sábado, 8 de agosto de 2009

Construir uma Vida pelo Sorriso

«(...) Aquelas aves que tinham
Um memória eterna do teu rosto
E voam sempre dentro do teu sonho
Como se o teu olhar as sustentasse.» (1)

Já não contávamos aqui vir a este espaço de comunicação e de partilha de ideias e de afectos. Já nos tínhamos despedido do blogue, na medida em que outros continuarão no próximo ano lectivo este projecto. Mas, os acontecimentos obrigaram-nos a deixar aqui um testemunho de reconhecimento por um Grande Homem que simboliza muito mais que o humor em Portugal.

Não vamos fazer aqui a biografia de Solnado que hoje, após uma vida completa de emoções nos deixou sozinhos perante a inquietação e admiração de viver. Não vamos descrever todos os seus sucessos, nem o conjunto da sua obra. Falamos mais do homem e da sua grandeza e do seu papel como cidadão.

Poucos, muitos poucos neste País sabem expressar com génio a sua arte e revelar-se verdadeiros mestres dos outros. Ensinar sem que se perceba que nos estão a dar uma lição. Mas uma lição gratuita, feita de sorrisos e abraços. Quem mais neste País soube exprimir o non-sense de um regime, do seu quotidiano, deixando os próprios censores a rir. Quem mais soube transportar para o público a nossa graça individual?

E tudo isto com sensibilidade e humanidade. Quantos homens, não só neste País, mas neste mundo onde vivemos souberam exprimir com delicadeza, com palavras gentis, com sedução pela vida as suas ideias. E logo para que rindo chegássemos ao som de uma qualquer felicidade, ainda que limitada ou circunscrita pelo quotidiano. Foi um caso de grande dávida e porque não dizê-lo de amor.

É um dos raros casos em que até as palavras nos pedem desculpa, pelas suas infinitas limitações. O rosto e o sorriso, a graça e a sedução, a inquietação e a perturbação do real. Qual a palavra para exprimir esta generosidade? Não existem palavras para demonstrar a grandeza, a doçura e o génio feitos simples. E aqui sim, desta vez, para nosso desgosto perdeu-se uma alma insubstituível.

Sendo muito obrigado, tão pouco, aqui ele fica para o homem que nos educou pelo teatro, pela televisão, pela rádio em sessões de ternura. Se a poesia conduziu Sophia à imortalidade, o sorriso com que enfeitiçou as palavras dará a este homem generoso a sua, feita há muito dos dias em que nos encantou de simplicidade.

(1) Sophia, Os Pássaros, in Coral
Imagem, in Arquivo online, Jornal Público, 8 de Agosto de 2009

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Último Post ...


Chegados aqui e após muitas mensagens, quatro bloggers que nos seguem há alguns meses, mil quinhentos e qualquer coisa em visitantes deixamos este espaço, onde estivemos nove meses e onde repararam em nós.

Ficamos satisfeitos por termos conseguido comunicar ideias, sugerir pensamentos, protestar contra uma certa banalidade reinante no Reino, nas áreas culturais, sociais e de afirmação da cidadania, apresentar livros, comunicar textos desenvolvidos em determinadas aulas e termos funcionado como ponto de ligação entre diferentes elementos do espaço educativo de uma escola.

As ideias e os projectos que aqui se desenvolveram só foram possíveis ser concretizados pela participação de diferentes elementos do agrupamento e da escola. Estabelecemos com alguns uma relação afectiva que foi essencial para o prazer de aqui ter estado. Não citamos nomes, porque penso isso ser dispensável e pelo risco de esquecermos alguém.

E em primeiro plano é de elementar justiça colocar a equipa que organizou e dinamizou este ano lectivo a biblioteca. Em especial a quem soube conciliar o trabalho e a dedicação com a visão espirituosa no trabalho e na vida, apesar das dificuldades. E claro a quem especialmente no seu trabalho soube e sabe também conciliar a solidariedade e os princípios, sempre com a determinação e a alegria do querer fazer. Citar nomes seria despropositado.

Sobre a qualidade deste projecto existem muitos observadores que o poderão avaliar. Certamente que ficaram planos por concretizar e ideias para aplicar em defesa do conhecimento. É sempre possível fazer melhor e é esse o desafio da próxima equipa da Biblioteca, caso achem interessante dar continuidade a este projecto. Por nós ele valeu bem o esforço e a dedicação.

A terminar gostava de deixar muitas felicidades a todos e que como diz Sophia possamos todos no tempo à frente «construir a partir do fundamento», em dias de liberdade a afirmação de cada um.

O Lado Selvagem (III)


Society (1)

«É um mistério para mim
Estávamos de acordo
Com o que concordámos

Achas que tens de querer mais
Do que precisas

Não descansas
Enquanto não tiveres tudo

A sociedade, a tua louca respiração
Espero que não te sintas só sem mim

Quando se quer mais do que se tem
Pensa-se que é preciso

E quando se pensa mais do que se quer
Os pensamentos sangram

Acho que tenho
Que procurar um espaço maior

Quando se tem mais
Do que se pensa

Precisa-se de mais espaço...»


(1) Letra da Música Society,
in Eddie Vedder, Banda Sonora Into The Wild

O Lado Selvagem (II)


Rise (1)

«O mundo é assim
Nunca se sabe

Onde ter fé e como ela fortalece

Vai sendo mais forte
Ao destruir as más memórias

Vai sendo mais forte
Quando se aprende com os erros

A passagem do tempo é assim
Demasiado veloz para controlar

E de repente
Absorvido por presságios

Vai sendo mais forte
Ao encontrar
A direcção magneticamente

Vai sendo mais forte
Ao fazer melhor»

(1) Letra da Música Rise
in Eddie Vedder, Banda Sonora de Into The Wild

O Lado Selvagem (I)


«Há um enlevamento na costa solitária/há uma sociedade onde ninguém penetra/Junto ao mar profundo, com música no seu rugido: Não amo menos o Homem, mas mais a Natureza» (Lord Byron)


É a nossa última ideia. Apresentar um livro, que foi o modo como iniciámos este projecto e por ele em diversos contornos aqui deixámos as letras e as suas cores.
O Lado Selvagem, tradução para Into The Wild é a história verídica de um jovem americano à procura da sua verdade interior e de uma viagem para nas condições humanas mais primitivas de vida procurar responder sozinho «à rocha cega e surda apenas com a força e o espírito do cérebro e das mãos».

O Lado Selvagem é também uma viagem pelo interior da América, pelos seus quadros naturais, pelas suas paisagens humanas, pela solidão de cidades abandonadas ao sucesso mercantilista, mas também uma viagem aos sonhos de tantos que vivem ou parecem viver à margem de uma sociedade de abundância.

O Lado Selvagem é acima de tudo a viagem de um jovem que procura conhecer os seus fundamentos, aquilo que nos pode fazer sentir grandes, encontrar aquilo que nos pode elevar como seres humanos. A Natureza mais selvagem, entre rios, montanhas céu azul e animais, o que nos pode ensinar, na medida em que não pertencemos nós a esse espaço de encantamento?

É verdade que a viagem de Chris acabou mal. Ao contrário do que se diz nem sempre a sorte protege os audazes e devido a alguns pormenores não controláveis o nosso herói acabou por não resistir às dificuldades. Fica-nos o exemplo.

Into The Wild é um projecto composto por um Livro, um Filme e uma Banda Sonora que nos transmite este desejo pela evasão por um mundo mais equilibrado, mais verdadeiro, em busca dos elementos que nos formam, os átomos universais que moram em nós e no universo. Afinal a possibilidade e a grandeza de cada um se superar na sua própria humanidade.

Deixaremos nos últimos dois post's uma pequena amostra da poesia do livro que é o testemunho de um jovem na busca da felicidade e beleza simples, as que estão mais perto do coração do homem.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Os Caminhos deste Desastre...


Os princípios e o carácter parecem em tantas situações aspectos subjectivos, capazes de serem reclassificados de acordo com as capacidades e estratégias e cada um. Mas afinal verificamos que na organização da sociedade, nos tristes exemplos que a classe política nos vai dando constatamos como uma visão medíocre da cidade se vai arrastando. A possibilidade de fecho do café do Martinho da Arcada, pela concentração de trânsito (cento e cinquenta autocarros por dia) e pela poluição criada é uma infeliz possibilidade.

Uma cidade com um património cultural imensamente rico, pode desenvolver-se com esta falta de ideias? Pode uma cidade sobreviver sem uma gestão adequada dos seus espaços culturais? Estamos a imaginar algo semelhante em Veneza, em Génova ou em Praga?

Algum País digno de um património humanista teria a genial ideia de destruir os livros cujas edições sejam superiores a três anos? Algum Estado digno do seu papel se integraria nesta ideia de barbárie? Tantas bibliotecas carentes de materiais, tantos habitantes deste mundo, na expressão de língua portuguesa, necessitando de informação e nós os ricos do costume dignam-se a este desperdício.

Há atitudes que falam mais da estrutura mental dos que a promovem, do que todos os coros de intenções. Aos que quiserem dar a sua voz contra esta demência, aqui fica o link

Imagem, (Hugo Pratt, Corto Maltese,
in http://opodoslivros.blogspot.com)