domingo, 8 de fevereiro de 2009

Humanitas, Felicitas, Libertas



«Eu cá gosto é de malhar na direita (...), com especial prazer nesses sujeitos (...). São das forças mais conservadoras e reaccionárias que eu conheci na minha vida (...) a esquerda dita plebeia ou chique» (Augusto Santos Silva, 6 de Fevereiro de 2009)

Um governante de Estado de um país democrático, na aurora do século XXI considera que é no acto de malhar que se constrói a cidade humana, onde o acto de governação representa os valores da sua dimensão.
Não tinha já o imperador Adriano como seu lema de governação da cidade romana, a Humanidade, a Felicidade e a Liberdade? Não era essa a responsabilidade na pólis grega do convívio entre os que discutiam as questões da cidade? Não se fundaram os sistemas políticos democráticos, desde o século XVII na convicção que a participação dos cidadãos implicava a discussão de ideias num espaço público? Não foi pela discussão de ideias que os Estados Unidos construíram um mundo novo, onde o poder da razão protegia os cidadãos, tal como o defendeu Thomas Jefferson. Não concretizou ele de forma evidente que o direito está dependente do uso disciplinado da razão? Não é este um tipo de discurso que não responsabiliza todos na participação do bem comum? Não é esta uma linguagem que não reconhece a diversidade e como tal, impedida de alcançar a unidade da sociedade humana, como o explicou Rabindranath Tagore?
Perguntarão, que relação tem isto a ver, com uma Biblioteca e a apresentação de livros, ideias e emoções? Tudo. Não é o livro e a experiência de viver em sociedade uma tentativa de conversação, com o outro, com a vida e com o Universo? Evidentemente. Deixamos as palavras de quem o exprimiu com «varandas de ternura» de uma forma sublime, Eugénio.

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

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