Era uma vez… Não. Não gosto. Está gasto. Há muito, muito tempo… Ficou pior. No tempo em que… Stop! Está cada vez pior. Ora esta, quero escrever uma história, mas não encontro maneira de começar. Acho que me vou ficar pelo velhinho “Era uma vez…”.
Era uma vez há muito, muito tempo, no tempo em que se escreviam cartas em papel aos amigos e não havia Internet, uma borboleta com asas da cor do arco-íris. Não era uma borboleta qualquer! Era uma borboleta grande e bonita, com asas elegantes e coloridas. Era uma borboleta tão especial que quis ir à escola com os meninos. A Dália, assim se chamava a borboleta, decidiu que queria aprender com os humanos. Estava cansada de achar que não sabia nada de nada, nem percebia nada de nada, do mundo que a rodeava. E mesmo assim, a Dália sabia mais do que a maior parte das borboletas: sabia falar como os humanos; ler o que os humanos escreviam e resolver problemas, uma coisa estranha, de uma ciência a que os humanos chamavam “Matemática”.
Um dia, a Dália decidiu ir para a escola. Tinha ouvido os miúdos dizer que era o primeiro dia de aulas. Apanhou o autocarro (que é como quem diz, agarrou-se ao vidro de trás) e saiu na paragem onde saíram os meninos. Era muito cedo. Resolveu conhecer a escola.
Era tudo enormeeeee…. As salas, as cadeiras, as mesas, os quadros, o giz… Bem, quando entrou na biblioteca, sentiu-se minúscula no meio daqueles livros todos tão grandes. Saiu pela janela, mas quando voltou a entrar nem se deu conta de que tinha à sua frente uma professora e… pumba! Chocou contra a mala. Ainda meio tonta foi arrastada até conseguir voltar a voar. Refeita do susto, deu às asas e esvoaçou. A professora, simpática, pegou-lhe com jeitinho e pediu-lhe desculpa, pois não a tinha visto. A Dália, disse que não fazia mal, mas esqueceu-se que os humanos não sabiam que havia borboletas capazes de falar a língua dos homens. A professora assustou-se e Ups! deixou a Dália cair desamparada. “Oh não! Assustei-a!” Pensava a Dália para consigo enquanto dava às asas e subia no ar.
- Não se assuste por favor! Preciso de falar consigo! – exclamou a borboleta.
- Devo estar a sonhar! – disse a professora, esfregando os olhos.
A Dália subiu para a mão da professora e afirmou:
- Não, não está. Eu falo mesmo. E quero vir aprender!
A professora abanou a cabeça, fechou os olhos e voltou a abri-los para se certificar de que não estava a sonhar. Então, levou a borboleta Dália até à casa de banho para que ninguém as visse a conversar.
- Eu quero aprender aqui na escola dos Homens e… - pediu a borboleta num tom muito doce.
- Como se falar fosse pouco, ainda queres vir à escola como os alunos? – interrogou a professora.
-Sim! – respondeu convicta a Dália. - Vá lá, ajude-me!!
- Espera, deixa-me pensar… Pronto, está bem, eu deixo-te ir na minha mala, mas tens de ter cuidado para que ninguém te veja! – explicou a professora.
-Prometo que vou ter cuidado! – disse a borboleta.
A Dália lá encontrou um cantinho na mala da professora. Ainda meio incrédula, sem saber se estava a sonhar ou não, a professora seguiu para a sala de aula.
Tudo correu bem nos três primeiros dias.
Mas, um dia um menino ia entregar a caderneta à professora e tropeçou na mala. A mala da professora virou-se no chão, tendo-se espalhado todo o seu conteúdo, incluindo a coitada da Dália. Meio estonteada ergueu-se e voou, esquecendo-se por completo do facto de ser uma borboleta escondida, na mala de uma professora. Tal foi a distracção que quando se recompôs e endireitou as asas ainda perguntou o que tinha acontecido… A turma ficou estupefacta. A professora não sabia o que dizer. A Dália ficou completamente atrapalhada quando percebeu o que tinha feito.
Mas, um dia um menino ia entregar a caderneta à professora e tropeçou na mala. A mala da professora virou-se no chão, tendo-se espalhado todo o seu conteúdo, incluindo a coitada da Dália. Meio estonteada ergueu-se e voou, esquecendo-se por completo do facto de ser uma borboleta escondida, na mala de uma professora. Tal foi a distracção que quando se recompôs e endireitou as asas ainda perguntou o que tinha acontecido… A turma ficou estupefacta. A professora não sabia o que dizer. A Dália ficou completamente atrapalhada quando percebeu o que tinha feito.
Muitas perguntas e muitas conversas depois, a turma chegou a uma conclusão: vamos ajudar a Dália! Em vez de passar os dias na mala da professora, Dália poderia esconder-se nas mochilas e nos casacos dos meninos da turma.
Chegou o dia de elegerem o delegado. Com os votos empatados entre quatro alunos alguém se lembrou de pedir à Dália para desempatar. A borboleta bem que ficou atrapalhada e disse que não conseguia… mas lá teve que se decidir.
Um dia depois das aulas, houve um problema com dois colegas. A Dália, que se estava a preparar para ir para casa, foi a voar chamar a professora. Aquilo estava a ficar complicado. A briga era feia. Mas tudo se resolveu.
Num outro dia, estava escondida na mochila de um rapaz. O professor fez uma pergunta à qual o aluno não se conseguia responder. Então, sorrateira a Dália voou por baixo da mesa e sussurrou-lhe a resposta.
E assim andava Dália muito contente a aprender: aprendeu línguas diferentes – Inglês e Francês - (“Como são complicados os homens! Não era mais fácil entenderem-se numa só língua?”); Ciências Naturais (como percebia agora as flores!); Ciências Físico-Químicas (ah! Agora sabe o que são sais…), Matemática (tantos números!); Geografia (realmente os homens são muito complicados! Mas que trapalhada de países!); a História (assim lá começou a perceber o passado e o presente dos homens que tanta confusão lhe faziam!); aperfeiçoou e aprendeu mais de Português (até escrevia melhor que alguns meninos); aprendeu a desenhar e a pintar em Educação Visual; aprendeu a construir “coisas” em Educação Tecnológica e até deu cambalhotas em Educação Física…
Um dia em Formação Cívica…
- Professora, podíamos fazer uma peça de teatro no fim do ano… - sugeriram alguns alunos.
- Uma peça de teatro? – questionou a professora. - E sobre o quê?
-Sobre…Sobre?!… Sobre a Dália, como é claro! – responderam em coro os alunos.
Estupefacta a Dália voou para cima da secretária de uma das raparigas que lançou a sugestão:
- Sobre mim?
- Sim, sobre ti! – exclamou a rapariga com um ar muito decidido.
- Mas porquê? – perguntou a Dália intrigada.
- Porque és a nossa borboleta, porque tens uma história gira, porque gostas de aprender e porque gostávamos de contar a tua história aos outros. Percebes? – disseram.
A professora sorriu. Ainda lhe parecia uma coisa de conto de fadas. Ter uma borboleta daquelas na sala de aula não era propriamente vulgar mas… Acabou por acenar que sim, que poderia ser. Trataram de tudo.
No dia da apresentação da peça, a professora subiu ao palco com a borboleta na mão, fingindo que ela estava suspensa e atada a fios de pesca, presos no tecto. Apesar de ser uma borboleta especial, era preferível manter o segredo. A Dália não falava, apenas se mexia e eles faziam o resto.
No fim do teatro, agradeceram os aplausos e resolveram dirigir-se até uma sala de aulas.
- Dália, para o ano vens? – interrogaram-na.
- Sim! Para o ano cá estarei a aprender matérias diferentes! – respondeu a borboleta muito entusiasmada. Depois, bateu as asas e voou.
Inês Olaia, 8º B
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