terça-feira, 17 de março de 2009

Literacia Computacional e a Leitura III

« Amar, é doarmos as nossas preferências àqueles que preferimos. E estas partilhas povoam a invisível cidadela da nossa liberdade. Somos habitados por livros e amigos. (...)
Tanto o tempo para ler como o tempo para amar dilatam o tempo de viver.(1)



A leitura nunca foi em Portugal uma prioridade dos portugueses, no seu quotidiano, nem na escola portuguesa. A paixão pelo livro, pela descoberta das ideias, pelos tempos de silêncio, da meditação dependeu demasiadas vezes da vontade dos que nos rodeavam.
O País que tem existido tantas vezes fora do desenvolvimento civilizacional do seu Tempo, iniciou a leitura com muitas décadas de atraso em relação aos países mais desenvolvidos da Europa.
António Barreto (2) defende que antes de se ter assistido a uma massificação da leitura, o País viveu a democratização dos meios audiovisuais, a televisão, e recentemente o telemóvel e o computador. Aqui a concentração do discurso, a rapidez do acesso, a multiplicidade de linguagens, o marketing, a facilidade abriram os horizontes, que alguns numa manhã de súbita inspiração viram como o futuro de um sucesso prometido. É a literacia computacional, o conhecimento embalado, pronto, construído sem esforço, meditação ou empenho.
Poderemos acusar uma iliteracia preocupante na história, na ciência, no cálculo mental, na escrita, mas do futuro veio a nossa salvação, a literacia computacional. O que poderemos fazer com ela?

A tecnologia representa um conhecimento instrumental, a matéria-prima de uma transformação só acessível a quem souber ousar os valores culturais. Sem cultura, nem pensamento, a literacia computacional não transforma a sociedade.
Apenas cria clones virtuais, desistentes do acto de pensar, onde a memória, a liberdade e a imaginação estão ausentes do que poderemos construir na sociedade humana.
É o conhecimento que permite construir a tecnologia, não o contrário.



(1) Daniel Pennac, Como Um Romance, páginas 81 e 120
(2) António Barreto, Revista Ler, Março de 2009

1 comentário:

Diana disse...

olá! adorei esse livro! estou apaixonada pela escrita de Daniel Pennac. Se não leste recomendo-te 'Mágoas de Escola"