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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Miguel Torga


O escritor Miguel Torga, nome literário do médico Adolfo Correia da Rocha, nasceu a 12 de Agosto de 1907, em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes. Filho de gente do campo, não mais se desliga das origens, da família, do meio rural e da natureza que o circunda. Mesmo quando não referidos, estão sempre presentes o Pai, a Mãe, o professor primário Sr. Botelho, as fragas, as serranias, a magreza da terra, o suor para dela arrancar o pão, os próprios monumentos megalíticos em que a região é pródiga.


Adolfo escolheu este pseudónimo por duas razões: Miguel por ser o nome próprio de dois mestres da língua castelhana – Cervantes e Unamuno – nobres escritores igualmente preocupados com a alma humana; Torga à semelhança das “torgas” que são urzes que florescem nas terras transmontanas, de raízes fortes, inabaláveis, bem metidas nas rochas.

Responsável por um vasto espólio literário de entre os seus textos mais conhecidos estão Os Bichos (1940), Odes (1946) e os dezasseis volumes do seu Diário, abrangendo o período entre 1941 e 1993.

Em 1976 foi-lhe atribuído o Grande Prémio Internacional de Poesia da XII Bienal de Knokke-Heist (Bélgica). Dois anos depois foi, de novo, proposto para prémio Nobel. Em 1978 a Fundação Calouste Gulbenkian prestou-lhe homenagem nos cinquenta anos de carreira literária. Dois anos mais tarde recebeu o Prémio Morgado de Mateus com o escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade. A 10 de Junho de 1989 o júri do Prémio Camões dá-lhe esse prestigiado galardão e, em Janeiro de 1991, a revista «Le Cheval de Troie» dedica-lhe um número especial. É mais uma vez nomeado para o Nobel da Literatura pela Associação Portuguesa de Escritores.

Em 1993 publica o 16º volume de «Diário». O último.
A 17 de Janeiro de 1995, às doze horas e vinte e três minutos deixa este mundo.

«Ser livre é um imperativo que não passa pela definição de nenhum estatuto. Não é um dote, é um Dom».




Imagens in


http://oladosombra.wordpress.com/2007/11/06/camara-escura-miguel-torga/

sábado, 31 de janeiro de 2009

Miguel Torga


Brinquedo


«Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel».

Miguel Torga


«Liberdade. Passei a vida a cantá-la, mas sempre com a identidade no pensamento, ciente de que é ela o supremo bem do homem. Nunca podemos ser plenamente livres, mas podemos em todas as circunstâncias ser inteiramente idênticos. Só que, se o preço da liberdade é pesado, o da identidade dobra. A primeira, pode nos ser outorgada até por decreto; a outra, é sempre da nossa inteira responsabilidade.»

«Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,

O logro da aventura.
És homens, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças».


Miguel Torga, Diário XVI /«Sísifo»

sábado, 17 de janeiro de 2009

No Reino do Maravilhoso - Evocar Miguel Torga

« Para poder partir teria de meter no bornal o Marão, o Douro, a luz de Coimbra (...).
Sou um prisioneiro irremediável numa penitenciária de valores tão entranhados na minha fisiologia que, longe deles, seria um cadáver a respirar»
(Miguel Torga, Diário)

De seu nome, Adolfo Correia da Rocha, com a profissão de médico, é um dos mais importantes escritores do século XX. Arrisquemos, que talvez tenha sido o mais importante a seguir a Pessoa. Escreveu sob o pseudónimo de Miguel Torga. Miguel em homenagem a duas figuras maiores da cultura universal, Cervantes e Unamuno. Torga em respeito pela sua real dimensão (torga é na verdade uma planta rasteira, transmontana, uma espécie de urze que cresce e resiste entre as rochas).
Natural de Sabrosa, distrito de Vila Real construiu uma obra vasta, variada, que abarcou a poesia, o romance, o conto e as memórias. Fundou várias revistas literárias e publicou desde 1928 uma extensa obra, podendo-se destacar os Bichos, Novos Contos da Montanha, a Poesia e os Diários. Recebeu diferentes prémios entre 1969 e 1981 ( Diário de Notícias, Poesia de Bruxelas, Pré
mio Montagne) e que certamente pela sua voz única e resistente teria merecido o Nobel que não lhe chegou a ser dado. A sua obra encontra-se traduzida em diferentes línguas, em todo o mundo.
Miguel Torga representa na dimensão humana o carácter duro, mas solidário, frontal, mas apaixonado por uma consciência de valores imutáveis. A sua escrita apresenta o encanto silvestre e a originalid
ade humana desse reino único, muito especial, aquele deu o nome de maravilhoso. A sua obra e a sua figura são a morada desse tempo quase eterno onde a montanha faz nascer a liberdade e a beleza.
Miguel Torga transporta nas suas letras a matéria e a cultura de um povo. Neste País, foi mais um dos pensadores impedidos de contribuir para a transformação do mesmo. Neste canto à beira atl
ântico, as ideias que dão corpo às palavras e às pedras são esquecidas por um poder político afastado da respiração das pessoas. Lembrar Miguel Torga é assim importante e belo, não só pelas suas vogais, mas sobretudo pela força individual que cada um tem e que ele revelou com uma sentida inspiração, a que recebeu do vento a soprar no cimo dos montes e das fragas.
Este mês, nos catorze anos da sua morte, lembramos a matéria da sua escrita em diferentes posts. Na Biblioteca ele é o autor do mês de Janeiro e será feita a leitura de excertos da sua obra nas aulas dedicadas ao Plano Nacional de Leitura.
No fim desta primeira evocação deixamos aqui as palavras escritas por Eugénio em homenagem a Torga:
(...)
É muito tarde para as lentas
narrativas do coração,
o vento continua
a tarefa das folhas:

cobre o chão de esquecimento

Eu sei: tu querias durar.
Pelo menos durar tanto como o tronco
da oliveira que teu avô

tinha no quintal.Paciência,
querido, também Mozart morreu

Só a morte é imortal» («Não Sei», O Sal da Língua)