«(...) Aquelas aves que tinham
Um memória eterna do teu rosto
E voam sempre dentro do teu sonho
Como se o teu olhar as sustentasse.» (1)
Já não contávamos aqui vir a este espaço de comunicação e de partilha de ideias e de afectos. Já nos tínhamos despedido do blogue, na medida em que outros continuarão no próximo ano lectivo este projecto. Mas, os acontecimentos obrigaram-nos a deixar aqui um testemunho de reconhecimento por um Grande Homem que simboliza muito mais que o humor em Portugal.
Não vamos fazer aqui a biografia de Solnado que hoje, após uma vida completa de emoções nos deixou sozinhos perante a inquietação e admiração de viver. Não vamos descrever todos os seus sucessos, nem o conjunto da sua obra. Falamos mais do homem e da sua grandeza e do seu papel como cidadão.
Poucos, muitos poucos neste País sabem expressar com génio a sua arte e revelar-se verdadeiros mestres dos outros. Ensinar sem que se perceba que nos estão a dar uma lição. Mas uma lição gratuita, feita de sorrisos e abraços. Quem mais neste País soube exprimir o non-sense de um regime, do seu quotidiano, deixando os próprios censores a rir. Quem mais soube transportar para o público a nossa graça individual?
E tudo isto com sensibilidade e humanidade. Quantos homens, não só neste País, mas neste mundo onde vivemos souberam exprimir com delicadeza, com palavras gentis, com sedução pela vida as suas ideias. E logo para que rindo chegássemos ao som de uma qualquer felicidade, ainda que limitada ou circunscrita pelo quotidiano. Foi um caso de grande dávida e porque não dizê-lo de amor.
É um dos raros casos em que até as palavras nos pedem desculpa, pelas suas infinitas limitações. O rosto e o sorriso, a graça e a sedução, a inquietação e a perturbação do real. Qual a palavra para exprimir esta generosidade? Não existem palavras para demonstrar a grandeza, a doçura e o génio feitos simples. E aqui sim, desta vez, para nosso desgosto perdeu-se uma alma insubstituível.
Sendo muito obrigado, tão pouco, aqui ele fica para o homem que nos educou pelo teatro, pela televisão, pela rádio em sessões de ternura. Se a poesia conduziu Sophia à imortalidade, o sorriso com que enfeitiçou as palavras dará a este homem generoso a sua, feita há muito dos dias em que nos encantou de simplicidade.
(1) Sophia, Os Pássaros, in Coral
Imagem, in Arquivo online, Jornal Público, 8 de Agosto de 2009
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