sábado, 17 de janeiro de 2009

No Reino do Maravilhoso - Evocar Miguel Torga

« Para poder partir teria de meter no bornal o Marão, o Douro, a luz de Coimbra (...).
Sou um prisioneiro irremediável numa penitenciária de valores tão entranhados na minha fisiologia que, longe deles, seria um cadáver a respirar»
(Miguel Torga, Diário)

De seu nome, Adolfo Correia da Rocha, com a profissão de médico, é um dos mais importantes escritores do século XX. Arrisquemos, que talvez tenha sido o mais importante a seguir a Pessoa. Escreveu sob o pseudónimo de Miguel Torga. Miguel em homenagem a duas figuras maiores da cultura universal, Cervantes e Unamuno. Torga em respeito pela sua real dimensão (torga é na verdade uma planta rasteira, transmontana, uma espécie de urze que cresce e resiste entre as rochas).
Natural de Sabrosa, distrito de Vila Real construiu uma obra vasta, variada, que abarcou a poesia, o romance, o conto e as memórias. Fundou várias revistas literárias e publicou desde 1928 uma extensa obra, podendo-se destacar os Bichos, Novos Contos da Montanha, a Poesia e os Diários. Recebeu diferentes prémios entre 1969 e 1981 ( Diário de Notícias, Poesia de Bruxelas, Pré
mio Montagne) e que certamente pela sua voz única e resistente teria merecido o Nobel que não lhe chegou a ser dado. A sua obra encontra-se traduzida em diferentes línguas, em todo o mundo.
Miguel Torga representa na dimensão humana o carácter duro, mas solidário, frontal, mas apaixonado por uma consciência de valores imutáveis. A sua escrita apresenta o encanto silvestre e a originalid
ade humana desse reino único, muito especial, aquele deu o nome de maravilhoso. A sua obra e a sua figura são a morada desse tempo quase eterno onde a montanha faz nascer a liberdade e a beleza.
Miguel Torga transporta nas suas letras a matéria e a cultura de um povo. Neste País, foi mais um dos pensadores impedidos de contribuir para a transformação do mesmo. Neste canto à beira atl
ântico, as ideias que dão corpo às palavras e às pedras são esquecidas por um poder político afastado da respiração das pessoas. Lembrar Miguel Torga é assim importante e belo, não só pelas suas vogais, mas sobretudo pela força individual que cada um tem e que ele revelou com uma sentida inspiração, a que recebeu do vento a soprar no cimo dos montes e das fragas.
Este mês, nos catorze anos da sua morte, lembramos a matéria da sua escrita em diferentes posts. Na Biblioteca ele é o autor do mês de Janeiro e será feita a leitura de excertos da sua obra nas aulas dedicadas ao Plano Nacional de Leitura.
No fim desta primeira evocação deixamos aqui as palavras escritas por Eugénio em homenagem a Torga:
(...)
É muito tarde para as lentas
narrativas do coração,
o vento continua
a tarefa das folhas:

cobre o chão de esquecimento

Eu sei: tu querias durar.
Pelo menos durar tanto como o tronco
da oliveira que teu avô

tinha no quintal.Paciência,
querido, também Mozart morreu

Só a morte é imortal» («Não Sei», O Sal da Língua)



quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Martin Luther King - Em nome da Humanidade

Gostaria de viver uma longa vida/Mas isso não me preocupa mais(...)/Apenas quero fazer a vontade de Deus/E ele deu-me autorização para subir até à montanha/E posso dizer-vos esta noite (...) que nós como povo chegaremos à Terra Prometida»(1)


Relembramos hoje, quinze de Janeiro, os oitenta anos do nascimento de uma figura universal, feito de determinação, coragem e humanidade, justamente Martin Luther King.
Nasceu em Atlanta, na Geórgia, formou-se no Morehouse College, tendo sido ordenado pastor da Igreja Baptista aos dezoito anos. Estudou na Universidade de Boston, onde foi influenciado pelas ideias pacifistas de outro imenso ser humano, Mohandas Gandhi. Martin Luther King conduziu a sua vida pela defesa dos direitos cívicos dos americanos, em especial dos que eram profundamente discriminados. Procurou defender com energia e coragem os direitos das minorias, em especial os negros que eram vítimas de segregação racial. Lutou por estes ideais através de protestos e marchas pacíficas e discursos de grande determinação e inspiração.
Participou na fundação do CLCS (Conferência de Liderança Cristã do Sul) que organizou os protestos não-violentos, especialmente contra a situação de segregação racial dos negros nos Estados do Sul. Situação que limitava o direito de voto, discriminava as pessoas nos seus direitos mais básicos apenas pela cor da sua pele.
As manifestações de protesto em Alabany em 1961 e 1962, em Birmingham em 1963, em St Augustine em 1964 e em Selma reafirmaram o seu protesto e a luta pelos direitos cívicos na América.
Em 1964, recebeu o Prémio Nobel da Paz, como reconhecimento da sua luta não violenta contra os preconceitos raciais. Em 1965 conseguiu concretizar a marcha entre o Alabama e Selma e a partir de 1968, ano em que foi assassinado em Memphis, organizou uma campanha de luta contra a pobreza (A Campanha dos Pobres).
A partir de 1986, os Estados Unidos celebram na 3ª segunda-feira do mês de Janeiro, um feriado designado - Dia de Martin Luther King.
Martin Luther King representou e representa ainda a consciência da humanidade pela defesa da dignidade humana e dos valores que devem organizar a sociedade - a igualdade de todos perante a Lei. As suas palavras e a sua luta são uma inspiração para continuar a procurar individualmente melhorar a construção de uma Humanidade inacabada e que esteja cada vez mais próxima do valor que cada um tem.
Mais do que estas palavras, o vídeo abaixo com o seu inspirado discurso, «I Have a Dream», realizado em 1963 demonstra a grandeza deste homem, que abriu um caminho de esperança.


(1) Último Discurso de Martin Luther King, 3 de Abril de 1968 em Memphis

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A História do Menino que vivia numa Comunidade - Nair Ferreira (5ºB)


Era uma vez um menino que se chamava José e vivia numa comunidade recolectora, ou seja, era um menino nómada.
O rapaz não gostava da vida que tomava porque não tinha casa fixa, andava sempre de um lado para o outro, devido à caça e à pesca diminuirem.
O José não gostava da vida que tinha porque comia carne crua e fria, dormia com frio e outras coisas de que ninguém gosta, porque afinal, ele só tinha nove anos.
Com o passar do tempo, o menino foi crescendo e com quinze anos, teve de começar a aprender a caçar e a pescar, a desenhar figuras nas paredes das grutas, embora não compreendesse qual era o seu significado.
Para caçar ele teve de aprender a fazer bifaces, arpões e pontas de flechas (ponta de lança). A única coisa que ele não sabia fazer, era o biface.
Então, perguntou ao pai como se fazia e entre muitas outras coisas, mais uma vez o pai explicou-lhe:
- Ouve, meu rapaz, para se fazer um biface, terás de pegar em duas pedras e bater uma na outra até que uma delas fique com a ponta em bico. E assim fez o José, que aprendeu rapidamente e até achava a tarefa divertida.
A recolecção baseava-se na recolha daquilo que a Natureza lhes oferecia: grãos, frutos silvestres (amoras, avelãs, bolotas), raízes tenras, mel, ovos de pássaros, moluscos marinhos (mexilão e ameijoas).
Com a descoberta do fogo, estes seres passaram a poder assar os alimentos, aquecerem-se nas noites frias, a espantar os animais ferozes e a iluminar as cavernas.
A arte rupestre baseava-se em gravuras e pinturas que eles gravavam e pintavam nas paredes das grutas, e nas pedras, ao ar livre.
Com a descoberta do fogo, o José passou a gostar da sua vida.
E assim termina a minha história, explicando como viviam estes homens, incluindo o José.




A História do Uga - Lara Pinheiro (5ºB)

OLá!
Eu sou o Uga, e vivi a muitos, muitos, mas mesmo muitos anos antes de tu nasceres.
Sabes nessa época, vivia-se de uma maneira muito diferente, eu vou contar-te.
O meu vestuário era feito da pele dos animais que o meu pai caçava, porque nesta época fazia muito, muito frio.
A minha comunidade recolectora é de trinta pessoas e vivemos todos numa gruta, onde chegámos há uma semana. Estivemos a acampar em tendas feitas da pele dos animais. Sou assim nómada.
Naquela época os mais velhos saiam para caçar, pescar e apanhar raízes e sementes para toda a comunidade comer.
Eu adoro comer grãos, amoras, avelã, bolotas, raízes tenras, mel, ovos, mexilhão e ameijoa.
Na nossa comunidade partilhamos tudo e mais alguma coisa assim é mais fácil sobrevivermos.
Sabias que desde pequeno eu sei fazer lanças, machados, arpões, anzóis e flechas.
É mesmo muito diferente, não é?



A Minha Vida Recolectora - Beatriz Faustino (5ºB)


- Olá! Eu sou o Ismael, tenho doze anos, e vou contar-vos um pouco da história da minha vida.
Eu pertenço a uma comunidade recolectora, sou filho único e o meu passatempo preferido é pintar as caçadas que faço com o meu pai nas paredes da grutas.
Lembro-me que uma vez que estava a pintar quando vi uma espécie de estrela cadente que despertou a minha curiosodade. Larguei as pinturas e fui atrás dela, dando a desculpa de que ia recolher alimentos.
A minha mãe, admirada de eu largar as tintas por ter fome, perguntou-me:
- Tens a certeza que não preferes esperar que o teu pai regresse da caça?
- Não mãe! Obrigado, mas estou mesmo esfomeado - dizia eu, atrapalhado.
Mais tarde, já a caminho, fiquei mesmo com fome e resolvi subir a uma árvore, para ver o que havia. Haviam avelãs. Eu nem hesitei, e comi até não poder mais.
Já cansado, e de barriga cheia eu resolvi parar um pouco para descansar. É claro que adormeci e, sem reparar no tempo, deixei-me ficar.
Fez-se noite e eu continuava a dormir, até que de madrugada acordei com muito frio, as minhas roupas já não me aqueciam, por isso lembrei-me que o meu pai uma vez me tinha ensinado a fazer fogo, e foi logo o que fiz.
Eu usei o fogo não só para me aquecer, mas também para me proteger dos perigos, como os animais ferozes. Como já era noite fiquei por ali, e no outro dia de manhã, ainda com esperança de encontrar a estrela continuei caminho.
Finalmente, depois de tanto tempo, cheguei e descobri que afinal o que eu tinha visto não era uma estrela, mas sim um mini-meteorito.
Voltei para casa (com o meteorito) e encontrei os meus pais numa pilha de nervos.
Explicaram-me que estavam preocupados por não me verem há tanto tempo (visto que eu costumava passar o dia enfiado na gruta onde estávamos) e também porque o ambiente natural onde estávamos já tinha poucas coisas para recolher e que por isso tinhamos de mudar de «casa».
Mostrei-lhes o meu meteorito e eles ficaram contentes pela descoberta que fiz.
Tinha chegado a hora de partir para outra gruta, como costumo fazer sempre que a caça ou os frutos diminuem no sítio onde estou, e em conjunto com os nossos familiares partimos à procura de um novo ambiente natural com tudo o que precisavamos.
Ainda hoje guardo o meteorito.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Comemorar os oitenta anos de Tintim

Comemora-se hoje os oitenta anos do nascimento de um dos heróis mais conhecidos e célebres da Banda Desenhada. Criada por Hergé em 10 de Janeiro de 1929, mantém-se até hoje como uma das figuras que preenche a nossa imaginação. Uma leitura dos sete aos setenta e sete como se dizia há algumas décadas.
A figura de Tintim, surge como um suplemento infanto-juvenil de um diário, «Le Vingtiéme Siécle», onde o nosso herói parte como um jornalista acompanhado do seu cão Milu para a longínqua Rússia, nascendo o primeiro Álbum, «Tintim no País dos Sovietes». Após a venda de cinco mil exemplares no mesmo ano da sua 1ª publicação, foi reeditado em 1999, tendo esgotado as suas reedições anteriores. Retrato de uma sociedade cruel, muito criticado por dar uma imagem muito negativa da Rússia dos anos trinta, veríamos como o jovem desenhador tinha intuido como aquele regime se organizava.
Após este álbum, Hergé faria muitos outros, estudando com rigor arqueologia, geografia, ciência de modo a que as suas pranchas estivessem correctas nos locais e temas que introduzia nas suas aventuras.
Acompanhado de figuras fascinantes, como o capitão Haddock ou os detectives Dupond e Dupond revelaria imaginação para falar da sociedade moderna, sempre com um espírito de humor e de descoberta.
O êxito de Tintim é de certa forma o triunfo de uma época em que os jornalistas desempenhavam nobres tarefas. As de salvar o mundo, onde a informação impressa era um dos veículos dessa aventura humana. O jornalista corajoso capaz de se aventurar por qualquer desafio é igualmente uma das últimas tentativas de mostrar o valor cultural de uma Europa que ainda se aventurava pelo mundo.
A Biblioteca da Escola irá dinamizar em Fevereiro uma exposição de Álbuns e de trabalhos sobre Hergé e a sua criação, Tintim. Participa.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Sem Abrigo

«Quando escurece podem ver-se as estrelas» (1)

Descíamos os Aliados, na cidade do Porto. Uma senhora ainda jovem, magra, de cores escuras, com a solidão nos olhos, o rosto anguloso, veio ao nosso encontro. Adivinhavam-se os dias de provação no rosto cansado.
- Pode dispensar-me um pouco do seu tempo? - perguntou com uma voz calma. - Não como nada há dois dias - acrescentou, num tom de voz ao mesmo tempo desolado e reconhecedor das suas dificuldades. - Peço desculpa pelo incómodo, quase a significar a desculpa pela própria existência. Tinha uma imensa dignidade e foi de uma profunda educação a revelar o seu desespero.

- Obrigado pelo seu sorriso, acrescentou, - sabe, geralmente as pessoas fogem de mim. - Se me poder ajudar de alguma forma. Aqueles cêntimos conquistaram-lhe um pálido sorriso. Agradeceu e desejou felicidades. Observei-a na sua caminhada pela avenida onde se perderia em mais noites de desencontro.
No nascimento de dois mil e nove, uma mensagem de Ano Novo, talvez triste, mas reveladora do mundo profundamente injusto onde vivemos. Existem em Portugal, aproximadamente, nove mil pessoas nas ruas de cidades desoladas.
Num Blogue de Livros, as emoções de pessoas, o seu clamor, dos que se foram perdendo na vida, também devem caber aqui. Especialmente num momento em que os valores parecem ter sido arrumados num qualquer museu do passado.
O Filme abaixo, com a música de Pedro Abrunhosa, exprime bem melhor que estas palavras, o drama de pessoas vivas, de uma humanidade confrontada com o seu próprio esquecimento.
Há sempre forma de ajudar, de estar atento, nomeadamente através das ONG'S que se dedicam à nobre tarefa de ressuscitar a dignidade perdida dos sem abrigo. Em Portugal os CTT estão a desenvolver uma campanha de angariação de bens essenciais de primeira necessidade, que depois serão canalizados para ONG'S como a LNFC (Liga Nacional contra a Fome), a Comunidade Vida e Paz ou a AMI (Assitência Médica Internacional) entre muitas outras.
Se achares importante participar, ou se o tema te interessa consulta os sítios dessas ONG'S ou o Projecto da Luta Contra a Pobreza e a Exclusão Social na página online dos CTT.

(1) Greg Mortenson / David Relin, Três Chávenas de Chá