quinta-feira, 25 de junho de 2009

Entre Sorrisos...


Olho para ele e descubro-lhe uma simpatia nos seus olhos embaraçados de sorriso. Revela-se muito educado, sempre disponível no cumprimento quando o esncontramos. No último ano cresceu, tornou-se mais magro, mais alto. Desloca-se em passos mais curtos, menos alegres, menos enérgicos. Parece já não ter pressa, como se adivinhasse o seu caminho.

Um caminho difícil perante a hesitação dos adultos, o riso e a malandrice parecem condenados às fronteiras de um quotidiano pouco tranquilo. É ainda um jovem, uma criança, mas já evoluiu, tornando-se naquilo que na escola sempre foi. E neste abandono permanece quase o mesmo. É um aluno desinteressado e preguiçoso. A escola não o interessa, não é para ele. Uma espécie de clube ao qual ele não consegue ter acesso. E, no entanto é imensamente educado e retribui-nos regularmente com um sorriso.

E é isto que nos angustia. Um aluno simpático, acolhedor humanamente, mas insensível às linhas, aos cheiros do mar, ao sabor da palavra, à descoberta de novos continentes. Como chegámos aqui e como sair daqui? As receitas mais óbvias não resultam. Se o presente não o interessa, o futuro é uma indiferença genética. Considera-se fora do tempo e os seus dias são feitos de certezas, num presente onde só cabem os dias.

Entre um passado repetido de insucesso e um futuro que não existe, o que faremos entretanto no presente? A escola é irreal. A luz dos sábios, dos pensadores não chega. É ineficiente. Os programas aspiram a pouca realidade e depois há a família. Transportam consigo mais receios que livros, mais desgostos que cadernos, mais incompreensões que vontades. Como trazê-los à luz do Tempo, da civilização do conhecimento? Estão cansados desta prisão e transportam com eles já as linhas dessa fuga.

E aqui estamos numa sociedade que quer duvidar de todos, que pretende colocar em formulários as certezas do saber, o esquecimento dos outros e o carácter como grandeza mensurável. Neste labirinto, aquele esquecido sorriso parece a maior perda, onde também nós fomos esquecendo do valor institucional da escola.

Valor ausente que se entretem no santuário da tecnologia a esquecer a humanidade de cada um, as suas próprias dificuldades, afirmando uma sociedade de «técnicos», de «funcionários» do virtual. Afinal o que faz a escola, o que fazemos nós, a sociedade e o Estado para organizar a sabedoria, a difícil sabedoria, num tempo em que o esforço, é uma arqueologia já sem substância.

Temos em alternativa, a satisfação garantida da ubiquidade, o prazer da facilidade, uma reflexão esquecida do coração. Parecendo muito, é uma ninharia, mesmo para aquele sorriso envergonhado de asas flutuantes...

(Imagem, Mafalda, A Contestatária)

(Pensando naquele aluno e ainda com o livro de Daniel Pennac às voltas na imaginação)

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