terça-feira, 31 de março de 2009

Sophia II



No fim deste mês de Março, a transcrição de imagens como só ela soube dar, daquela que foi na Biblioteca a nossa autora do mês.

Sophia, simplesmente Sophia, conhecimento, beleza e sensibilidade ao serviço do nosso olhar humano. Sempre com aquele deslumbramento que os antigos gregos deixaram, a eterna curiosidade pela palavra, capaz de organizar um mundo de consciência, de descoberta, mas também de campos de felicidade.


Quando pelo mar andamos, entre o vento e a luz e nos abrigamos em ilhas de luz caiadas de branco são ainda pelos seus olhos de poetisa que caminhamos em palavras fora de qualquer tempo.

Promessa


És tu a Primavera que eu esperava,
A vida multiplicada
e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante.


Nevoeiro

A minha esperança mora
No vento e nas sereias
É o azul fantástico da aurora
E o lírio das areias.


IV

Sonhei com lúcidos delírios
À luz de um puro amanhecer
Numa planície onde crescem lírios

E há regatos cantantes a correr.


Quando

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estaçõe
s à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar

Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Se
rá o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,

E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.


in, Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar, Obra Poética, Caminho

Isaac Newton


«Não sei como o mundo me vê, mas para mim pareço ter sido apenas um menino a brincar na praia e a divertir-me a encontrar de vez em quando uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonita do que o habitual, enquanto que o grande oceano da verdade se apresentava por descobrir à minha frente.» (1)

Lembramos de forma muito simples e modesta uma figura universal cujo desaparecimento físico se celebra hoje, Isaac Newton. Nasceu a quatro de Janeiro de 1642 na Inglaterra, e morreu a 31 de Março de 1727. Teve uma infância solitária e revelou-se uma criança muito pensativa, ocupando o seu tempo a observar o que o rodeava e a construir pequenos objectos.

Formou-se no Trinity College em Cambridge em 1665 e a entre 1666 e 1668 começa a publicar as suas primeiras ideias que irão modificar por completo a Ciência e o modo como compreendemos o mundo. A sua grande obra é a Philosophiae Naturalis Principia Mathematica (Os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural). Nesta publicação explicava algo revolucionário: o modo como os corpos celestes funcionavam de acordo com leis matemáticas e a força de atracção que os mantinha em movimento, a conhecida lei da gravidade. Criou então a regra de atracção dos corpos celestes em função da sua distância. Pela primeira vez compreendeu-se como a gravidade era uma força determinante na relação dos planetas não só com o Sol, mas também sobre outros objectos do universo. Fez igualmente estudos na área da luz e da descoberta da cor dos seus feixes e muitas das suas descobertas são ainda usadas na astronomia e no campo da física.

A importância de Newton reside no facto de pela primeira vez um homem, um pensador, um cientista ter formulado uma lei universal que se aplicava à Natureza. Com as teorias que criou podemos compreender por exemplo por que razão a Terra não é perfeitamente esférica. No seu Livro Três dos Princípios tentou determinar quais as leis que a Ciência deve construir na construção do raciocínio experimental e nesse sentido levou mais longe a ideia renascentista de tornar o homem o centro do universo.

Não é exagero dizer-se que Newton abriu a porta para compreendermos as leis que regem a Natureza num sentido mais global. Convém, no entanto deixar assinalado que para Newton realizar as suas descobertas, outros criadores desempenharam um papel essencial. Descartes, Kepler , Copérnico e Galileu foram determinantes para que Newton pudesse chegar aos seus princípios científicos.

Estes homens compreenderam que ao Homem não estava destinado apenas existir neste mundo material. Existe uma mundo celeste, complexo que pode ser descoberto e explicado. É essa a sua grandeza para a história da Humanidade. Com o seu trabalho na construção de um método científico, no estudo dos corpos celestes, nos seus movimentos, na determinação do movimento dos planetas e na relação das suas órbitas com o Sol permitiram que Newton formulasse de forma universal as leis que nos deixou. Sobretudo fizeram nascer a ideia de uma nova Ciência, a Matemática cujo maior atributo é a compreensão do mundo físico. Nascia uma nova dimensão para o Homem.

(1) Charlses Van Doren, Breve História do Saber;
(Imagem, in vizir2.blogspot.com)

domingo, 29 de março de 2009

A Ganância



«o amor ao próximo é o maior prazer do ser humano.» (1)

Nesta original nave espacial que habitamos, o Planeta Terra, somos aparentemente no imenso universo, a única espécie a habitar esta poeira cósmica, de matéria e sonhos. Sem compreendermos os mecanismos do seu funcionamento, oscilamos entre um sentimento de abandono e de esperança neste cosmos que flutua no espaço.

Seriam pois nas relações humanas, nas mais diversas situações que a humanidade pode encontrar um sentido para a sua existência. Neste sentido valores como a amabilidade e a generosidade têm todo o sentido em estarem no centro das relações humanas. Não sendo o que acontece, que justificação e que preço para a sociedade humana?

Adam Philips e Barbara Taylor (2) defendem que o amor ao próximo é hoje «o nosso prazer proibido». Porque temos esta incapacidade de nos identificar com os outros, com as suas dificuldades, angústias, receios e sucessos? Tendo o Ocidente, dois mil anos de cristianismo, onde o amor ao próximo organizou o seu pensamento para tantos milhões, porque assistimos à valorização do individual, como única forma de sobreviver num mundo dominado pelo egocentrismo, onde tantos parecem estar em guerra por qualquer coisa que não entendem.

Afinal, demonstrar generosidade publicamente ainda é considerado um acto de inferioridade psicológica, ou de sentimentalismo de valor duvidoso. A amabilidade não é ainda vista pela sociedade como algo natural. Com graves limitações à afectividade, a sociedade contemporânea elegeu o individualismo e a sua independência singular como critério de sucesso. A solidariedade como factor de existência humana é ainda visto como uma fraqueza. Quantos projectos de grandes empresas estão ligados a causas de igualdade social?

Nos últimos anos, as ideias de um liberalismo feroz tem remetido a afectividade natural do homem à esfera do privado. No espaço público os valores dominantes são outros: competição, domínio da estatística, realidade virtual onde se compete sem valores espirituais, onde a função vale mais que a pessoa. Os últimos quatro anos do governo socialista vincaram em Portugal esta opção. Muitos, mesmo os que já tinham uma vida de conforto material de elevadíssimo nível, quiseram mais e mais depressa. Enriquecer sempre. A ganância desmesurada instalou-se no sistema financeiro. O Estado desprovido de justiça incentiva pelas suas atitudes e opções esta desumanização do espaço público. A insistência em desvalorizar a efectiva segurança social das pessoas, num País que teve disso uma experiência histórica limitada e reduzida apenas agrava a redistribuição de um mal estar social evidente.

O domínio da «cultura de empresa» a todos os espaços, do infantário à fábrica, da justiça ao apoio social, da cultura à língua, impõe uma sociedade de infelicidade que se materializa no excesso de trabalho, na ansiedade, na ausência de espiritualidade, na concretização de autómatos desprovidos de pensamento e de serenidade. Esta filosofia de Liberalismo já deu mostras no campo económico de como as sociedades podem ser destruídas pela ausência de regras. No campo social é a degradação veloz da suas instituições básicas: o cidadão, a família, a escola, a empresa.

A sociedade humana tem de ser mais que um conjunto de pessoas a lutarem entre vencidos e vencedores, onde todos perdem a dignidade e alguns ganham não se sabe o quê. O sistema político tem a obrigação de oferecer mais que um disfarçado controlo democrático, onde o poder e os que lá moram tudo podem, sem respeito pela sociedade que representam. Um País tem de ter representantes que saibam dar esperança às pessoas, que as façam acreditar que a mudança se faz com base num exemplo, o seu próprio. Um governo que não sabe ter pessoas generosas no seu carácter, não conseguirá propor nada de substantivo para o País Real.

E certamente não será copiando exemplos irreflectidos, sem consistência histórica que se renovará a esperança. Já Pessoa tinha dito a quem o soube ouvir que este País só poderá ser qualquer coisa no campo civilizacional do seu tempo, quando for, quando o deixarem ser ele próprio.
E isso só é possível com uma ideia de cultura, fazendo da governação uma gestão do acto público para as necessidades de todos e não apenas para a salvação dos tesouros pessoais de uma minoria. Propor aos cidadãos um projecto de sociedade que o torne mais do que a «quase uma Democracia que insiste em ser, dominado pela paixão proclamada pelos políticos provincianos» (3) que nos tem obliterado a qualidade na educação, na justiça, na nossa existência quotidiana.
E sobretudo saber aprender para que saibam propor qualquer ideia nobre e com futuro.

(1) Marco Aurélio, imperador Romano, in Courrier Internacional, Março de 2009
(2) Adams Philips, Barbara Taylor, The Guardian, 3/1/09
(3) António Barreto, Jornal Público, 29/03/2009
(Imagem - Ariane de Maria Helena Vieira da Silva, in blog-city.com)

sábado, 28 de março de 2009

Ajudar na Defesa da Terra


Sydney, uma cidade australiana teve em 2007 a ideia brilhante de por uma hora apagar apagar as luzes e assim defender o Planeta da acção humana sobre os elementos naturais. O ano passado muitas cidades e ainda mais milhões de pessoas participaram neste movimento de solidariedade para com a Terra.
Hoje, entre as 20.30 e as 21.30 podemos em cada uma das nossas casas fazer o mesmo e começar a contribuir para
a diminuição dos problemas ambientais que ameaçam o nosso Planeta e a vida nas suas diversas formas, hoje e amanhã, que pelos sinais recebidos todos sabemos estar muito perto.
Não requer qualquer esforço.
Participe.

Aos interessados aqui fica o link desta campanha :

http://www.youtube.com/watch?v=aeYugbX8YDU

E lá Foi Mais Um Dia Mundial...



« (...) Hoje não seremos nós, gente do teatro, striptseauses da verdade poética, quem terá várias caras, que andam fechados os teatros, em ruínas, degradados, em perigo ou já foram demolidos - e poucos espectáculos se farão nesta noite.

Mas haverá almoços, discursos e jantares, debates e inquéritos.

E os hipócritas não seremos nós, que há anos (nós e os antes de nós, tantos) pedimos esmola, atenção, diálogo, intervenção, planificação, política aos políticos, certos que estamos de que o teatro não pode estar sujeito ao mercado, é área de intervenção do Estado, coração da língua, a tal língua que só no palco tem corpo e suor - e às vezes essa coisa única, grgalhadas e lágrimas.

Vamos mais uma vez, fingir que nos amam, que nos respeitam, almoçar, ouvir declarações de amor e pedidos de voto, vamos mais uma vez ouvir dizer que o povo sem teatro não é povo nesta cultura europeia, que faremos mais com menos (...), dar beijos, agradecer e dar abraços, vamos todos fingir. Com a surda raiva de saber que vivemos sempre assim, desprezados, nós os que éramos hipócritas por definição, escolha e parazer, desprezados por quem nada mais quer da palavra do que o silêncio dos outros.

Mas não somos nós os hipócritas originais, os que acreditam na palavra, no seu feitiço - e nela nos enredamos, palavra dos poetas, palavra dos políticos, palavra dos outros que todas as noites tornamos carne nossa - para não mentir à vida?

Como vamos encarar toda essa gente que vive à nossa custa (...) e nos vai vir abraçar, beijar, cumprimentar, prometer coisas que sabem tão bem que à primeira esquina, aliança política ou campanha eleitoral não irão cumprir? (...)

Engolindo para dentro a nossa miséria, a nossa tristeza, calando? Ou herdando o gesto sincero do Zé Povinho, esse rapaz de Bordalo? Pois não está, neste momento, toda a profissão teatral em Portugal a trabalhar de graça, com salários em atraso ou de miséria, por pura incapacidade das autoridades chamadas «culturais», burocratas enredados numa teia de dossiers impraticável e que sobre eles tende a desabar?

Não estamos a trabalhar fiado? E não foi o Zé Povo quem dizia «Queres fiado? Toma!», maravilhoso gesto, bela expressão da língua portuguesa?»


in, Jorge Silva Melo, Jornal Público, Sexta-Feira,
Dia Mundial do Teatro, 27/03/2009

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dia Mundial do Teatro


A vinte e sete de Março comemora-se o Dia Mundial do Teatro. Poderíamos aqui falar do seu nascimento na civilização grega e como era mais uma das formas para alcançar o equilíbrio físico espiritual tão caro à civilização de Péricles ou de Heródoto. Seria possível aqui destacar o teatro grego e a sua preocupação de compreender racionalmente todo o mundo, o interior e o exterior. Ou ainda sugerir que arte teatral é sempre muito importante, na senda das preocupações culturais com que no nosso País a cultura é oferecida aos cidadãos em jantares de ocasião. Não. Preferimos neste dia deixar isso e falar do essencial, a palavra e o actor.
Neste dia lembrar alguém de uma raça superior, do homem que vestiu mil personagens de carne e osso, que div
ulgou poetas e sonhos, que se queimou com as suas palavras e nos deixou um rasto de inconformismo e loucura, sempre na possibilidade de tudo questionar, de tudo repensar.
Mário Viegas foi esse homem inigualável. Nasceu para um palco, onde viveu uma infinidade de emoções, onde com dimensão humana revelou o seu comprometimento com a humanidade. Vê-lo foi uma experiência grandiosa. A sua lembrança permanecerá como uma voz do futuro. Como alguém disse ele era o Teatro.
Este foi a sua vida, a sua emoção e a sua inspiração. Aqui deixamos
um poema de Ruy Belo, um dos muitos que declamou e que melhor nos dão esse amor do actor, entre o entusiasmo, a paixão e a beleza (E Tudo era Possível):

Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de Maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder de uma criança
entre as coisas e mim havia uma vizinhança
e tudo era possível era só querer


citado in, Mário Viegas, Discografia Completa, Jornal Público
Imagem (in oceanodenuvens)

O Desemprego

Um desejo de solidariedade para com os que no momento se sentem abandonados pela ausência de um trabalho.
Sérgio Godinho num tema antigo, para um problema muito actual.


terça-feira, 24 de março de 2009

Um Irreconhecível Presente



«A VERDADEIRA LIBERDADE NÃO VIRÁ DA TOMADA DO PODER POR ALGUNS, MAS DO PODER QUE UM DIA TODOS TERÃO DE SE OPOR AOS ABUSOS DA AUTORIDADE» (1)

A sociedade democrática criada pelo mundo contemporâneo, pelos direitos naturais do homem, consagrados na revolução americana representou a construção de uma sociedade aberta. Este tipo de sociedade só pode existir com a mínima dignidade e segurança respeitando os seus fundamentos.
A razão nos princípios de decisão, a Lei como garantia de consolidação individual dos direitos e a separação dos poderes. Tudo isto pressupõe um acesso livre, seguro, garantido à informação. Portugal após três décadas de um limitado estado social vê esses mecanismos alterados nos seus fundamentos.

O episódio da antena 1 revela como quem serve o poder, o doutrina e organiza julga que os cidadãos são imbecis, não compreendem nas entrelinhas o que se procura dizer. O trabalhinho, essa deve ser a única preocupação. Aos povos não se pede, nem se reclama que pensem, para isso existem as elites. E elas são sempre generosas. Elas existem para nos pouparem a esse extremo dilema que é o de raciocinar sobre o real. Os episódios são inúmeros nesta cruzada de limitar a capacidade de informação. As limitações ao poder judicial e a criação de autómatos apenas vocacionados para produzir, não para meditar são esclarecedores. A que ideias culturais de desenvolvimento humano se têm assistido? Há um entorpecimento geral do País.

Gostamos de nos afirmar democráticos, mas somo-lo apenas na aparência. Não é a Democracia o estabelecimento de um contrato eleitoral entre os representantes e os representados? Como se pode então assistir a um desvio tão profundo na prática democrática? Vivemos de facto um tempo de modernidade e ainda assim ansiamos numa longa fila de figuras cinzentas à espera que Portugal seja como Almada dizia «algo de decente?» Podemos aspirar a um governo justo que insiste em fazer da governação aos seus cidadãos, «uma mera execução técnica sem a garantia de deveres cívicos», como o explica Miguel Real. Que valores de comunhão com a sociedade foram criados ou pensados nos últimos anos?

Mais uma vez Mário Crespo soube diagnosticar com a sua impressiva opinião como em tempos novos se praticam velhos métodos. A conferir, no link abaixo:

http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=M%E1rio%20Crespo

(1) Ernesto Sabato, Resistir, Dom Quixote

Visita de Estudo de História - Caravela e Belém


segunda-feira, 23 de março de 2009

No Caminho da Tolerância


«No seu rosto brilhava a serenidade da sabedoria a que nenhuma vontade se opõe, que conhece a perfeição, que está em sintonia com o fluxo dos acontecimentos, com o curso da vida, cheia de compaixão, cheio de simpatia, entregue à corrente, parte da unidade.» (1)

Gostamos de aqui deixar textos sobre a desfiguração do real, que neste país acontecimentos, pessoas, acções têm sofrido na perda evidente da dignidade humana. Mas apreciamos bem mais aqui deixar mensagens de poetas, vozes de solidariedade, de «fraterna ternura», como António Lobo Antunes lhes gosta de chamar, pessoas.
Essas pessoas que nos dão esperança que devemos sempre recomeçar para defender o carácter divino da humanidade. Fernando Nobre é um deles.
Médico de profissão, missionário da vida, conquista em múltiplas acções as tragédias e os seus rastos amargos que a natureza e mais frequentemente o homem inflige a si próprio. Vemos de cada vez que a tragédia assola vastas regiões de África, da Ásia ou da América do Sul a partir sempre com determinação em salvar vidas, em resgatar sorrisos, em ajudar órfãos a transformar o mundo que a nós nos parece tão longe e tão absurdo.
Ele sempre com a sua sabedoria de quem já compreendeu o mundo, ensina-nos como a amabilidade e a simpatia pelos outros pode ser, deve ser uma característica da experiência humana. É essa dimensão que lhe dá sentido.
Em reconhecimento pela sua missão, aqui deixamos as palavras de quem partiu há mais de uma década, mas cuja força é igualmente inspiradora, Natália Correia.


Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, (...),

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Ámen.

Para os que quiserem conhecer um projecto de vida que é uma inspiração aqui ficam, os seus livros:
- Viagens Contra a Indiferença e Imagens Contra a Indiferença

O link do seu blogue que vale a pena consultar aqui fica:
http://fernandonobre.blogs.sapo.pt/

(1) Herman Hesse, Siddartha, Casa das Letras
(2) Natália Correia,
Ó Véspera do Prodígio IV, in Sonetos Românticos



Um País chamado Cansaço

Sem dignidade nem respeito pela vida humana, que Justiça pode pretender ser um pilar de uma sociedade civilizada? Sem valores espirituais, como acreditar na consciência colectiva que de facto alguém governa para o bem comum, alguém se interessa, alguém se preocupa? Poderemos ser alguma coisa mais do que um cansaço infinito onde o direito das pessoas, o seu respeito já não mora nas colunas de uma LEX sem visão de humanidade?

O texto abaixo foi escrito por Ivo carvalho no Diário de Notícias,do passado dia vinte de Março. É demasiado triste o que e vai construindo neste País para fazer mais comentários. O mal e o descrédito social relevam deste desastre de consciências, onde a burocracia legitima tudo. Valores, sentimentos, atitudes...


O juízo do juiz


«Por mais que tente, por mais que me expliquem, por mais que leia e releia as normas do Código do Processo Penal, não consigo compreender como é que alguém que mata a mulher com seis facadas e o faz em frente à filha da vítima, uma criança de dez anos, consegue a proeza de não ficar em prisão preventiva. Por mais que me esforce, não consigo imaginar sequer o terror em que vive aquela criança ao saber que o padrasto pode visitá-la tranquilamente um destes dias, na Mexilhoeira Grande, Portimão, sabe-se lá com que propósito. Porque nem disso ficou impedido.

Os legalistas acharão a tese populista. Porque nenhum juiz age contrariamente ao espírito da lei. E, como tal, Pedro Frias - o juiz do caso - deve ter tido uma razão muito forte para não ter decretado a prisão preventiva do suspeito de um crime de sangue. Mais a mais, dirão ainda, o novo Código do Processo Penal veio diminuir a capacidade de os magistrados aplicarem a mais gravosa das medidas de coacção.

Desconheço os fundamentos da decisão do juiz Pedro Frias, mas não tenho dúvida nenhuma que o senso comum se inclinará a classificá-la, digamos assim, de demasiadamente permissiva. Porque beneficia o arguido e não a vítima (ou, se quisermos, prejudica duplamente uma criança que perdeu a mãe de uma forma bárbara). Neste caso, aparentemente, o crime compensou: a única obrigação do presumível homicida é apresentar-se diariamente às autoridades. E não ir, já agora, se não for incómodo, para muito longe do sol algarvio.

Por que é que isto acontece? Basicamente, porque o arguido soube servir-se bem da lei. Aconselhou-se devidamente com um advogado e, um dia depois de alegadamente ter cometido o crime, entregou-se às autoridades, cortando, assim, pela raiz a hipótese de lhe ser decretada a prisão preventiva com base no risco de fuga. Recebeu uma mera notificação para comparecer no tribunal no dia seguinte, mas só resolveu aparecer dois dias depois. Mesmo assim, o juiz endossou-lhe as chaves de uma liberdade muitíssimo pouco condicionada.

Pedro Frias é o mesmo juiz que não decretou prisão preventiva a um homem que disparou três tiros contra outro dentro de uma esquadra de Portimão, alegando, de acordo com os relatos transcritos nos jornais, que o agressor tinha agido emocionalmente. A vítima, essa, vive agora as emoções como tetraplégica.

Pedro Frias é o mesmo juiz que decretou prisão preventiva a um homem acusado de furtar um telemóvel e é o mesmo juiz que demorou pouco mais de uma hora a também ordenar preventiva ao desequilibrado que roubou um camião em Lagos, matou uma mulher e atropelou outras oito pessoas.

Servem estes exemplos, sobretudo o último, para fazer supor que não se está perante nenhum padrão comportamental e mais perante uma questão de estilo. Mas esta discricionariedade de juízos comporta múltiplos perigos: passa um sinal de impunidade para os criminosos, um sinal de impotência para as forças da autoridade e, mais grave do que tudo, um sinal para as vítimas de que se a lei dos tribunais não acaba com o seu sofrimento o melhor é enveredarem pela menos convencional mas mais certeira lei dos homens. No fundo, fazendo justiça pelas próprias mãos e não pelas mãos dos outros».

in, http://magnoliaviva.blogspot.com/2009/03/vulnerabilidades.html

sábado, 21 de março de 2009

Passeio Pedestre na Serra de Montejunto
















Dia Mundial da Poesia III


Neste Dia Mundial da Poesia, umas breves e modestas palavras sobre a Poesia, e sobre ela, que é neste mês a nossa autora do mês na Biblioteca. A leitura e a escrita de poesia são o nosso bilhete de identidade, o que nos revela, o que nos identifica com a Humanidade. Lemos poesia, não para compreender o mundo, mas para a tentativa tantas vezes falhada de com o nosso olhar o construir. Construção feito a partir de uma viagem, onde a miséria e a grandeza se unem.
Ler poesia e redigir as suas palavras é como ela dizia,«uma arte do ser», uma escritura de comunhão com o real, onde descobrimos como as imagens e as pessoas convivem no silêncio, na luz azul do mar, no deslumbramento do desconhecido, na experiência do sentir, no perfume das flores.
Ela ensinou-nos que é na poesia que nos descobrimos, que percebemos para onde podemos ou desejamos ir, que vida teremos a sabedoria de construir. Ela é aos nossos olhos a própria poesia, a que procura com integridade reconstruir todas as manhãs um mundo de ombros claros, como a luz que de manhã surge do mar a inundar os olhos de todos. Naturalmente, Sophia. Deixamos aqui a transcrição do seu poema, A Casa Térrea:

Que a arte não se torne para ti a compensação daquilo que não soubeste ser

Que não seja transferência nem refúgio
Nem deixes que o poema te adie ou divida: mas que seja
A verdade do teu inteiro estar terrestre

Então construirás a tua casa na planície costeira
A meia distância entre a montanha e o mar
Construirás - como se diz - a casa térrea -
Construirás a partir do fundamento

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética

Dia Mundial da Poesia II


O Centro Cultural de Belém, pelo segundo ano consecutivo vai comemorar, hoje 21 de Março, o Dia Mundial da Poesia. Esta iniciativa tem o apoio do Plano Nacional de Leitura e dinamiza com todos os que quiseram lá se deslocar a partilha do universo da poesia de língua portuguesa de diversos espaços geográficos: de Portugal, ao Brasil e aos países africanos.
Nesta comemoração do Dia Mundial da Poesia vão ser lidos por diferentes pessoas, poemas próprios e de diversos autores, pelo prazer de ler e de ouvir.
Existirão igualmente actividades como uma Feira do Livro da Poesia, oficinas para crianças e respectivos pais onde se brincam com os sons e significados das palavras, documentários e maratonas de leitura dos Lusíadas. Deixamos abaixo o link do programa, para os interessados que a Belém se possam deslocar. Vale a pena.

http://www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Literatura/Pages/Diamundialdapoesia2009.aspx

Dia Mundial da Poesia I


Neste dia 21 de Março assinala-se o Dia Mundial da Poesia. Proclamado pela Unesco em 1999, pretendendo a defesa da diversidade linguística, esta data tem sido assinalada das mais variadíssimas formas: feiras do livro, debates. ateliers, lançamentos de obras poéticas, sessões de leitura animada, tudo em prol da missão de dar a conhecer, ou relembrar, a existência de um estilo literário tão nobre. Se a história literária do nosso país é redigida com base na arte poeta de todos os que levaram a nossa língua, a nossa identidade, além fronteiras certo é que nas camadas jovens poucos são os que se dedicam à poesia.
Como forma de assinalar esta efeméride ressalva-se a iniciativa da Associação Cidadania Viva, que em colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa e o projecto LEM (Lisboa Encruzilhada de Mundos), afixará na Baixa de Lisboa um poema gigante. Serão 150 metros de tela, patente na Rua Augusta, entre as 12 e as 17 horas, que pretende «promover e celebrar a poesia levando-a ao comum do cidadão» (1). para além de desfrutar da obra poética de Inês Pedrosa, Maria Andresen, Eduardo Pitta, Fernando Pinto do Amaral, Manuel Alegre e Nuno Júdice, quem por lá passar terá o privilégio de acrescentar um verso da sua autoria.


(1) Jornal de Notícias, Edição de 16 de Março de 2008
Imagem in, http://wwww.abacus-es.com

sexta-feira, 20 de março de 2009

Albert Einstein - Profª Carla Maia


No dia catorze de de Março de 1879 nascia na Alemanha um dos maiores génios da Humanidade, Albert Einstein. Este físico alemão através das suas descobertas e teorias proporcionou-nos uma nova visão sobre os conceitos de energia, massa, tempo e espaço. Uma das suas teorias científicas mais importantes e conhecida é a Teoria da Relatividade: a energia é igual à multiplicação da massa de um corpo pela velocidade da luz ao quadrado.

Actualmente, em pleno século XXI, há enigmas, nascidos das suas ideias, ainda por desvendar, nomeadamente relacionados com o Universo, desde a partícula mais ínfima até ao imensamente grande, a descoberta de planetas com vida noutros Sistemas Solares, assim como descobrir algo com uma velocidade superior à luz.

É interessante verificar que Albert Einstein, com a sua inteligência sublime, abriu a porta para todas estas questões, provocando uma revolução na mente humana, na forma como olhamos o mundo que nos rodeia e na questão do lugar que o Homem ocupa no Universo e até onde irá chegar!

Deixamos aqui algumas das suas palavras, para todos podermos reflectir:

«O ser humano vivencia a si mesmo os seus pensamentos, como algo separado do resto do Universo numa espécie de ilusão de óptica da sua consciência e, essa ilusão é um tipo de prisão que nos restringe aos nossos desejos pessoais, conceitos e ao afecto apenas pelas pessoas mais próximas.»

«A nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão ampliando o nosso círculo de compaixão para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza na sua beleza. Ninguém conseguirá atingir completamente este objectivo mas, lutar pela sua realização, já é por si só parte da nossa libertação e o alicerce da nossa segurança interior.»

«Jamais consideres os seus estudos como uma obrigação, mas sim como uma oportunidade invejável (...) para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para o seu próprio prazer pessoal e para o proveito da comunidade à qual o seu futuro trabalho pertencer.»

quarta-feira, 18 de março de 2009

Jornal do Agrupamento

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Jornal do Agrupamento

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Concurso Literário Jovens Escritores

O Modelo promove até ao fim do mês de Março um concurso literário para jovens escritores (alunos do 2º e 3º Ciclos) bastando apresentar um texto sobre os seguintes temas:
-Ambiente; - Amizade; - Família; - Animais e Férias de Verão;
Aos vencedores, dois por cada tema, o Modelo oferece os seguintes prémios:
- Publicação dos textos num livro a apresentar na Feira do Livro promovida pela Sonae em Julho;
- 1 ipod para o vencedor;
- Oferta de 200 livros para a biblioteca da escola a que pertence o aluno vencedor;

É aliciante. Como participar? Regulamento e ficha de inscrição, podem ser vistos no link abaixo.


http://www.modelo.pt/index.php/concurso-literario.html

Construir um País


Na comemoração dos trinta e cinco anos do 25 de Abril, a SIC, o EXPRESSO, a VISÃO e o AEIOU fazem um convite a todos os portugueses. Cada pessoa que tenha uma ideia, sugestão ou proposta na seguintes áreas pode dar o seu contributo. Deve-a dar, pois um País é feito por todos.
Essas áreas de intervenção em que podemos colaborar são as seguintes:
- Reforçar a Liberdade;
- Aprofundar a Democracia;
- Construir uma sociedade mais solidária;
As entidades de comunicação acima indicadas comprometam-se a fazer chegar junto do Presidente da República, do Parlamento, do Governo, dos Municípios e outros agentes da
sociedade civil, as propostas enviadas.
Todos podem participar acedendo ao link seguinte:


Dialectos do Sonho



Sob esta designação, Dialectos do Sonho a Âmbar, organiza a partir de hoje, dia dezoite de Março e até amanhã, dia dezanove o 1º encontro de literatura infantil.
Este escontro que se realiza na cidade do Porto, na Fundação Doutor António Cupertino de Miranda apresentará a quem tiver a sorte de estar presente a reflexão sobre a tradição oral na literatura infantil, o modo como esta promove o desenvolvimento da criança e a evolução da ilustração em Portugal. Será ainda abordada a obra de José Jorge Letria na literatura infantil. Para uma consulta detalhada do programa, aqui deixamos o link do blogue onde soubemos desta iniciativa.

Feira do Livro Manuseado

A editora Assírio & Alvim, na sua morada em Lisboa, junto ao Jardim Constantino, a saber, Rua Passos Manuel, organiza desde o passado dia dezasseis até ao próximo dia onze de Abril mais uma Feira do Livro Manuseado.
Esta é uma iniciativa que se realiza anualmente
. É uma espécie de entrada para as Feiras do Livro que se irão realizar até Junho.
É uma oportunidade para desfolhar memórias, admirar palavras e caminhar pelos rostos dos livros.

terça-feira, 17 de março de 2009

Sophia



«Iremos juntos sozinhos pela areia
Embalados no dia
Colhendo as algas roxas e os corais

Que na praia deixou a maré cheia.

As palavras que disseres e que eu disser
Serão somente as palavras que há nas coisas
Virás comigo desumanamente
Como vêm as ondas com o vento.


O belo dia liso como um linho
Interminável será sem um defeito
Cheio de imagens e conhecimento



Pelas tuas mãos medi o mundo

e na balança pura dos teus ombros

Pesei o ouro do Sol e a palidez da Lua



(...) Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido

Como o florir das ondas ordenadas
»


in, No Tempo Dividido,
VIII, Poema de António e de Cleópatra e Prece

Literacia Computacional e a Leitura III

« Amar, é doarmos as nossas preferências àqueles que preferimos. E estas partilhas povoam a invisível cidadela da nossa liberdade. Somos habitados por livros e amigos. (...)
Tanto o tempo para ler como o tempo para amar dilatam o tempo de viver.(1)



A leitura nunca foi em Portugal uma prioridade dos portugueses, no seu quotidiano, nem na escola portuguesa. A paixão pelo livro, pela descoberta das ideias, pelos tempos de silêncio, da meditação dependeu demasiadas vezes da vontade dos que nos rodeavam.
O País que tem existido tantas vezes fora do desenvolvimento civilizacional do seu Tempo, iniciou a leitura com muitas décadas de atraso em relação aos países mais desenvolvidos da Europa.
António Barreto (2) defende que antes de se ter assistido a uma massificação da leitura, o País viveu a democratização dos meios audiovisuais, a televisão, e recentemente o telemóvel e o computador. Aqui a concentração do discurso, a rapidez do acesso, a multiplicidade de linguagens, o marketing, a facilidade abriram os horizontes, que alguns numa manhã de súbita inspiração viram como o futuro de um sucesso prometido. É a literacia computacional, o conhecimento embalado, pronto, construído sem esforço, meditação ou empenho.
Poderemos acusar uma iliteracia preocupante na história, na ciência, no cálculo mental, na escrita, mas do futuro veio a nossa salvação, a literacia computacional. O que poderemos fazer com ela?

A tecnologia representa um conhecimento instrumental, a matéria-prima de uma transformação só acessível a quem souber ousar os valores culturais. Sem cultura, nem pensamento, a literacia computacional não transforma a sociedade.
Apenas cria clones virtuais, desistentes do acto de pensar, onde a memória, a liberdade e a imaginação estão ausentes do que poderemos construir na sociedade humana.
É o conhecimento que permite construir a tecnologia, não o contrário.



(1) Daniel Pennac, Como Um Romance, páginas 81 e 120
(2) António Barreto, Revista Ler, Março de 2009

segunda-feira, 16 de março de 2009

Uma Linha de Rumo

Num texto simples mas inteligente, Norberto Pires, publicou no DN de treze de Março, uma linha de orientação para a desorientação e fraqueza espiritual com que a sociedade portuguesa, neste tempo de desumanidade e tecnocracia vive. Pode ser lido aqui:

http://dererummundi.blogspot.com/2009/03/voltar-as-coisas-simples-e-verdadeiras.html

Res publica e Razão


«Esta força que fui eu parece ainda capaz de instrumentar muitas outras vidas, de erguer mundos» (1)

O nosso estado colectivo afigura-se a qualquer observador atento como de profunda crise, de uma natureza que se assemelha a uma decadência, não só económica, mas também espiritual. Parece fugir-nos o sentido de uma responsabilidade pública, alicerce de um governo onde aquilo que é humano tem de ser profundamente respeitado.
A democracia como forma de governo tem de se basear num código não de pessoas, mas de leis. O governo da causa pública, no sentido da palavra res publica como os romanos a legaram ao direito moderno necessita que quem governa, acima das suas opções, tenha ideias.
Ideias em que a dignidade humana seja respeitada. Os governantes só o podem ser porque têm propostas, soluções para a sociedade onde vivem. A preocupação humana, a solidariedade, a consciência colectiva têm de estar no centro das suas escolhas. Caso contrário vivemos já não numa sociedade de governo humano, mas de «técnicos» que aplicam formulários sem qualquer originalidade nem esperança de futuro.
O abandono dos cidadãos ao seu presente como uma inevitabilidade, de algo que já não pode ser transformado, a resignação da miséria é de um perigo evidente para a consistência social e para a felicidade das pessoas.
Nenhum governante o deve fazer, como o Srº Presidente da República há dias o fez e que mais uma vez Mário Crespo, na sua inteligente prosa de jornalista empenhado nos dá conta e que aqui reproduzimos.

«Ouvir dizer ao mais alto nível do Estado que não há soluções para o horror do desemprego é ouvir dizer que o Estado faliu. Meia centena de trabalhadores despedidos de fábricas em Barcelos e Esposende tiveram essa experiência de anticidadania. Numa visita, o presidente da República foi confrontado com um grupo de desempregados que empunhavam cartazes pedindo ajuda. Foi ter com eles e disse-lhes que não tinha nenhuma solução para os seus problemas.

Para um chefe de Estado é proibido dizer isso aos seus concidadãos e depois embarcar num carro alemão de alto luxo e cilindrada, acenando, apoquentado, aos que nada têm.

É isso que faz querer que os ricos paguem as crises.

Só se é chefe de um Estado para trabalhar na busca de soluções e encontrá-las. Sem isso não se é nada. Ser presidente em Portugal não é um cargo ritual. O presidente tem nas mãos ferramentas poderosas para influenciar o destino do país. Pode nomear e demitir governos, chamar agentes executivos e executores, falar aos deputados sempre que quiser, reunir conselheiros, motivar empresários, admoestar ministros e deve, sobretudo, exigir resultados. Ser chefe de Estado em Portugal inclui poderes executivos, e como tal, ter responsabilidades de executivo. Ao dizer que não tem soluções para as vítimas do descalabro que há três décadas estava em gestação no país onde ocupou os mais elevados cargos, o presidente da República dá à Nação a mensagem de que nem ao mais alto nível há o sentido da responsabilidade nem a cultura de responsabilização.

Ao dizer aos desempregados de Barcelos que nada pode fazer, o presidente diz a todo o Portugal que o Estado e o seu sistema não são mais do que um imenso círculo de actores autodesresponsabilizados que vão passando a batata-quente de uns para os outros. Depois destas declarações aos desempregados, o célebre letreiro "The Buck Stops Here", que Roosevelt tinha na sua secretária, não tem lugar na mesa de trabalho do presidente português. Com esse letreiro, que equivale a dizer que a batata-quente não passa daqui, Roosevelt lançou as bases da maior economia do Mundo das cinzas da grande depressão. Em Portugal, na maior depressão de sempre, o presidente diz que não tem soluções. Devia tê-las. Aníbal Cavaco Silva desde Sá Carneiro que participa no Governo. Dirigiu executivos durante a década em que Portugal teve a oportunidade histórica de ter todo o dinheiro do Mundo para se transformar num país viável. Mesmo com a viabilidade da economia questionada, Cavaco Silva, como profissional que é, regressa à política com uma longa e feroz luta pela presidência da República. Assumiu-se como a "boa moeda" que conseguiria resistir às investidas das "más moedas", na sua cruel pedagogia da Lei de Gresham, que foi determinante para aniquilar um governo do seu próprio partido e dar-lhe a chefia do Estado.

É um homem de acção impiedosa e firme, quando a quer ter.

Se o pronunciamento que fez de não ter soluções para esta crise foi uma tentativa de culpabilizar só o Governo, então foi de um insuportável, mas característico, tacticismo. Se foi sincero, então foi vergado pelo remorso, e anunciou que a sua longa carreira de político e de homem público chegou ao fim.» (JN online, 16 de Março de 2009)


(1) Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano,

Ulisseia, página 218

(Imagem - Nas Memórias materiais de uma Nacionalidade de outros Tempos,

Castelo do Queijo, na Foz do Douro)



domingo, 15 de março de 2009

Literacia Computacional ou Identidade na Leitura II

A Leitura é hoje, como o foi neste País em sucessivas gerações tardiamente iniciada e mal tratada. O horizonte traz-nos condensado em bytes tudo o que precisamos. Qual o sentido da leitura neste universo tecnológico, onde os critérios não se compreendem. Uma resposta, brilhante, como a sua figura. António Barreto, na Revista Ler, neste mesmo mês.(Livraria Lello, na cidade do Porto, de um tempo e para um tempo, onde a leitura abria horizontes de descoberta permanente)

«Da maneira como o governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal. Chegou-se ao ponto de criticar aquilo a que chamaram «cultura livresca». O que é terrível. É a condenação do livro. Quando o livro é a melhor maneira de transmitir cultura. Ainda é a melhor maneira. A coroa de todo este novo aparelho ideológico que está a governar a escola portuguesa, e noutras partes do mundo, é o Magalhães. Ele foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de u
ma nova cultura, que em certo sentido, é a destruição da leitura

Literacia Computacional ou Identidade na Leitura I

sábado, 14 de março de 2009

Prémios


Após cinco incompletos meses na blogosfera receber um prémio é sempre uma satisfação. O prémio CARMIN foi oferecido por Domenico Condito, do blogue Utopiecalabresi. Agradecemos a distinção que nos procuraram dar.
Por vezes os «opinion makers» neste País tendem a não valorizar este espaço de comunicação com o argumento que se produzem opiniões que não estão identificadas. Não é o nosso caso. As que aqui apresentamos, fruto do nosso pensamento e reflexão, das actividades promovidas no espaço cultural e das redigidas em colaboração com os alunos de uma determinada Biblioteca são visíveis. Só podiam estar.

O prémio acima indicado pode ser visto aqui:
http://utopiecalabresi.blogspot.com/2009/03/utopie-calabresi-ha-ricevuto-il-premio.html


A seu tempo também nós deixaremos este prémio nos blogues que visitamos e que fazem da palavra um instrumento de reflexão do quotidiano.

O Tibete - Meio Século Depois


«A noite vai bem avançada. Dá-me um fósforo (...) (1)


Deixamos aqui o nosso protesto contra a violência com que a China continua no Tibete a tratar os tibetanos. Invadido pelos comunistas, em Setembro de 1951 tem sido o palco da destruição continuada de mosteiros, da violência e opressão de uma cultura que se manifesta na impossibilidade de viver as suas ancestrais tradições. Violência e opressão intoleráveis para com o Direito Humano, incapaz de aceitar a prisão e a morte de civis que apenas pretendem assumir a sua tradição civilizacional.
Relembramos aqui o dez de Março de 1959, como uma das tentativas para repor a dignidade de um povo e de uma cultura. A colonização chinesa ameaça a continuidade dessa cultura, especialmente quando é feita sob princípios totalitários. Os princípios que a Revolução Cultural tão bem exprimiu com a sua prática de apagamento de uma consciência colectiva, onde o valor do indivíduo desaparece ao serviço da «grande revolução», que mais não foi que a concretização de um regime totalitário. Passaram assim cinquenta anos sobre esta tentativa de libertação que ainda está por fazer.
Denunciar o mal é a primeira forma de o combater. O mal apenas se alimenta dos que mantendo o seu apoio, justificam os erros sistemáticos de não aceitar o Homem como centro indispensável de todos os direitos de existência.
Denunciar essas paisagens de medo que não devem ser mais aceites é essencial. E denunciar também a pequena, a liliputiana mentalidade de não receber como chefe de Estado, que de facto o é por direito e que do ponto de vista humano é uma imensa alma, O Dalai Lama.
Um Estado, um País, um governo que se recusa a receber um homem desta grandeza só pode estar do lado errado da História e do pensamento humanista. Outros, sem a nossa desastrada incapacidade de viver no presente os valores universais, souberam honrar a tradição cultural europeia construída na dignidade do ser.


Lu Yan, Melancolia, citado por Zhu Xiao-Mei, O Rio E O Seu Segredo