« Portugal conhece uma democracia com um baixo grau de cidadania e de liberdade. (...) Portugal continua a ser, em muitos aspectos importantes, uma sociedade fechada,aberta à superfície, e fechada no interior.» (1)
Vivemos num País de eleição. Um País, digamos porreiro. Tem sol, tem mar, gente simpática. Não costumam ocorrer desastres naturais, não existem conflitos sociais evidentes e até as instituições milenares acham mais prudente apenas existir. A preocupação com o futuro, como gestão do presente é aqui residual. Só podemos pois ser um País de gente contente e feliz.
Felizes nesta incapacidade de compreender o que nos acontece. Já percorremos o mundo, e hoje instalados numa outra caravela, a do Euro, caminhamos noutras fronteiras, entre o Magalhães e o último telemóvel, entre o futebol e a telenovela virtual. Nada de preocupante.
O acto político é aqui exercido não por quem tenha demonstrado saber fazer, quem tenha uma ideia sobre o projecto de sociedade, mas são as circunstâncias que fazem emergir os «grandes» líderes. Não as circunstâncias da evolução histórica, como vimos acontecer na América. Não, apenas as que nos fazem aparecer líderes sem currículo, sem representatividade nacional, recatados na emoção, eufóricos no discurso em que se apaga o indivíduo.
Helena Matos (2), explicou-nos como vivemos também aqui um certo fundamentalismo, o ser porreiro. Muito mais que um estado de espírito, ele é a nossa ideologia, a que tem conduzido à agonia das instituições, na saúde, na justiça, na segurança, na escola... E explicou-nos como ser porreiro é terrível e perigoso. Ser porreiro não é ser justo, nem preocupado com a coerência social. É uma forma fácil, sem regras rigorosas de parecer agradável.
O fazer sem princípios pelo como se faz, pelo processo, sem preocupações pela dignidade humana, apostado mais no corpo do que no espírito. A confusão entre a administração de um cargo público e o próprio que o ocupa é um sinal deste princípio contrário ao Direito moderno. Qualquer capaz legislador do império romano o saberia expressar com evidência.
Se algum ganho a República trouxe na motivação a largas camadas da população foi essa distinção absoluta entre a função e o cidadão que a exerce. O direito da causa pública baseia-se na possibilidade efectiva de exprimir a justiça. Todos os cidadãos o esperam. Quando já não é preocupação a demonstração em tribunal da inocência ou da culpa, mas só o cancelamento de um processo, já não é a garantia da justiça o que se pretende. Apenas sobreviver. Isto equivale a uma demonstração de abandono aos cidadãos.
O reset de atitudes pouco profissionais, pouco exigentes num sistema de saúde, em que o Estado não se obriga a ser digno, a fazer o essencial é inaceitável. A virtualidade dos actos educativos num sistema sem coerência para com o conhecimento é mais um dos sinais deste porreirismo reinante. A crise das instituições portuguesas está pois fundamentada nesta ausência de princípios fundadores no funcionamento dos elementos básicos da sociedade.
Atitudes e opções mais ou menos porreiras fundamentam a acção governativa na escolha dos dois universos, nós e os outros. Apesar de parecerem doces, a filosofia dos porreiros baseia-se não nos critérios, não na oportunidade das medidas, apenas na fidelidade dos campos que pretende delimitar. É, assim do ponto de vista social perigosa, porque deteriora as relações sociais. Sem estruturação de pensamento, sem preocupações pelas pessoas, sem grandeza moral convida ao desprestígio das instituições, não promove o futuro.
Sempre a olhar para o horizonte, onde já não é a realidade que nos conduz, mas apenas a ideia que dela temos e nesse sentido nada precisa ser transformado, mas apenas adaptado a nós próprios. É a construção da ilusão. A História já nos deu suficientes lições para o perigo desta desmedida crença num futuro vazio de rigor e de pessoas que o possam construir com dignidade.
Vivemos num País de eleição. Um País, digamos porreiro. Tem sol, tem mar, gente simpática. Não costumam ocorrer desastres naturais, não existem conflitos sociais evidentes e até as instituições milenares acham mais prudente apenas existir. A preocupação com o futuro, como gestão do presente é aqui residual. Só podemos pois ser um País de gente contente e feliz.
Felizes nesta incapacidade de compreender o que nos acontece. Já percorremos o mundo, e hoje instalados numa outra caravela, a do Euro, caminhamos noutras fronteiras, entre o Magalhães e o último telemóvel, entre o futebol e a telenovela virtual. Nada de preocupante.
O acto político é aqui exercido não por quem tenha demonstrado saber fazer, quem tenha uma ideia sobre o projecto de sociedade, mas são as circunstâncias que fazem emergir os «grandes» líderes. Não as circunstâncias da evolução histórica, como vimos acontecer na América. Não, apenas as que nos fazem aparecer líderes sem currículo, sem representatividade nacional, recatados na emoção, eufóricos no discurso em que se apaga o indivíduo.
Helena Matos (2), explicou-nos como vivemos também aqui um certo fundamentalismo, o ser porreiro. Muito mais que um estado de espírito, ele é a nossa ideologia, a que tem conduzido à agonia das instituições, na saúde, na justiça, na segurança, na escola... E explicou-nos como ser porreiro é terrível e perigoso. Ser porreiro não é ser justo, nem preocupado com a coerência social. É uma forma fácil, sem regras rigorosas de parecer agradável.
O fazer sem princípios pelo como se faz, pelo processo, sem preocupações pela dignidade humana, apostado mais no corpo do que no espírito. A confusão entre a administração de um cargo público e o próprio que o ocupa é um sinal deste princípio contrário ao Direito moderno. Qualquer capaz legislador do império romano o saberia expressar com evidência.
Se algum ganho a República trouxe na motivação a largas camadas da população foi essa distinção absoluta entre a função e o cidadão que a exerce. O direito da causa pública baseia-se na possibilidade efectiva de exprimir a justiça. Todos os cidadãos o esperam. Quando já não é preocupação a demonstração em tribunal da inocência ou da culpa, mas só o cancelamento de um processo, já não é a garantia da justiça o que se pretende. Apenas sobreviver. Isto equivale a uma demonstração de abandono aos cidadãos.
O reset de atitudes pouco profissionais, pouco exigentes num sistema de saúde, em que o Estado não se obriga a ser digno, a fazer o essencial é inaceitável. A virtualidade dos actos educativos num sistema sem coerência para com o conhecimento é mais um dos sinais deste porreirismo reinante. A crise das instituições portuguesas está pois fundamentada nesta ausência de princípios fundadores no funcionamento dos elementos básicos da sociedade.
Atitudes e opções mais ou menos porreiras fundamentam a acção governativa na escolha dos dois universos, nós e os outros. Apesar de parecerem doces, a filosofia dos porreiros baseia-se não nos critérios, não na oportunidade das medidas, apenas na fidelidade dos campos que pretende delimitar. É, assim do ponto de vista social perigosa, porque deteriora as relações sociais. Sem estruturação de pensamento, sem preocupações pelas pessoas, sem grandeza moral convida ao desprestígio das instituições, não promove o futuro.
Sempre a olhar para o horizonte, onde já não é a realidade que nos conduz, mas apenas a ideia que dela temos e nesse sentido nada precisa ser transformado, mas apenas adaptado a nós próprios. É a construção da ilusão. A História já nos deu suficientes lições para o perigo desta desmedida crença num futuro vazio de rigor e de pessoas que o possam construir com dignidade.
(1) José Gil, Portugal, Hoje O Medo de Existir, Relógio D´Água
(2) Helena Matos, Jornal Público, 4 de Abril de 2009
(Imagem - Quadro de Marc Chagall, in http://www.Mindbodysmile.com)
(2) Helena Matos, Jornal Público, 4 de Abril de 2009
(Imagem - Quadro de Marc Chagall, in http://www.Mindbodysmile.com)
1 comentário:
Ficando à espera de partir para Portugal na próxima semana, passei para lhes desejar uma feliz e santa Páscoa!
Domenico
Enviar um comentário