«Era preciso agradecer às flores / Terem guardado em si / Límpida e puramente / Aquela promessa antiga / De uma manhã futura»
(Sophia, No Tempo Dividido, pág. 39)
Sobre as acácias e os alámos. o tempo foi passando. Também em mim, as folhas vão caindo. As cotovias e os tordos voltam aos velhos castanheiros e junto a eles algumas flores persistem, as giestas, jacintos e cravinhos.
Persistem com determinação, juntando-se ao tronco na esperança de resistir a este tempo invernal. Com o tempo passaram muitos sonhos, os que se pensavam concretizáveis com facilidade e grandeza, afinal produto de uma insanável ingenuidade.
Aqueles que se renderiam à minha imaginação e imortalidade, quando pensava que o mundo poderia ser um campo de flores silvestres. Mundo que todos, com a mesma boa vontade quereríamos mudar. Incansáveis e infinitos, a vida parecia uma eterna Primavera à nossa espera. No tempo em que o Outono parecia muito longe, em que alguns dos que caíram no caminho, ainda me davam esse sopro de confiança. No tempo em que o horizonte parecia dominado pelos campos de lírios e jacintos e as nascentes de água corriam sem inquietação todas as manhãs.
De facto o tempo passou e o mundo não é o local tão doce como as ondas matinais do mar azul sugeriam, nem todos o pretendem construir com beleza e liberdade. Das certezas cristalinas à precaridade deste tempo onde a temperança e humildade já fazem pouco sentido. Passou o tempo.
Passou a segurança, dos que entrando na noite escura da morte, já não me podem dar com tanto entusiasmo esse sorriso confiante que se concretizava nos gestos diários.
Mais um ano que se aproxima e na velha casa as sombras do castanheiro já não são tão refrescantes.
Olhar para o castanheiro e recomeçar, saber reconstruir, acreditar ainda e lutar que se pode ser determinado perante a injustiça. Acordar em cada dia para conquistar o canto das cotovias e dos melros e alcançar alguns progressos, ainda que parciais.
Recomeçar junto à velha casa, onde a alfazema já rareia e as janelas perderam a vivacidade de outras manhãs. Contar ainda, com os velhos castanheiros que continuaram a abrigar em todas as Primaveras, os sonhos eternos das cotovias.
Ter, ainda, a energia e determinação para continuar a acreditar que para os homens, «as palavras liberdade, humanidade, justiça reencontrarão aqui e ali o sentido que temos tentado dar-lhes», nas sábias palavras de Yourcenar.
Acreditemos com ela que os homens, pelo menos alguns, usarão a sua vida para a construção «dessa intermitente imortalidade». É um sonho, que mesmo numa distante Primavera parece compensador na véspera da chegada de um novo ano, o de dois mil e nove.
Persistem com determinação, juntando-se ao tronco na esperança de resistir a este tempo invernal. Com o tempo passaram muitos sonhos, os que se pensavam concretizáveis com facilidade e grandeza, afinal produto de uma insanável ingenuidade.
Aqueles que se renderiam à minha imaginação e imortalidade, quando pensava que o mundo poderia ser um campo de flores silvestres. Mundo que todos, com a mesma boa vontade quereríamos mudar. Incansáveis e infinitos, a vida parecia uma eterna Primavera à nossa espera. No tempo em que o Outono parecia muito longe, em que alguns dos que caíram no caminho, ainda me davam esse sopro de confiança. No tempo em que o horizonte parecia dominado pelos campos de lírios e jacintos e as nascentes de água corriam sem inquietação todas as manhãs.
De facto o tempo passou e o mundo não é o local tão doce como as ondas matinais do mar azul sugeriam, nem todos o pretendem construir com beleza e liberdade. Das certezas cristalinas à precaridade deste tempo onde a temperança e humildade já fazem pouco sentido. Passou o tempo.
Passou a segurança, dos que entrando na noite escura da morte, já não me podem dar com tanto entusiasmo esse sorriso confiante que se concretizava nos gestos diários.
Mais um ano que se aproxima e na velha casa as sombras do castanheiro já não são tão refrescantes.
Olhar para o castanheiro e recomeçar, saber reconstruir, acreditar ainda e lutar que se pode ser determinado perante a injustiça. Acordar em cada dia para conquistar o canto das cotovias e dos melros e alcançar alguns progressos, ainda que parciais.
Recomeçar junto à velha casa, onde a alfazema já rareia e as janelas perderam a vivacidade de outras manhãs. Contar ainda, com os velhos castanheiros que continuaram a abrigar em todas as Primaveras, os sonhos eternos das cotovias.
Ter, ainda, a energia e determinação para continuar a acreditar que para os homens, «as palavras liberdade, humanidade, justiça reencontrarão aqui e ali o sentido que temos tentado dar-lhes», nas sábias palavras de Yourcenar.
Acreditemos com ela que os homens, pelo menos alguns, usarão a sua vida para a construção «dessa intermitente imortalidade». É um sonho, que mesmo numa distante Primavera parece compensador na véspera da chegada de um novo ano, o de dois mil e nove.
Saúde, paz e harmonia na concretização das aspirações de cada um para o ano que se aproxima
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