quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Miguel Torga


«O Doiro sublimado. O prodígio de uma paiagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que se contempla: é um excesso da natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir encostas (...) um poema geológico. A beleza absoluta.» (1)

No mês em que na Biblioteca, lembramos Miguel Torga, um pequeno texto sobre a matéria da sua escrita - o Douro e o Reino de Magia onde ele se suporta.
O Douro, o seu vale, as suas montanhas são uma ilha profunda onde a grandeza do natural ensinou ao homem o caminho do ser. A determinação numa natureza diversa, entre o xisto e o granito, entre a terra e o céu, um homem lutador construiu uma história humana deslumbrante, o Alto Douro Vinhateiro.
Entre o Atlântico e o interior continental uma síntese dos elementos, permitiu na sua combinação, que o fogo, a terra, o ar e a água se combinassem em encostas escarpadas, onde as palavras, os risos, o sofrimento do homem erigisse um monumento à sua grandeza - o generoso vinho do Porto.
O Douro é certamente isso, mas também é muito mais. Para o compreender é preciso chegar perto, aos seus sinuosos contornos. Em nenhuma outra paisagem deste País, a Natureza e o Homem se souberam dar, numa aprendizagem mútua como no Douro. Foi justamente à volta da vinha que os homens procuraram novos conhecimentos, que a organização social evoluiu ou que o património cultural foi preocupação dos diversos grupos sociais. Preocupação para com o valor cósmico de um vale, que criou no trabalho da uva os seus rituais próprios, os socalcos, as cepas, a vindimas, a navegação.
Hoje, que a mecanização e as barragens forçaram o grande rio a uma domesticação, onde os risos e os abraços já não são tão regulares, importa conhecer conhecer ainda a génese desses vales e da sua vida - a montanha.
É na contemplação desses montes austeros, panorâmicos, de uma beleza absoluta numa magia que só a montanha pode revelar que podemos encontrar o horizonte infinito. É o Douro do granito, onde a escala humana já não é suportável, mas onde compreendemos que foi ali que nascemos para a imensa novidade de descoberta do mundo.


(1) Miguel Torga, Diário XII

Imagem: A Caminho do Pinhão
 (Fonte: Douro - Muito mais que um Rio- Evasões)

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