Sou um prisioneiro irremediável numa penitenciária de valores tão entranhados na minha fisiologia que, longe deles, seria um cadáver a respirar»
(Miguel Torga, Diário)
De seu nome, Adolfo Correia da Rocha, com a profissão de médico, é um dos mais importantes escritores do século XX. Arrisquemos, que talvez tenha sido o mais importante a seguir a Pessoa. Escreveu sob o pseudónimo de Miguel Torga. Miguel em homenagem a duas figuras maiores da cultura universal, Cervantes e Unamuno. Torga em respeito pela sua real dimensão (torga é na verdade uma planta rasteira, transmontana, uma espécie de urze que cresce e resiste entre as rochas).
Natural de Sabrosa, distrito de Vila Real construiu uma obra vasta, variada, que abarcou a poesia, o romance, o conto e as memórias. Fundou várias revistas literárias e publicou desde 1928 uma extensa obra, podendo-se destacar os Bichos, Novos Contos da Montanha, a Poesia e os Diários. Recebeu diferentes prémios entre 1969 e 1981 ( Diário de Notícias, Poesia de Bruxelas, Prémio Montagne) e que certamente pela sua voz única e resistente teria merecido o Nobel que não lhe chegou a ser dado. A sua obra encontra-se traduzida em diferentes línguas, em todo o mundo.
Miguel Torga representa na dimensão humana o carácter duro, mas solidário, frontal, mas apaixonado por uma consciência de valores imutáveis. A sua escrita apresenta o encanto silvestre e a originalidade humana desse reino único, muito especial, aquele deu o nome de maravilhoso. A sua obra e a sua figura são a morada desse tempo quase eterno onde a montanha faz nascer a liberdade e a beleza.
Miguel Torga transporta nas suas letras a matéria e a cultura de um povo. Neste País, foi mais um dos pensadores impedidos de contribuir para a transformação do mesmo. Neste canto à beira atlântico, as ideias que dão corpo às palavras e às pedras são esquecidas por um poder político afastado da respiração das pessoas. Lembrar Miguel Torga é assim importante e belo, não só pelas suas vogais, mas sobretudo pela força individual que cada um tem e que ele revelou com uma sentida inspiração, a que recebeu do vento a soprar no cimo dos montes e das fragas.
Este mês, nos catorze anos da sua morte, lembramos a matéria da sua escrita em diferentes posts. Na Biblioteca ele é o autor do mês de Janeiro e será feita a leitura de excertos da sua obra nas aulas dedicadas ao Plano Nacional de Leitura.
No fim desta primeira evocação deixamos aqui as palavras escritas por Eugénio em homenagem a Torga:
(...)
É muito tarde para as lentas
narrativas do coração,
o vento continua
a tarefa das folhas:
cobre o chão de esquecimento
Eu sei: tu querias durar.
Pelo menos durar tanto como o tronco
da oliveira que teu avô
tinha no quintal.Paciência,
querido, também Mozart morreu
Só a morte é imortal» («Não Sei», O Sal da Língua)
Natural de Sabrosa, distrito de Vila Real construiu uma obra vasta, variada, que abarcou a poesia, o romance, o conto e as memórias. Fundou várias revistas literárias e publicou desde 1928 uma extensa obra, podendo-se destacar os Bichos, Novos Contos da Montanha, a Poesia e os Diários. Recebeu diferentes prémios entre 1969 e 1981 ( Diário de Notícias, Poesia de Bruxelas, Prémio Montagne) e que certamente pela sua voz única e resistente teria merecido o Nobel que não lhe chegou a ser dado. A sua obra encontra-se traduzida em diferentes línguas, em todo o mundo.
Miguel Torga representa na dimensão humana o carácter duro, mas solidário, frontal, mas apaixonado por uma consciência de valores imutáveis. A sua escrita apresenta o encanto silvestre e a originalidade humana desse reino único, muito especial, aquele deu o nome de maravilhoso. A sua obra e a sua figura são a morada desse tempo quase eterno onde a montanha faz nascer a liberdade e a beleza.
Miguel Torga transporta nas suas letras a matéria e a cultura de um povo. Neste País, foi mais um dos pensadores impedidos de contribuir para a transformação do mesmo. Neste canto à beira atlântico, as ideias que dão corpo às palavras e às pedras são esquecidas por um poder político afastado da respiração das pessoas. Lembrar Miguel Torga é assim importante e belo, não só pelas suas vogais, mas sobretudo pela força individual que cada um tem e que ele revelou com uma sentida inspiração, a que recebeu do vento a soprar no cimo dos montes e das fragas.
Este mês, nos catorze anos da sua morte, lembramos a matéria da sua escrita em diferentes posts. Na Biblioteca ele é o autor do mês de Janeiro e será feita a leitura de excertos da sua obra nas aulas dedicadas ao Plano Nacional de Leitura.
No fim desta primeira evocação deixamos aqui as palavras escritas por Eugénio em homenagem a Torga:
(...)
É muito tarde para as lentas
narrativas do coração,
o vento continua
a tarefa das folhas:
cobre o chão de esquecimento
Eu sei: tu querias durar.
Pelo menos durar tanto como o tronco
da oliveira que teu avô
tinha no quintal.Paciência,
querido, também Mozart morreu
Só a morte é imortal» («Não Sei», O Sal da Língua)
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