domingo, 5 de julho de 2009

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«O preço pago por esta tecnologia biopolítica é, evidentemente, a mutilação de uma vida mais rica, a diminuição brutal dos possíveis, a restrição do aleatório, do acaso, da impresivibilidade(1)


Durante estes largos dias que aqui estivemos, esta plataforma serviu para apresentar os projectos de uma Biblioteca, as actividades desenvolvidas num agrupamento ao nível da escrita e da leitura, mas também evocar figuras, culturas, pensamentos dos que fazem a história da contemporaneidade. E falámos sempre no plural, pela representatividade que procurámos dar às ideias, aos valores em discussão e porque acreditamos no valor funcional das instituições.

Nunca tínhamos aqui falado sobre a educação e o modo como tem evoluído nos últimos anos. Há evidências que dispensam o mistério das palavras. E havia tanta realidade para afrontar. Resistimos muitos meses. A sanidade mental é um valor que se recomenda a qualquer mortal.

Fui a mais uma acção de formação, dita «seminário» sobre classificação de professores. Puro engano. Classificação não existiu. Todos já sabem classificar o que não sabem ver, o que não pode ser mensurável. Classificar o que se sabe é apenas possível pela ideia de convívio que temos, não do que cada um realmente sabe ou pôde fazer. Mas é isto importante, se a nova escola pretende libertar o indivíduo do peso da civilização, da maçada de o pôr a pensar?

Avancemos. Temos um novo reino de maravilha. Não sabendo classificar, nem o que deve ser classificado, nem como o fazer, recebemos do futuro uma aplicação informática, onde podemos ser tudo. Revelaremos ali como somos modernos.

Apresentaremos limitadamente, mas em grandeza toda a nossa validade como pessoas. Já não somos átomos que se definiam pelo seu saber, pela sua capacidade de concretização. Agora este futuro dá-nos os limites da nossa espantosa grandeza. Já sem memória, sem relação aos outros vivemos na identidade do domínio dos que controlam as relações de poder.

E a isto, numa doutrinação tão higiénica como a demonstração das mais recentes descobertas científicas de qualquer Ciência, há, entre nós, quem se deleite com a maravilha de um novo arco-íris, onde sim iremos ser felizes.

Radiosamente felizes, mesmo que que saibamos que o princípio da classificação que ali se pratica é apenas para desvirtuar o individual, numa ânsia de colectivamente segregar o pensamento e a cultura.

E isto que importa? Poderá importar a uma sociedade que está a ser construída para a dominação obediente construída em formulários que desprezam as pessoas? Poderá importar quando é a anulação da dimensão privada do sujeito, sinónimo de inferiorização, a garantia de um poder que exclui a diversidade de cada um?

(1) José Gil, Em Busca da Identidade - O desnorte

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