A escola. A flor. A flor. A escola ...
- Godofredo me contou uma coisa muito feia de você, Zezé. É verdade?
Balancei a cabeça afirmativamente.
- Da flor? É, sim, senhora.
- Como é que você faz?
- Levanto mais cedo e passo no jardim da casa do Serginho. Quando o portão está só encostado, eu entro depressa e roubo uma flor. Mas lá tem tanta que nem faz falta.
- Sim. Mas isso não é direito. Você não deve fazer mais isso. Isso não é um roubo, mas já é um «furtinho».
- Não é não, D. Cecília. O mundo não é de Deus? Tudo que tem no mundo não é de Deus? Então as flores são de Deus também ...
Ela ficou espantada com a minha lógica.
- Só assim eu podia, professora. Lá em casa não tem jardim. Flor custa dinheiro ... E eu não queria que a mesa da senhora ficasse sempre de copo vazio.
Ela engoliu em seco. (...)
- Você vai prometer uma coisa, porque você tem um coração maravilhoso, Zezé.
- Eu prometo, mas não quero enganar a senhora. Eu não tenho um coração maravilhoso. A senhora diz isso porque não me conhece em casa. (...)
- De agora em diante não quero que você me traga mais flores. Só se você ganhar alguma. Você promete?
- Prometo, sim senhora. E o copo? Vai ficar sempre vazio?
- Nunca esse copo vai ficar vazio. Quando eu olhar para ele vou sempre enxergar a flor mais linda do mundo. E vou pensar: quem me deu essa flor foi o meu melhor aluno. Está bem?
Agora ela ria. Soltou as minhas mãos e falou com doçura.
- Agora pode ir, coração de ouro ...
José Mauro de Vasconcelos, O Meu Pé de Laranja Lima,
(páginas 76- 78), Edições Melhoramentos, 2oª edição
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