Os que passaram a infância, também pelos livros, em sótãos de sonhos, onde nos refugiámos do que não compreendíamos, em aventuras e fábulas que nos conduziam persistentemente a outros mundos, temo-los guardados, esses sabores de uma forma ainda muito viva, como aqueles que fumegando subiam escada acima, desde a cozinha. Nesse tempo de imaginação e aventura, ficaram para sempre alguns marcos desse caminho, ao tempo, tão seguro.
Um desses marcos do imaginário foi escrito por alguém que neste mês, se comemora o seu nascimento e obra, José Mauro de Vasconcelos. De todos os seus livros, existe um, de lembrança única, em que a infância se descobre com dificuldades, mas também com uma ternura únicas. Falamos, naturalmente de O Meu Pé de Laranja Lima. Não sendo um livro pioneiro na revelação das dificuldades em que muitas crianças crescem, do desconforto da pobreza, talvez o seja como resposta ao desencontro com a felicidade. Se Charles Dickens ou Mark Twain já tinham centrado como heróis da narrativa a criança, José Mauro de Vasconcelos acrescentou-lhe pelo imaginário, pela ternura, pela generosidade a resposta para um significado de vida mais humano.
O Meu Pé de Laranja Lima é a descrição de uma organização social e familiar, até cultural, mas é sobretudo um modo encantado sobre vidas que parecem ter tão pouco encanto. Afinal, e mais uma vez, todo o indivíduo tem sempre no seu caminho um sonho que pode ser partilhado ou compreendido por alguém, pássaro, flor ou nuvem.
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