terça-feira, 24 de março de 2009

Um Irreconhecível Presente



«A VERDADEIRA LIBERDADE NÃO VIRÁ DA TOMADA DO PODER POR ALGUNS, MAS DO PODER QUE UM DIA TODOS TERÃO DE SE OPOR AOS ABUSOS DA AUTORIDADE» (1)

A sociedade democrática criada pelo mundo contemporâneo, pelos direitos naturais do homem, consagrados na revolução americana representou a construção de uma sociedade aberta. Este tipo de sociedade só pode existir com a mínima dignidade e segurança respeitando os seus fundamentos.
A razão nos princípios de decisão, a Lei como garantia de consolidação individual dos direitos e a separação dos poderes. Tudo isto pressupõe um acesso livre, seguro, garantido à informação. Portugal após três décadas de um limitado estado social vê esses mecanismos alterados nos seus fundamentos.

O episódio da antena 1 revela como quem serve o poder, o doutrina e organiza julga que os cidadãos são imbecis, não compreendem nas entrelinhas o que se procura dizer. O trabalhinho, essa deve ser a única preocupação. Aos povos não se pede, nem se reclama que pensem, para isso existem as elites. E elas são sempre generosas. Elas existem para nos pouparem a esse extremo dilema que é o de raciocinar sobre o real. Os episódios são inúmeros nesta cruzada de limitar a capacidade de informação. As limitações ao poder judicial e a criação de autómatos apenas vocacionados para produzir, não para meditar são esclarecedores. A que ideias culturais de desenvolvimento humano se têm assistido? Há um entorpecimento geral do País.

Gostamos de nos afirmar democráticos, mas somo-lo apenas na aparência. Não é a Democracia o estabelecimento de um contrato eleitoral entre os representantes e os representados? Como se pode então assistir a um desvio tão profundo na prática democrática? Vivemos de facto um tempo de modernidade e ainda assim ansiamos numa longa fila de figuras cinzentas à espera que Portugal seja como Almada dizia «algo de decente?» Podemos aspirar a um governo justo que insiste em fazer da governação aos seus cidadãos, «uma mera execução técnica sem a garantia de deveres cívicos», como o explica Miguel Real. Que valores de comunhão com a sociedade foram criados ou pensados nos últimos anos?

Mais uma vez Mário Crespo soube diagnosticar com a sua impressiva opinião como em tempos novos se praticam velhos métodos. A conferir, no link abaixo:

http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=M%E1rio%20Crespo

(1) Ernesto Sabato, Resistir, Dom Quixote

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