade aberta, onde as instituições dependem da existência de mecanismos de justiça e oportunidade? A verdade, por muito que custe admitir, é que a Universidade portuguesa mostra-se incapaz de criar elites, que sejam património de conhecimento onde exista igualdade no acesso e responsabilidade na sua formação.
A Universidade portuguesa não soube evoluir do valor medíocre do Estado Novo, alicerce de uma sociedade fechada para o alargamento disciplinado, consistente e partilhado do conhecimento. Quem a serviu nos órgãos tutelares do Estado nunca compreendeu a sua real dimensão transformadora para o País. As suas essenciais funções dissolveram-se numa classe política que sem conhecimento histórico e rigor de cidadania a conduziu a esta dimensão lamentável.
Quando passam quarenta anos sobre a crise de 1969 é importante deixar aqui, em memória deles e de nós, os que precisamos de falar, um som de sempre. Afinal a História, enquanto disciplina é uma construção de cada geração, e não uma colecção de palavras gastas e bolorentas que alguns representam, ainda que com aparente sucesso.
A crise académica de 1969 conduziria ao fim governativo de um ministro que anos mais tarde se estrearia na popularidade dos néons. Estranho o modo como a coerência não é um crédito para a consistência das acções no domínio público deste País. Mais protestos. e greves ocorreriam com a crise académica. Foi o princípio do fim do Salazarismo e a crença de que nos verdes anos nasceria um horizonte novo. Mais um engano.
A Primavera marcelista revelaria ser desprovida de flores e comprovar-nos-ia como homens cultos e inteligentes podem comprometer a dignidades dos seus cidadãos. Preso na hierarquia do Poder, o Marcelismo manteria essa tradição de uma obrigação fútil e sem respeito por uma consciência humana e historicamente digna.
E hoje, que palavras temos? Quais as que podemos usar? Queremos falar ou estamos abandonados ao compromisso velho, sem miragem, nem distância, onde o carácter e a ética são palavras de Museu pouco significante para os vivos. E o que é hoje a Universidade Portuguesa?
De 1969 até 2009 que caminho passou oferecer a Universidade à formação dos jovens? É livre nos seus domínios de saber ou está condicionada a uma tecnocracia economicista de lobbies privados? Está organizada para a exigente criação e transmissão do saber ou é apenas uma locomotiva para a promoção social?
O estado lastimável da Universidade portuguesa em 2009 é o espelho, o mais decepcionante deste fracasso cultural em que a sociedade deste País se tornou. A banalização dos valores e das instituições consagrou uma formação intelectual de valor medíocre. Nos anos sessenta a Universidade era frequentada por uma minoria, oriunda das famílias ricas que se abasteciam o Estado para os cargos executivos. A pouco transparente coesão social era suportada por uma arquitectura de poder autoritária. E hoje?
Temos a palavra, dirão muitos. Quantos se levantam e indignam para a usar? Que significado lhe é dada pelos que ocupam o Poder? Vale o cidadão mais do que o seu voto circunstancial? Conseguiu a Universidade formar com competência para uma sociedade aberta, onde as instituições dependem da existência de mecanismos de justiça e oportunidade? A verdade, por muito que custe admitir, é que a Universidade portuguesa mostra-se incapaz de criar elites, que sejam património de conhecimento onde exista igualdade no acesso e responsabilidade na sua formação.
A Universidade portuguesa não soube evoluir do valor medíocre do Estado Novo, alicerce de uma sociedade fechada para o alargamento disciplinado, consistente e partilhado do conhecimento. Quem a serviu nos órgãos tutelares do Estado nunca compreendeu a sua real dimensão transformadora para o País. As suas essenciais funções dissolveram-se numa classe política que sem conhecimento histórico e rigor de cidadania a conduziu a esta dimensão lamentável.
Quando passam quarenta anos sobre a crise de 1969 é importante deixar aqui, em memória deles e de nós, os que precisamos de falar, um som de sempre. Afinal a História, enquanto disciplina é uma construção de cada geração, e não uma colecção de palavras gastas e bolorentas que alguns representam, ainda que com aparente sucesso.
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