Uma História da Leitura surge como uma reflexão pessoal e histórica abordando hábitos de leitura face ao papel do leitor e à forma como os textos influenciam quem os lê. Manguel, num estilo ziguezagueante tão bem concebido, para quem «ler, quase tanto como respirar, é uma das (...) funções vitais», contagia-nos através dum testemunho referenciado no querer «viver entre os livros», fruto duma infância estigmatizada pelas inúmeras viagens e carência de acompanhamento familiar; entregue a amas via cada livro como «um mundo em si» no qual se procurava refugiar, vindo a quantidade e diversidade de obras lidas a marcar a sua sensibilidade literária e a sua liberdade criativa.
Neste ensaio verificamos existirem traços de uma autobiografia que o autor elabora à medida que, tão habilmente, vai confrontando livros que leu, obras que aprecia particularmente a marcos históricos relacionados com a leitura, bem como a sua evolução ao longo dos séculos. Denota-se, portanto, que o autor, consciente ou insconscientemente, segue o percurso de Santo Agostinho ao ver num livro uma fonte de inspiração, sem o usar como «apoio para o pensamento, nem confiar nele como se confiaria na autoridade de um sábio, mas tirar dele uma ideia, uma frase (...), ligando o todo com reflexões próprias e produzindo, de facto, um novo texto da autoria do leitor.», fazendo desta monografia, para aqueles que de alguma forma se identificam com a leitura, não só um estudo muito concreto do acto de ler, mas também uma obra que apraz possuir por aguçar o apetite pela leitura de tantas outras citadas. Efectuando um amplo percurso ao longo dos séculos o autor lê ao lado de Aristóteles, visita as cortes onde as damas encarnam personagens como forma de obtenção de felicidade, habita locais distantes, naufraga em ilhas desertas, jornadeia por tantos outros lugares e regressa ao século XX, ofertando à sociedade uma obra inacabada, pois efectivamente sobre a leitura ainda não se disse tudo, haverá sempre algo a acrescentar.
Pessoalmente não consigo conceber o mundo sem livros, os meus tempos livres sem obras para ler e, se tivesse a possibilidade seria como Richard de Bury que «coleccionara livros com paixão», que profetizava que quando chegasse o Dia do Juízo e as figuras ditas ilustres de então fossem receber a recompensa pelo seu desempenho o Todo-Poderoso se voltará para São Pedro e dirá, não sem uma certa inveja, quando nos vir chegar com os nossos livros debaixo do braço: «Olha, estes não precisam de recompensa. Nada temos para lhes dar. Eles amaram a leitura.»
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