quarta-feira, 28 de abril de 2010

"A voz do coração"


Recentemente requisitei, na biblioteca, o livro “A voz do coração”.
Numa primeira abordagem reparei que a capa era apelativa: as imagens deram-me vontade de o ler. A autora também era conhecida: Rosa Lobato Faria.
Esta obra contém sete contos de Natal; embora tenha gostado de todos foi o último que mais me tocou.
Nesse conto, “As lágrimas de Iraní”, a personagem principal é Iraní, uma menina africana que descendia de uma família de feiticeiros. A garota adorava a vida ao ar livre. Poder correr e saltar pela floresta fazia-a feliz. Mas cedo percebeu que ao correr ficava muito cansada. Contou à avó. Decidiram levá-la ao médico e, num determinado dia, Iraní, acompanhada pelos pais, tios e avó, deslocou-se ao hospital da cidade. A longa viagem fez-se de carroça, pelo caminho a avó ensinou-lhe uma oração.
Os médicos verificaram que a menina tinha um problema de coração e aconselharam a família a levá-la até Lisboa, onde poderia ser operada.
A muitos quilómetros de distância, Rosarinho andava na azáfama de preparação da festa natalícia e, de quando em quando, ia à cozinha para petiscar: um sonho, uma filhós, um pouco de mousse de chocolate, uma rabanada…
Tais misturas acabaram por lhe provocar dores de barriga, mas pelos vistos não seria só disso as fortes dores que sentia e que teimavam em não passar. Queixou-se tanto que foi necessário chamar um médico. Segundo o diagnóstico Rosarinho sofria de apendicite e teria de ser internada.
Ao acordar da operação Rosarinho viu que se encontrava numa sala cheia de meninas que, tal como ela, iriam passar o Natal longe das famílias. A seu lado encontrava-se Iraní que recuperava da delicada cirurgia ao coração. A menina estava triste, pensando na família e nas saudades que sentia de sua casa. Só a muito custo conseguia evitar chorar. Sim, porque a avó tinha-a avisado de que as suas lágrimas se transformavam em diamantes e, se a vissem chorar, os brancos gananciosos iriam provocar-lhe o choro para enriquecerem.
Quisera o destino que Iraní e Rosarinho se conhecessem naquelas circunstâncias. Duas meninas de universos tão diferentes que se viriam a tornar amigas.
No dia de Natal Rosarinho recebeu imensas visitas pois toda a família quisera vê-la. Recebeu, igualmente, imensos presentes. Iraní, pelo contrário, não tinha tido a presença da família, nem presentes. Rosarinho, como forma de animar, resolveu então oferecer-lhe as suas prendas, conservando apenas um livro de histórias para ler enquanto a sua amiga estivesse a dormir. Iraní ficou radiante e abraçou a amiga. Não conseguiu conter duas lágrimas de alegria perante a generosidade da amiga. Estas ao rolarem pela sua face transformaram-se em diamantes. Como forma de gratidão resolveu oferecê-los à Rosarinho; afinal, se não tivesse sido tão carinhosa estes diamantes não teriam existido!
Rosarinho guardou preciosamente a oferta, sem contar a quem quer que fosse o sucedido.
Muitos anos mais tarde, já adulta fez com eles uns brincos, que usou para sempre como recordação da sua amiga Iraní que, entretanto, regressara ao seu país.


Daniela Damião
5º A

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