sexta-feira, 31 de julho de 2009

«Ler, Escrever, Estudar, Sentir...»



Foi um dos primeiros textos escritos durante uma das aulas dos últimos três anos e conduz-me às memórias de uma aluna muito especial. Logo no início se compreendeu como ali estava, aqui está um espírito humano de grande beleza. Por estes que ainda fazem a descoberta de novos mundos pela palavra e através dela para exprimir o mundo ficamos sempre maravilhados. Será difícil encontrar um aluno, um jovem e até um adulto que tenha esta sensibilidade e capacidade de querer aprender. Deixo aqui este texto que é uma homenagem às palavras, que aqui procurámos saudar e a ela, uma aluna muito especial.

«Estudar é muito importante para mim. Estudar é aprender. Cada um é livre de querer ou não estudar. Mas se eu não estudasse ainda hoje não saberia escrever nem ler. Ler é tão simples que muitas vezes passa despercebido. Quando não sabia ler e via um filme dizia que no fim passavam «as letras» que é como quem diz a Ficha Técnica. Já não é tão frequente, mas dá para reflectir. Eram simplesmente letras que hoje fazem sentido.

O prazer de ler. Ler um livro. Ler um livro ou um conto é viajar, no tempo, no espaço, em ambas ou apenas para outras dimensões. Sejam elas de um mundo diferente ou apenas uma qualquer casa ao virar da esquina, ao sair da cidade, na serra, numa escola... Há histórias que nos parecem desenrolar-se ali mesmo ao lado. Outras que nos levam. Para mim ler é um prazer indiscutível. Ler uma notícia é estar informado.

Ler e escrever são coisas que para mim são essenciais. A ler distraio-me, aprendo coisas que não sabia. Escrever é como um refúgio. Um sítio para onde vou quando estou triste ou feliz, quando estou baralhada ... É como se um caderno fosse um sítio só meu, um lugar onde só eu posso entrar e para o qual só eu tenho a chave.

A ler costumo reagir às emoções que o texto sugere. Se é triste também eu fico triste, mas mais vontade ainda de continuar e ver como se desenrola. Se tem uma certa graça acabo também a rir. Mas ao mesmo tempo se largo o livro as emoções também ficam para trás.

Cada um é livre de fazer o que quiser e bem entender. Eu gosto mas, há quem não goste. Não entendo. Quer dizer, escrever ainda percebo mas, ler e estudar? Preguiça! Ler é fácil. Ainda me lembro das primeiras vezes que visitei monumentos depois de saber ler...ficava uma data de tempo a ler as indicações, mas li-as todas!

Há livros que nos ensinam coisas importantes. Por exemplo «A Lua de Joana» que nos dá uma lição sobre os ... «maus», talvez não seja a palavra certa, as amigas e as drogas, ou a colecção «Viagens no Tempo» que sob a forma de aventura nos fala na História de Portugal ... «O Detective Maravilhas» que resolve dilemas que surgem numa escola bem actual... e até «O Clube das Chaves» que nos leva à nossa história e cultura... e não sei mais quantos livros que nos fazem aprender.

No entanto nem tudo vem nos livros. Há muita coisa que temos de aprender com o tempo. A saber lidar com situações difíceis, a acabar com discussões e falar com calma... ah... tanta coisa que aprendemos com o dia-a-dia!»

Imagem (Pierre-Auguste Renoir, Rapariga Jovem a Ler,
in http://osilenciodoslivros.blogspot.com)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Uma Última Actividade


Deixamos aqui, já em tempos de férias uma última amostra das actividades desse ano lectivo que passou, o encontro com a escritora Ana Meireles, realizado no dia 17 de Junho.
Foi um momento muito agradável, onde os presentes, professores e alunos tiveram a possibilidade de conhecer uma escritora não muito divulgada nos media, mas detentora de um espírito simples e fascinante.

A partir da leitura do «Aqui há Gato», desdobraram-se histórias de infância, que são para a autora como uma «aspirina contra as dores de cabeça». Reviver na infância as histórias que mais tarde nos podem fortalecer perante as dificuldades ou acontecimentos menos positivos. Foram deixadas algumas questões que a escritora respondeu sempre com graça e sentido de humor.

Ana Meireles soube maravilhar a audiência com as suas histórias de infância, que são tantas vezes um recurso que usa para as narrativas que nos quer contar. Desvendar os nomes das personagens, revelar a curiosidade pelos pormenores da escrita, compreender essa expressão maravilhosa, «o avesso das coisas». Foi sem dúvida uma forma muito fascinante de encerrar o ano lectivo a as actividades ligadas à leitura. Em baixo deixamos algumas imagens da actividade aqui sumariamente descrita.


segunda-feira, 20 de julho de 2009

O menino Que Sonhava Com A Lua


«Era uma vez um menino que passava horas e horas namorando as estrelas. Ele morava muito longe, numa pequena cidade dos estados Unidos e, à noite, quando a Lua cheia brilhava, nos céus da sua terra, o menino ficava imóvel, olhando o enorme disco prateado. Todos os seus colegas conheciam o seu grande sonho e, se alguém zombava dele, o menino, muito sério, afirmava:

- Eu ainda vou até lá, vocês vão ver!

O tempo foi passando e o menino cresceu. Entrou para a força aérea do seu país. Pilotou diversos aviões, esteve numa guerra e, quando voltou, recebeu muitas medalhas e disseram que ele era um herói. Casou-se, teve filhos e continuou a estudar, na tentativa de um dia poder realizar o seu velho sonho.

Vezes sem conta, nas noites de luar, olhando para o alto, o menino, já com algumas mechas de cabelos grisalhos emoldurando um rosto ainda jovem, pensava:
- É .... está longe, mas eu ainda vou até lá!

Algum tempo depois, o mundo acordou com a novidade. Em todos os jornais as manchetes eram as mesmas, a notícia corria de boca em boca: o Homem estava a chegar à Lua.
As televisões e as rádios de todo o planeta estavam sintonizadas para receber, ao vivo, as imagens e o som da realização do grande feito do ser humano. a meta da viagem espacial tripulada. Lá estava a escada do módulo reflectida em todos os ecrãs de televisão. Era o momento decisivo. Pouco a pouco desceu um vulto todo branco, ensaiou os primeiros passos no solo lunar e, finalmente, soltou-se da escada, caminhando pelo chão do satélite da Terra.

Ali, naquele instante histórico, parado, fitando o globo terrestre, não estava o oficial experiente e supertreinado, não estava o cientista nem o astronauta: quem estava ali, com a voz embargada pela emoção, era o menino Neil, Neil Armstrong, o menino que sonhava com a lua


in, Benedito Polch, Experiências em Comunicação e Expressão

domingo, 5 de julho de 2009

Sophia

«Passou um bando de golfinhos. Um corria quase à tona da água. Como sempre que estou a bordo, sinto-me elástica (...) Brilho do sol sobre a água. Mar liso. Navegamos sem um balanço. Mar azul. Céu azul. Ilhas azuis. Ítaca aparece e vai-se desenhando verde até ao mar. Despovoada. Quase sempre.» (1)


Há dias, concretamente quatro, passaram cinco anos sobre a morte física dela. Já aqui deixámos por diferentes motivos as suas palavras e a sua inspiração. Nunca será demais lembrá-la como figura onde a palavra soube resgatar o real numa capacidade de observar, de saber olhar. Perseguir a sabedoria das coisas e criar a vida a partir do «fundamento», da casa branca, do mar azul de espanto, acima das fracturas do tempo.

Em baixo deixamos um pequeno filme (Área de Projecto/Biblioteca) sobre essa viagem nos mares da Grécia, onde Ulisses e tantos outros percorreram pela 1ª vez na História da Humanidade a aventura de procurar a revelação do outro, do que não era conhecido.

(1) Excerto do relato da 1ª Viagem à Grécia de Sophia,
(Espólio que está a ser lentamente divulgado pela família,
in Grandes Livros, RTP2)

...


«O preço pago por esta tecnologia biopolítica é, evidentemente, a mutilação de uma vida mais rica, a diminuição brutal dos possíveis, a restrição do aleatório, do acaso, da impresivibilidade(1)


Durante estes largos dias que aqui estivemos, esta plataforma serviu para apresentar os projectos de uma Biblioteca, as actividades desenvolvidas num agrupamento ao nível da escrita e da leitura, mas também evocar figuras, culturas, pensamentos dos que fazem a história da contemporaneidade. E falámos sempre no plural, pela representatividade que procurámos dar às ideias, aos valores em discussão e porque acreditamos no valor funcional das instituições.

Nunca tínhamos aqui falado sobre a educação e o modo como tem evoluído nos últimos anos. Há evidências que dispensam o mistério das palavras. E havia tanta realidade para afrontar. Resistimos muitos meses. A sanidade mental é um valor que se recomenda a qualquer mortal.

Fui a mais uma acção de formação, dita «seminário» sobre classificação de professores. Puro engano. Classificação não existiu. Todos já sabem classificar o que não sabem ver, o que não pode ser mensurável. Classificar o que se sabe é apenas possível pela ideia de convívio que temos, não do que cada um realmente sabe ou pôde fazer. Mas é isto importante, se a nova escola pretende libertar o indivíduo do peso da civilização, da maçada de o pôr a pensar?

Avancemos. Temos um novo reino de maravilha. Não sabendo classificar, nem o que deve ser classificado, nem como o fazer, recebemos do futuro uma aplicação informática, onde podemos ser tudo. Revelaremos ali como somos modernos.

Apresentaremos limitadamente, mas em grandeza toda a nossa validade como pessoas. Já não somos átomos que se definiam pelo seu saber, pela sua capacidade de concretização. Agora este futuro dá-nos os limites da nossa espantosa grandeza. Já sem memória, sem relação aos outros vivemos na identidade do domínio dos que controlam as relações de poder.

E a isto, numa doutrinação tão higiénica como a demonstração das mais recentes descobertas científicas de qualquer Ciência, há, entre nós, quem se deleite com a maravilha de um novo arco-íris, onde sim iremos ser felizes.

Radiosamente felizes, mesmo que que saibamos que o princípio da classificação que ali se pratica é apenas para desvirtuar o individual, numa ânsia de colectivamente segregar o pensamento e a cultura.

E isto que importa? Poderá importar a uma sociedade que está a ser construída para a dominação obediente construída em formulários que desprezam as pessoas? Poderá importar quando é a anulação da dimensão privada do sujeito, sinónimo de inferiorização, a garantia de um poder que exclui a diversidade de cada um?

(1) José Gil, Em Busca da Identidade - O desnorte

sábado, 4 de julho de 2009

O Decadente Projecto Europeu


A Europa já não é a pátria da afirmação da liberdade capaz de devolver aos cidadões a esperança que os seus antepassados ajudaram a construir. Imaginando-se um bloco económico e aspirando a um sonho irreal de se constituir uns Estados Unidos da América, a Europa abandonou o pragmatismo de defesa dos direitos concretos dos cidadãos e dos indivíduos.

A Europa preocupa-se imenso, infinitamente com o modo como os castores fazem os seus ninhos, como as focas mergulham no Árctico, mas é incapaz de dicutir com os seus cidadãos a realidade concreta, a vida quotidiana de milhões. É incapaz de pensar o modo de concorrer com a emergência de novas economias, apenas soletrando direitos e raramente os afirmando. A Europa não tem dimensão política e trata a História como uma estranha.

Há alguns meses atrás, observámos que perante a invasão russa da Geórgia a Europa «impôs-se» de forma vigorosa, até ao limite em que conseguiu garantir água quente no conforto das suas casas. Os ideais já não são suportáveis neste tempo de economia política, onde o dinheiro e o interesse económico subjugam tudo o resto. A Europa quer criar um estado político do Atlântico aos Urais e ao Mar Negro mas não sabe defender com energia e com diplomacia os que nesses cantos a leste e a sudoeste querem ter direito aos valores europeus.

A crise no Irão vem confirmar esta incapacidade da Europa. As eleições iranianas são um assunto interno do Irão. Os acontecimentos há muito resvalaram para o palco internacional. A Europa deveria, no campo diplomático mostrar o seu descontentamento pela falta de respeito para com os valores da Humanidade. Nem mesmo quando funcionários de uma embaixada estão ameaçados de serem julgados, a Europa é capaz em unanimidade de prostestar com energia, simplesmente retirando os seus embaixadores.

Entretanto a Europa vive uma crise económica profundísima ao nível do crescimento económico e da sua realidade social. Ouvimos alguma ideia, alguma estratégia da actual e futura Comissão para atenuar as dificuldades, para criar oportunidades de desenvolvimento? Um silêncio que soluça apenas as mais ineficazes banalidades do politicamnete correcto.

O que fez o nosso amado presidente da Comissão Europeia em todo este cenário, além de evidenciar a sua preocupação por ser reeleito? Ao desastre do apoio da invasão ao Iraque, não se nota nenhuma atitude ou ideia para com essa missão da Europa, nem na defesa do seu património civilizacional, nem do seu futuro como sociedade de pessoas.

A decadência da Europa é, antes de mais consequência de lideranças medíocres. Fruto da ideia de que o futuro está conquistado pela genialidade das instituições europeias, que dispensam os próprios cidadãos de ter opinião. Os arranjos políticos nos grandes salões não garantem nem a tranquilidade no presente, nem a manutenção do conforto material. Eles dependem de líderes substantivos que a Europa não pretende ter.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Uma Fábula de Verão - Ateliê de Expressões


Uma Fábula de Verão é uma adaptação do livro de Jorge Amado, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá para teatro de fantoches. Este projecto foi dinamizada por dois professores junto de um grupo de alunos, que aproveitando uma hora semanal desenvolveu um projecto muito interessante. Os fantoches foram igualmente criados no seio deste Ateliê.

Juntando a palavra, a cor, o desenho e a representação, Uma Fábula de Verão permitiu desenvolver nos que ali participaram directamente neste projecto e nos que assistiram ao trabalho final, um conjunto de valores como a solidariedade e o intercâmbio de ideias. Aqui ficam algumas imagens deste projecto.