«Espante-me (...) preferimos escolher, com a ementa à vista, o prato a que nos habituámos, o que explica o motivo de o medíocre maravilhar os académicos e tem reduzido Portugal a uma paróquia de província onde os relógios pararam num tempo que não existe mais.» (1)
A palavra, matéria-prima da escrita e da leitura, portanto do homem, tem sido aqui apresentada e divulgada como expressão de uma «conversação», de um conjunto educativo. Uma Biblioteca, centro de organização da informação só pode desenvolver as literacias, quando a própria Literatura é um campo activo do trabalho nos programas escolares.
O desprezo a que assistimos pelos autores clássicos, sintoma de uma doença que se refugia no presente com a garantia que assim nos livraremos desse profundo incómodo, o acto de pensar e reflectir. A rota deste desastre cimentado no eduquês e na sua psicologia romântica já leva algumas décadas e os resultados são evidentes. A ausência de solidariedade, o marketing ideológico e a cegueira incurável em modas cuja verdade científica nunca foi demonstrada tem-nos conduzido a este sucesso virtual carente de fundamentos e nefasto para a própria cidadania. Sucesso virtual que é a marca distintiva de uma organização política e social incapaz de inscrever a realidade na acção quotidiana. Nada de espantar.
Já se estranha que pessoas, que dirigem instituições do ensino superior, e com formação em Estudos Literários, responsáveis pelos conteúdos dos novos programas de língua portuguesa não saibam reconhecer o que tem sido o desastre educativo das últimas três décadas nas suas componentes de organização.
A desvalorização do acto de aprender, o desprezo pelo conhecimento, a negligência pela criação de categorias do pensamento é substituído por esta afirmação de luxo, «Para termos alunos que gostem de ler são necessários professores que gostem de ler, que entendam a literatura». (2) Confirma-se que também há aqui uma Lei de Murphy, arrasadora de tudo, as incapacidades literárias e de discurso do professores portugueses. Quem fala assim ao coração é o Senhor Professor Carlos Reis, reitor da Universidade Aberta. Não é nesse templo do conhecimento que tirar um curso superior se assemelha a uma leitura sinuosa e solitária ao longo de um ano? Esse tipo de leitura permite compreender o discurso, no sentido em que ele faz parte de um conjunto cultural? É certamente a mesma objectividade com que se é historiador, sem nunca ter visto um utensílio em sílex ou metido a cabeça num campo arqueológico. A formação contínua em Portugal, tem-se apenas limitado a existir, tal como o País, sem um ideia que o sustente.
A escola portuguesa necessita apenas de simplicidade. Ter livros cientificamente correctos, abandonar essa ideia «iluminada» de que aos pobres Mozart e a Física Quântica são desperdícios e promover formativamente em cada área os conhecimentos dos professores.
É pena que o senhor reitor não nos tenha explicado como resolveria a equação erro/sucesso no domínio da língua e como é que os meios tecnológicos se relacionam para a aquisição das componentes da cultura portuguesa. Infelizmente o senhor reitor que lamenta os professores não conhecerem a literatura, deveria propor nos programas uma atitude de a valorizar não só como pensamento, mas essencialmente como produto cultural de uma sociedade. E se vale a pena os alunos saberem escrever, porque continua o funcionamento da língua com tratamento marginal? Há coisas que nunca devem mudar. É um conforto. Que avaliação se fez da anterior reforma dos programas? Nunca se conhece o objecto e o uso dessa avaliação, de uma forma rigorosa. Continuamos no caminho de uma escola medíocre. A democracia fica sempre bem, mesmo que a razão disciplinada não seja o suporte das acções dos que nos governam.
Poderia o nosso estado literário, científico, histórico, cultural e de cidadania ser diferente?
(1) António Lobo Antunes, «Assobiar no Escuro», in Segundo Livro de Crónicas, pág.131
(2) Jornal Público, entrevista publicada em 09/02/2009
(Imagem - O Douro na sua foz, junto ao Castelo do Queijo)
A palavra, matéria-prima da escrita e da leitura, portanto do homem, tem sido aqui apresentada e divulgada como expressão de uma «conversação», de um conjunto educativo. Uma Biblioteca, centro de organização da informação só pode desenvolver as literacias, quando a própria Literatura é um campo activo do trabalho nos programas escolares.
O desprezo a que assistimos pelos autores clássicos, sintoma de uma doença que se refugia no presente com a garantia que assim nos livraremos desse profundo incómodo, o acto de pensar e reflectir. A rota deste desastre cimentado no eduquês e na sua psicologia romântica já leva algumas décadas e os resultados são evidentes. A ausência de solidariedade, o marketing ideológico e a cegueira incurável em modas cuja verdade científica nunca foi demonstrada tem-nos conduzido a este sucesso virtual carente de fundamentos e nefasto para a própria cidadania. Sucesso virtual que é a marca distintiva de uma organização política e social incapaz de inscrever a realidade na acção quotidiana. Nada de espantar.
Já se estranha que pessoas, que dirigem instituições do ensino superior, e com formação em Estudos Literários, responsáveis pelos conteúdos dos novos programas de língua portuguesa não saibam reconhecer o que tem sido o desastre educativo das últimas três décadas nas suas componentes de organização.
A desvalorização do acto de aprender, o desprezo pelo conhecimento, a negligência pela criação de categorias do pensamento é substituído por esta afirmação de luxo, «Para termos alunos que gostem de ler são necessários professores que gostem de ler, que entendam a literatura». (2) Confirma-se que também há aqui uma Lei de Murphy, arrasadora de tudo, as incapacidades literárias e de discurso do professores portugueses. Quem fala assim ao coração é o Senhor Professor Carlos Reis, reitor da Universidade Aberta. Não é nesse templo do conhecimento que tirar um curso superior se assemelha a uma leitura sinuosa e solitária ao longo de um ano? Esse tipo de leitura permite compreender o discurso, no sentido em que ele faz parte de um conjunto cultural? É certamente a mesma objectividade com que se é historiador, sem nunca ter visto um utensílio em sílex ou metido a cabeça num campo arqueológico. A formação contínua em Portugal, tem-se apenas limitado a existir, tal como o País, sem um ideia que o sustente.
A escola portuguesa necessita apenas de simplicidade. Ter livros cientificamente correctos, abandonar essa ideia «iluminada» de que aos pobres Mozart e a Física Quântica são desperdícios e promover formativamente em cada área os conhecimentos dos professores.
É pena que o senhor reitor não nos tenha explicado como resolveria a equação erro/sucesso no domínio da língua e como é que os meios tecnológicos se relacionam para a aquisição das componentes da cultura portuguesa. Infelizmente o senhor reitor que lamenta os professores não conhecerem a literatura, deveria propor nos programas uma atitude de a valorizar não só como pensamento, mas essencialmente como produto cultural de uma sociedade. E se vale a pena os alunos saberem escrever, porque continua o funcionamento da língua com tratamento marginal? Há coisas que nunca devem mudar. É um conforto. Que avaliação se fez da anterior reforma dos programas? Nunca se conhece o objecto e o uso dessa avaliação, de uma forma rigorosa. Continuamos no caminho de uma escola medíocre. A democracia fica sempre bem, mesmo que a razão disciplinada não seja o suporte das acções dos que nos governam.
Poderia o nosso estado literário, científico, histórico, cultural e de cidadania ser diferente?
(1) António Lobo Antunes, «Assobiar no Escuro», in Segundo Livro de Crónicas, pág.131
(2) Jornal Público, entrevista publicada em 09/02/2009
(Imagem - O Douro na sua foz, junto ao Castelo do Queijo)
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